Ficha de Património Imaterial

  • N.º de inventário: INPCI_UNESCO_2011_002
  • Domínio: Expressões artísticas e manifestações de carácter performativo
  • Denominação: Fado
  • Contexto territorial:
    Local: Lisboa
    País: Portugal
  • Caracterização síntese:
    O Fado constitui um género performativo que integra música e poesia e que se desenvolveu em Lisboa no segundo quartel do século XIX, como resultado de uma síntese multicultural que envolve danças cantadas afro-brasileiras, recém-chegadas à Europa, bem como uma herança de géneros musicais e coreográficos locais, tradições musicais provenientes de áreas rurais, através de vagas sucessivas de movimentos migratórios internos, assim como de padrões de canções urbanas cosmopolitas de inícios do século XIX. Originalmente cultivada nos bairros das classes baixas da cidade, expandiu-se gradualmente para outros contextos geográficos e sociais. É amplamente reconhecido pela maioria dos habitantes de Lisboa como parte significativa do seu património cultural, refletindo, através das suas práticas e representações, o processo de constituição da cidade moderna ao longo dos últimos dois séculos. No século XX, o Fado tornou-se o género de canção urbana mais popular em Portugal e é reconhecido pela maioria das comunidades portuguesas como símbolo da identidade cultural nacional. A sua difusão, através das comunidades portuguesas emigradas pela Europa e pelo continente americano e, mais recentemente, através do circuito das Músicas do Mundo, contribuiu para reforçar esta mesma perceção do Fado como símbolo da identidade portuguesa, conduzindo também a um crescente processo de intercâmbio cultural envolvendo outros géneros musicais.

    A manifestação "Fado" foi inscrita pela UNESCO na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade em 2011. Segundo o estabelecido pela Lei de Bases do Património Cultural, os bens culturais incluídos na lista do património mundial integram de imediato a lista de bens culturais com interesse nacional, pelo que fica esta manifestação automaticamente associada ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.

  • Caracterização desenvolvida:
    O fado é um tipo de canção geralmente executada por uma voz solística, masculina ou feminina, acompanhada tradicionalmente por uma guitarra portuguesa e uma guitarra acústica, ambas de corda, embora nas últimas décadas este acompanhamento instrumental tenha sido frequentemente alargado a duas guitarras portuguesas, uma guitarra e um baixo (ou contrabaixo). A guitarra portuguesa, com doze cordas de arame, única em Portugal, é utilizada sobretudo para o acompanhamento da voz, em associação com uma guitarra acústica, mas possui também um extenso repertório solista. O género é baseado numa prática amadora generalizada da qual emergem a maioria de seus praticantes profissionais, mas há uma interação permanente entre esses dois círculos. Os jovens intérpretes, tanto cantores como músicos, vêm habitualmente de uma formação informal, transmitida oralmente, que decorre nos espaços tradicionais de atuação (associações de bairro e casas de fado), e muitas vezes em gerações sucessivas nas mesmas famílias. As aulas informais dadas por músicos e intérpretes mais velhos e respeitados são um elemento chave neste processo de transmissão e reprodução.
    O fado desenvolveu-se em Lisboa desde o segundo quartel do século XIX e desde então é amplamente reconhecido pela maioria dos lisboetas como uma parte significativa do património cultural da cidade, reflectindo, através das suas práticas e representações, o processo de constituição da cidade moderna e sua realidade contemporânea. A história do Fado evoluiu com o contributo de comunidades, grupos e indivíduos que o transmitiram de geração em geração, e que estiveram continuamente envolvidos na sua produção e reconstituição no seu enquadramento histórico e social. Hoje em dia o Fado é ainda um símbolo de identidade que confere um sentimento de pertença e continuidade a todas as pessoas e associações envolvidas no género: cantores, músicos, compositores, profissionais e amadores, bem como a maioria dos membros das comunidades em que é praticado e recebido.
    Dos anos 1930 ao início dos anos 60 o Fado conheceu vários grandes intérpretes que redefiniram o seu repertório e a sua prática performativa como Alfredo Marceneiro, Ercília Costa, Berta Cardoso, Hermínia Silva, Maria Teresa de Noronha, Lucília do Carmo, Carlos Ramos e Fernando Farinha. A trajetória internacional de Amália Rodrigues a partir do início dos anos 1950 e, posteriormente, a de Carlos do Carmo atraiu um público mundial para o género. Esses e outros profissionais conceituados continuam a ser as principais referências deste repertório e prática performativa para os artistas mais jovens. Nas últimas duas décadas, o Fado tem dado mostras de uma vitalidade cada vez maior, com a emergência de um número significativo de jovens cantores, instrumentistas, compositores e poetas todos os anos. O fado é uma tradição essencialmente oral e, mesmo quando começou a ser escrita, a partitura notada só podia representar parcialmente a considerável quantidade de improvisação que continua a caracterizar a sua prática performativa nos dias de hoje. Muito do repertório atual é baseado num número limitado de melodias tradicionais que permaneceram inalteradas ao longo de grande parte do século 20 e ainda são consideradas o cerne do género, mesmo que sejam objeto de uma prática performativa sempre renovada. No entanto, o repertório é constantemente ampliado por novas melodias e poemas. Atualmente assiste-se a um intenso processo de interação multicultural com outras tradições musicais, reafirmando uma constante reformulação da identidade cultural das comunidades em que é praticado.
  • Contexto transmissão:
    Estado de transmissão activo
  • Fundamentação do Processo :
Direção-Geral do Património Cultural Secretário de Estado da Cultura
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