Ficha de Património Imaterial

  • N.º de inventário: INPCI_2021_006
  • Domínio: Práticas sociais, rituais e eventos festivos
  • Categoria: Festividades cíclicas
  • Denominação: Festa das Rosas de Vila Franca (Viana do Castelo)
  • Outras denominações: Romaria de Nossa Senhora do Rosário
  • Contexto tipológico: A Festa das Rosas enquadra-se nos rituais cíclicos que festejam a renovação da natureza nos inícios da primavera desde tempos imemoriais, e nas manifestações de carácter religioso que se realizavam na Ribeira Lima e que utilizavam as flores para a celebrar pelo menos desde o primeiro quartel do século XVII. O emprego da mordomia como efetivação da chegada à idade adulta coloca a Festa das Rosas, também, dentro dos ritos de passagem.
  • Contexto social:
    Comunidade(s): Comunidade de Vila Franca
    Grupo(s): Comissão de Festas; Comissão Fabriqueira; Confraria da Senhora do Rosário; Mordomas da Senhora do Rosário; "Bordadores" e respetivas equipas; "Armadoras" do remate do cesto
    Indivíduo(s): José Luís Esteves do Couto; Adolfo Azevedo; Dinis Pereira; Fernando Matos; Custódio Castro; José da Cruz; Carlos Rocha; Álvaro Liquito; Augusto Ferreira; Vítor Vieira; Manuel Costa; José Avelino Matos; José Ferreira Forte; Paula Costa; Gorete Alves; Maria da Agonia Barbosa; Sandra Portela Alves; Armando Fernandes; João Barros; José Nogueira; Floriano Lima; Emídio Pequeno; Ilídio Cerqueira; Augusto Fonte; Gilberta Pita; Aida Matos; Fernanda Valença; Raquel Barrosa; Marta Maciel; Conceição Pereira; Maria de Jesus Costa; Emília Torres
  • Contexto territorial:
    Local: Povoação de Vila Franca, Viana do Castelo
    Freguesia: Vila Franca
    Concelho: Viana do Castelo
    Distrito: Viana do Castelo
    País: Portugal
    NUTS: Portugal \ Continente \ Norte \ Minho-Lima
  • Contexto temporal:
    Periodicidade: A Festa das Rosas é celebrada anualmente
    Data(s): A Festa das Rosas é realizada no segundo fim de semana de maio
  • Caracterização síntese:
    A Festa das Rosas é uma manifestação de cariz religioso que decorre no segundo fim de semana de maio na freguesia de Vila Franca, concelho de Viana do Castelo, que envolve toda a sua população numa celebração do ciclo de início da primavera e de passagem das raparigas à idade adulta recorrendo, para isso, ao culto da Senhora do Rosário, efetivado com o transporte, à cabeça, de pesados objetos de arte floral comummente denominados por "cestos floridos", elaborados com o recurso de toda a sorte de matérias vegetais. Com raízes que se perdem no tempo, mas documentada pelo menos desde 1622, a entrega de flores à "Senhora das Rosas" (Senhora do Rosário), pelas mordomas que completam dezanove anos até ao dia da festa, impõe a toda a comunidade da aldeia, no decorrer do ano, um trabalho constante que culmina numa grande romaria.
  • Caracterização desenvolvida:
    A Festa das Rosas é uma romaria celebrada, anualmente, no primeiro fim-de semana de maio, na freguesia de Vila Franca, concelho de Viana do Castelo. Tendo por maior propósito o culto à Senhora do Rosário (Senhora das Rosas), esta manifestação envolve a população da aldeia numa celebração do ciclo de início da primavera e de passagem das raparigas à idade adulta em regime de mordomia. O ritual mais importante, cuja origem é difícil de traçar no tempo, envolve a oferenda à Virgem de complexos objetos de arte floral conhecidos como “cestos floridos”. A primeira referência documentada é uma obrigação estatutária da Confraria do Rosário de 1622 – às moças que completassem dezanove anos até à data da festa, impunha-se a oferta de flores à Senhora. Herdeira e conhecedora da sua rica história, a comunidade da povoação entrega-se, por isso, no decorrer do tempo que medeia entre uma romaria que acaba e a próxima, a um trabalho constante que culmina numa celebração de cinco dias.

    ORGANIZAÇÃO E PREPARAÇÃO: O início da preparação da festa do ano seguinte pode decorrer ainda durante os preparativos do ano corrente. Nos últimos anos, temos assistido a uma preocupação de nomear o Tesoureiro e a Comissão de Festas para a romaria seguinte ainda durante os preparativos. A preocupação é natural, pois sob o Tesoureiro recai a maior parte da responsabilidade da organização dos festejos seculares, como se explanará adiante.

    As mordomas que completam dezanove anos até à data da festa seguinte costumam ser anunciadas pelo pároco, durante a missa, por volta do mês de outubro, mediante consulta dos registos de batismo e da Confraria da Senhora do Rosário. A Paróquia de São Miguel de Vila Franca, sob a égide do Pároco, presidente da Comissão Fabriqueira, organiza as celebrações religiosas, em articulação com a Confraria da Senhora do Rosário e a Comissão de Festas. A data de outubro não é aleatória: em tempos idos, correspondia à época das colheitas, e o anúncio era associado aos peditórios mais importantes (PAÇO: 1932). No decorrer do ano, são organizados vários eventos na tentativa de recolha de donativos que ajudem a suportar o custo elevado da organização da festa: as mordomas acompanham o compasso pascal, procedendo a um peditório; são leiloadas oferendas de produtos hortícolas, alimentos de fabrico caseiro, madeira, gado, &c., e também se organizam jantares para toda a comunidade participar.

    O TESOUREIRO: Até 2014, recaía na figura do Tesoureiro a responsabilidade de organizar a equipa da Comissão de Festas e funcionar, para todos os efeitos, como o porta-voz e figura mor da organização. Todavia, a maior preocupação era a gestão associada ao orçamento bastante elevado necessário para efetivar o programa das festas. O orçamento, que não tem alterado substancialmente ao longo da última década, ronda os cinquenta a setenta mil euros – daí que a escolha do Tesoureiro sempre foi matéria sensível, e a pessoa que aceitava o cargo tinha de ser reconhecida por toda a comunidade como pessoa idónea, responsável, séria e trabalhadora. A partir de 2014, todavia, as novas gerações chamaram a si a organização da festa e, abolindo hierarquias, estipularam um regime de tomada de decisões equitativo, passando todas as funções do antigo Tesoureiro a ser divididas entre todos os elementos da Comissão de Festas. Isto não impede, no entanto, que, num futuro próximo, a figura do Tesoureiro volte a ser estabelecida.

    A COMISSÃO DE FESTAS: A Comissão de Festas constitui-se por um grupo de pessoas próximas entre si por amizade ou (re)conhecimento que tem por tarefa organizar toda a parte secular dos festejos da romaria. Não há, propriamente, uma função estipulada para cada elemento, pois as tarefas vão sendo distribuídas entre todos no decurso do ano. Entre os vários trabalhos necessários, estão a angariação de fundos e patrocínios e a contratação e gestão dos mais variados atores que preenchem os dias de festa: iluminações e montagem dos arcos e outras ornamentações de festa dos caminhos e da fachada da igreja; animação musical (bandas filarmónicas e de baile); distribuição de feirantes, divertimentos populares e de estabelecimentos de alimentação e bebidas pelo espaço disponível, &c.

    A CONFRARIA DA SENHORA DO ROSÁRIO: Durante largos anos, a Confraria da Senhora do Rosário delegava na Comissão de Festas o papel de organizar a componente religiosa da romaria. No entanto, nos últimos anos, esse papel voltou à sua alçada. A Confraria consulta o registo de batismos da paróquia e verifica quais os rapazes e as raparigas que, até ao dia da romaria, completem dezanove anos de idade.

    AS MORDOMAS: Consultada pela Comissão de Festas e pela Confraria, a mordoma decide se aceita cumprir o seu papel no ano seguinte. A decisão não é fácil e tem de ser resolvida em conjunto com os seus familiares, pois não só a feitura do cesto envolve sacrifícios físicos e financeiros, como também um certo grau de exposição perante toda a comunidade. Além disso, exige também o pedido de favores e grandes responsabilidades de gestão ou até de segurança, no caso das quantidades enormes de ouro emprestado para trajar. Todavia, foi o esforço financeiro que sempre pesou mais. Hodiernamente, a feitura de um cesto pode levar uma família a uma despesa que ronda os mil e quinhentos euros; despesas essas aplicadas sobretudo na aquisição de flores e alimentação para a equipa de “bordadores”. Esta importante questão relegou muitas raparigas para o papel secundário de «ajudantes» das mordomas que tinham mais posses para «levar cesto». Muitas raparigas consideram o dia da romaria o dia mais feliz das suas vidas, e o facto de entregar o cesto à Virgem do Rosário uma experiência única, daí que a alegria de o poder concretizar funciona (e sempre funcionou), também, como um fator de uma certa distinção social. Muitas mulheres da freguesia têm por maior lamento o facto de não terem conseguido, devido a fatores de ordem económica, física ou outros, «levar cesto».

    Nos dias que correm, a maioria das mordomas frequenta já o ensino universitário e não podiam estar mais longe das gerações anteriores em termos de preparação física e fervor religioso. Este último tem vindo a perder preponderância, algumas mordomas admitindo até que só o fazem por «amor à tradição» e à terra, e não pelo culto à Senhora do Rosário. Admitindo uma laicização cada vez mais presente na comunidade, não deixa de ser curioso o reforço (ou regresso?) do ato de passagem à idade adulta, da prova de esforço físico perante a aldeia e da noção contemporânea de preservação de um património comum que se não quer deixar desaparecer.

    As mordomas do nosso tempo sentem a necessidade de treinar tanto o peso como o equilíbrio, para não correrem o risco de deixar cair o cesto no dia da romaria. Idealmente, este treino é feito com pedras e/ou água dentro de um «gigo» ou «canório» (selha, giga) de plástico e iniciado cerca de três meses antes. Não raras vezes, os primeiros dias de maio são ventosos no Alto Minho, sendo que a capacidade de equilíbrio à cabeça é uma das grandes preocupações; assim como o vexame perante a comunidade de deixar cair o cesto. Embora seja raro acontecer, é um receio sempre presente.

    OS CESTOS FLORIDOS E O RITUAL DE TRANSPORTE À CABEÇA: Os “cestos floridos” têm por base um cesto de vime artesanal antigo sobre o qual é levantada uma estrutura tronco-cónica invertida, ligeiramente bojuda, e maioritariamente composta, e finamente decorada, com toda a sorte de matérias vegetais, especialmente flores e folhas. O bojo é coberto de representações de monumentos, figuras públicas, familiares, ou outra imagética do gosto pessoal da mordoma. Esta técnica é designada por «bordar» e consiste na aplicação, com alfinetes, das flores e folhas sobre a superfície do bojo. O seu peso varia, em média, entre os 40 e os 60 quilos e a sua altura ronda os 150 cm.

    Por norma, as famílias das mordomas produzem seis a oito cestos em cada ano, sendo que alguns deles também podem ser oferendados por mulheres mais velhas que cumprem promessa pessoal à Senhora das Rosas. Para conseguirem transportar os cestos num percurso de cerca de 1300 m. (mil e trezentos metros) durante o cortejo – e também a distância entre a sua casa e o ponto de partida –, as mordomas recorrem a «ajudantes», amigas mais velhas que já foram mordomas e têm mais experiência no transporte dos cestos. Algumas das «ajudantes» são recorrentemente requisitadas e reconhecidas pela sua desenvoltura física no «levar o cesto». Durante o trajeto, há, a espaços, diversas pausas onde a mordoma, ou a «ajudante», dão uma volta completa sobre si mesmas, de forma, não só, a dar a oportunidade ao público de visualizar todos os motivos do cesto, como também numa demonstração de força física e sacrifício. Na passagem do cesto entre as mordomas e as «ajudantes» auxiliam os “bordadores” e os homens da sua equipa que trabalharam na sua confeção.

    A CONFEÇÃO DO CESTO, OS BORDADORES E AS SUAS EQUIPAS: As equipas são convidadas, por vezes com a antecedência de anos, para fazer o cesto. Geralmente, as famílias ligam-se ao “bordador” por laços de amizade, ou então por acharem o seu trabalho tão primoroso que desejam a sua «arte» plasmada no cesto das suas filhas.

    A feitura de um cesto é um trabalho moroso. Ao “bordador” compete, por isso, o trabalho de orientar a sua equipa e a mordoma, mais a sua família, na execução da empreita. O “bordador” é visto pela aldeia como o detentor da arte de melhor escolher as flores, de as preparar e, através da sua aplicação com alfinetes, representar, com o máximo detalhe, os desenhos pretendidos pela mordoma na superfície do cesto. Pode acontecer ser o “bordador” a propor à mordoma os desenhos que ele ache poderem retirar o máximo da sua técnica; mas esta opção é hoje em dia rara, sobretudo porque, dada a evolução técnica, praticamente qualquer desenho é passível de ser composto por flores. Daí que seja normal vermos, nos últimos anos, evocações a temas dos estudos académicos das mordomas, figuras históricas ou literárias da sua predileção, obras-de-arte, &c. A identificação do nome da mordoma é sempre destacada no bojo, usualmente numa cartela, pergaminho, cabeçalho ou rodapé. Para evitar que os motivos se repitam – facto que acontecia no passado –, os “bordadores” reúnem, ou comunicam entre si, para se certificarem de que não haverá temáticas semelhantes representadas.

    A recolha de flores, botões, folhas e toda a espécie de materiais vegetais pode iniciar-se com anos de antecedência. Cada “bordador” tem segredos para obter padrões e cores que não revelam; como, por exemplo, formas de preservar certos tipos de flores com a sua cor natural durante muito tempo. Certas espécies são colhidas nos campos sob a sua orientação, excetuando as mais usadas, como, por exemplo, o polígono-do-jardim (Polygonum capitatum Buch.-Ham. ex D.Don). Estas plantas são recolhidas com pouco critério, dada a necessidade de quantidades abundantes. Já para outras, pode ser necessário deter o conhecimento da parte que mais interessa, como, por exemplo, fazer o corte ideal no caule ou na folha específica, descartando o resto. Este conhecimento é detido, em maior ou menor grau, por quase todas as famílias da aldeia.

    O cesto é executado num espaço generoso que é reservado na casa da mordoma, ou, à falta dele, na casa de um familiar. Normalmente usa-se uma ampla divisão coberta, como os cobertos agrícolas, sendo, no entanto, mais comum nos dias de hoje a utilização de garagens de automóveis.

    A equipa começa por, com uma semana de antecedência, montar a estrutura do cesto num cesto de vime antigo (balaio), normalmente emprestado e reputado por ser de boa feitura e equilíbrio. Até há poucas décadas atrás, a estrutura interna era conseguida pelo emparelhamento de molhos pequenos de “cerúdia” (embude, prego-do-diabo ou rabaça – a palavra utilizada em Vila Franca, «cerúdia», ou «ceruda», é provavelmente uma corruptela de longa data de «cicuta», espécie muitas vezes confundida por vários autores devido às suas características semelhantes de extrema toxicidade. Este estudo identificou a planta como sendo, no entanto, o embude: Oenanthe crocata L.) ou de trevo-encarnado (Trifolium incarnatum L.), alternado por duas cercaduras fortes de buxo (Buxus sempervivens L.), que delimitavam o bojo. A inovação para o poliestireno expandido, vulgo “esferovite” (vide 9.), permite que esta fase se processe hoje de forma mais rápida e controlada. No entanto, há que preencher, ainda assim, o fundo do cesto com um peso substancial, de forma a garantir o equilíbrio de toda a peça. Devido a este motivo, o peso de um cesto completo ainda ascende, nos dias que correm, a uns impressionantes quarenta e cinco a cinquenta e cinco quilos. A introdução do “esferovite” não quer necessariamente dizer que se tenha perdido o conhecimento dos «cestos verdadeiros» feito com o interior em cerúdia (que chegavam a alcançar o peso de sessenta e cinco quilos!) apenas que eles não têm sido utilizados nos últimos anos. Pode dar-se o caso de voltarem a ser utilizados nos próximos tempos por uma mordoma, ou mulher em promessa, que assim o deseje.

    Uma vez que a forma composta seja do agrado do “bordador”, inicia-se o processo de bordar. O fundo para os desenhos é conseguido mediante a aplicação de «folhelho» ou «corola» (brácteas involucrais) da espiga de milho (Zea mays L.) sob papel vegetal; após o qual são, hoje em dia, colocadas fotocópias ampliadas dos motivos, que vão sendo retiradas à medida que a composição da representação em vários materiais vegetais alfinetados vai avançando. A Comissão de Festas contribui com a distribuição de sacos de cinco quilos de alfinetes metálicos pequenos e finos. Até à introdução dos alfinetes metálicos – conseguida por engenho de um “bordador” que começou a aproveitar os alfinetes caídos dos tecidos dos féretros durante as cerimónias fúnebres –, o material que se usava para prender as flores, os botões e as folhas ao bojo era a «pruma» ou «gravalha» (agulhas) do pinheiro-manso (Pinus Pinea L.). Cada cesto requer entre três quilos e meio a cinco quilos de alfinetes, o que equivale a uma quantia próxima das oitenta a cem mil unidades. É visão comum, dentro dos cobertos ou garagens vila-franquenses, nos dias que antecedem a Festa das Rosas, depararmo-nos com autênticas linhas de produção: grupos de mulheres e homens que cortam folhas e botões de flores ou arrancam pétalas e ramos; grupos de mulheres e homens dobrados sobre mesas, trespassando os mesmos com alfinetes; responsáveis pela alimentação e pela bebida a correr de um lado para o outro; a equipa do “bordador” e os familiares mais habilidosos da mordoma compondo os desenhos; e até pessoas a dormir, exaustas, recuperando forças para voltarem ao trabalho no cesto noite dentro... Em ambiente de festa, o “bordador” e a sua equipa vão gerindo o tempo. A circunstância de festa e boa-disposição geralmente faz com que o trabalho quase sempre se atrase e se prolongue até à madrugada do dia do cortejo. Nas últimas décadas, tem sido tradição a Comissão de Festas entregar a cada casa que «faz cesto» uma pequena quantidade de foguetes para serem lançados quando termina a confeção do cesto. Isto tem dado azo a episódios de grande humor, quer seja pelas equipas de “bordadores” que tentam colocar pressão nas outras equipas para terminarem rapidamente, quer seja em equipas que lançam os foguetes quase em cima da hora do cesto ter de comparecer para o cortejo.

    O último trabalho dos “bordadores” e da sua equipa é no sábado e no domingo, aquando do cortejo e da procissão, respetivamente, onde cumprem a função de auxiliar as mordomas e as «ajudantes» na passagem do cesto sempre que as forças falham e sentem a necessidade de se revezarem. Nessa altura, o “bordador”, mais três elementos da sua equipa, sempre homens, levantam o cesto com os braços no ar, em arco, possibilitando a passagem da mordoma ou da «ajudante» por baixo, de forma a facilitar a manobra. A semana que antecede: É frequente vermos, nos dias que antecedem a festa, grupos de concertinas a entrarem nas casas onde se estão a preparar os cestos para dar ânimo às famílias. A feitura do cesto é mantida em grande segredo, de forma a só revelar o cesto aos olhos da comunidade, e aos forasteiros, no dia do cortejo. O trabalho é totalmente executado por vila-franquenses, muito embora sejam por vezes requeridos familiares ou amigos de outras proveniências para ajudarem ao esforço; ou, simplesmente, porque o ambiente de festa e convivência é tão agradável que é impossível resistir ao convite.

    Embora a festa seja organizada durante todo o ano, é na semana anterior à sua celebração que a aldeia entra num frenesim e numa mobilização quase total, seja direta ou indiretamente. A feitura dos cestos; a limpeza e decoração dos caminhos; a colheita de uma enorme quantidade de flores; o arranjo floral dos retábulos da igreja paroquial e das campas do cemitério; a montagem de tascas e de divertimentos, tudo concorre para uma participação quase total da comunidade.

    AS CELEBRAÇÕES: A celebração da Festa das Rosas inicia-se na primeira sexta-feira de maio e estende-se até segunda-feira. Sábado e domingo constituem os dias mais importantes, devido ao facto de se efetuarem o «cortejo etnográfico» e a procissão, respetivamente, nos quais desfilam as mordomas, que transportam, à cabeça, os seus cestos floridos.

    A sexta-feira de festa abre, geralmente, com um arraial noturno e termina num fogo de artifício. É uma noite quase de anúncio aos dias seguintes. À semelhança de qualquer romaria alto-minhota, o som dos foguetes, as luzes e a música lembram também às populações das aldeias vizinhas que devem acorrer à festa.

    O sábado inicia-se geralmente com salva-de-morteiros e receção às bandas filarmónicas – elementos historicamente importantes e pela qual a festa sempre se reputou por contratar as melhores – e, durante a tarde, um cortejo etnográfico onde são mostrados, pela primeira vez, os cestos floridos. A ordem dos cestos no cortejo chegou a ser motivo de muita discussão nas primeiras décadas, até que foi resolvida com a decisão do Padre Quesado de respeitar o percurso do compasso pascal; isto é, a primeira casa de mordoma a ser visitada pelo compasso no dia de Páscoa é o primeiro cesto a sair no cortejo, e assim sucessivamente.

    No final do cortejo etnográfico tem lugar uma missa onde são ofertados à Senhora do Rosário os cestos das mordomas e das mulheres que cumprem promessa. O sábado fecha, usualmente, com arraial noturno e fogo de artifício.

    O domingo inicia-se novamente com salva de morteiros, receção às bandas filarmónicas e missa onde tem lugar a consagração das mordomas e a oferta às mesmas do Rosário da Senhora. Pelo fim da tarde sai uma procissão religiosa onde desfilam novamente as mordomas com os cestos. O dia fecha com arraial noturno e fogo de artifício.

    Na segunda-feira volta a repetir-se uma pequena procissão onde participam as mordomas com os seus cestos, mas desta vez em honra do padroeiro da paróquia, São Miguel. No final da eucaristia que se segue à procissão, as mordomas tiram fotografias no altar sozinhas, com as «ajudantes» e com a família, após as quais permitem a outras mulheres da aldeia recordar a sensação de pegar num cesto ou verificar se ainda possuem destreza física para tal. É também o momento em que as mordomas do ano seguinte podem testar a sensação de transporte do cesto. A igreja apresenta pois, neste final de tarde, uma visão caótica de vários cestos a serem transportados simultaneamente num espaço que é deveras exíguo, dando origem a um dos momentos mais intensos da festa, onde a partilha de experiências é sobretudo para os locais e dos locais.

    O grande ambiente festivo que se cria na aldeia durante estes dias faz com que Vila Franca seja visitada por milhares de pessoas (a maior parte das quais chega em excursões de autocarro dos mais variados pontos do país) curiosas por ver o cortejo ou a procissão, os cestos expostos na igreja paroquial e os arranjos de flores dos retábulos e do cemitério.

    A FESTA DAS CRIANÇAS: No domingo seguinte realiza-se, ainda, a festa das crianças, onde as meninas imitam as mordomas e carregam, também, com muito garbo, os seus pequenos cestos até à igreja paroquial, com motivos do seu imaginário. Esta festa tem vindo a ser celebrada desde 1947 (TABORDA: 1996).

    A romaria dá-se por encerrada nesse dia, com uma sessão de fogo de artifício.
  • Manifestações associadas:
    Na freguesia próxima de Deão, localizada cinco quilómetros a montante do rio Lima, iniciou-se, na segunda metade dos anos 70 do século passado, uma tentativa de recuperar os cestos floridos na celebração da festa da Senhora do Rosário com o auxílio de “bordadores” de Vila Franca. Para os vila-franquenses, isto foi visto como uma tentativa de cópia e aproveitamento do sucesso conquistado ao longo de décadas, e alguns “bordadores” foram acusados de atraiçoarem a tradição da terra ao transmitirem as técnicas e conhecimentos a forasteiros; ou ainda, de o fazerem por serem bem pagos por um trabalho que nunca o deveria ser. Mantém-se, todavia, bastante notória a diferença de rigor e qualidade técnica entre os cestos de Vila Franca e os de Deão, exceto quando acontece deslocarem-se “bordadores” da primeira à segunda povoação.
  • Contexto transmissão:
    Estado de transmissão activo
    Descrição: O contexto de transmissão da feitura dos “cestos floridos” só pode ser entendido dentro de uma dinâmica de comunidade que passa desde tenra idade para os seus membros a marca identitária do “cesto florido”. Assim o é que, desde que a criança começa a entender que é de Vila Franca, entende imediatamente que, um dia, saberá como se fará ou participará mesmo na feitura de um cesto. Contribuiu para isto um sentimento de orgulho conquistado ao longo de gerações e a noção da preservação de algo «muito antigo» que ficou do passado. Acresce ainda ao espírito de comunidade o facto do trabalho de organizar a Festa das Rosas ser tão complexo que exige a formação, entre os habitantes, de grupos especializados em certas funções. Assim, só atinge a posição de “bordador” quem ao longo de muito tempo se conseguir afirmar como tal. Tal como só consegue armar o “bouquet” de remate do cesto (arranjo de rosas no topo, que consagra, no fundo, a oferta de flores à Se­nhora) quem ao longo de décadas conseguiu aprimorar a técnica. Um bom “bordador” pode passar a vida inteira a trabalhar subordinado a outro, sem nunca conseguir formar uma equipa independente. Outra particularidade é que a rivalidade imposta por uma constante demanda pela perfeição acabou por fazer com que o sistema de transmissão funcionasse bidirecionalmente: os velhos ensinavam os novos, os novos introduziam novidades técnicas e ensinavam os mais velhos. O rito de passagem à idade adulta perante toda a povoação da aldeia faz com que as mordomas que aceitem mordomia se sintam orgulhosas não só de cumprirem o desígnio de manterem a tradição e contribuírem para o bem comum, como lhes garante uma aceitação mais facilitada na sociabilidade futura. A carga ritualística está presente nas sensações de enorme júbilo e comoção descritas por todas as mordomas entrevistadas – na noção de dever cumprido e de que uma etapa importante foi dobrada. Isto fomenta um espírito de que, anos mais tarde, há uma dádiva de retorno a saldar na forma de envolvimento na organização da romaria, ou, por exemplo, como «ajudante» de uma mordoma amiga ou familiar. É de referir aqui, também, a aceitação de indivíduos de fora da comunidade que por laços de casamento, ou simples mudança de residência, vivem hoje em Vila Franca e conquistaram lugares de destaque pelo trabalho desenvolvido na manutenção da tradição. A ligação da comunidade da diáspora à festa, contribuindo (sobretudo no passado) com dinheiro para a sua organização – e muitos deles regressando, mesmo que só por dias, para participarem nas festas –, continua a ter um certo peso na divulgação do motivo que os orgulha enquanto pertença da comunidade que deixaram em busca de uma vida melhor. Isto fez com que, nas últimas décadas, inúmeros estrangeiros participem, como espectadores, na Festa das Rosas. Os turistas são, outrossim, presença assídua entre os milhares de visitantes anuais, mormente galegos (por óbvia proximidade), franceses e belgas. O modo de transmissão é feito por via oral, sendo necessária a observação direta e prática das técnicas que envolvem a feitura dos cestos floridos. Os “bordadores” mantêm uma estrutura quase oficinal, conservando sob a sua orientação um conjunto de rapazes mais novos ou homens da sua confiança que vão aprendendo ao longo da vida a arte de “bordar o cesto”. A substituição por velhice ou cansaço é normalmente processada dentro da equipa muito naturalmente, sendo reconhecido no sucessor os dons necessários para prosseguir o trabalho do mestre. Algumas vezes houve cisões de equipas por discórdia ou porque os mais novos acharam que já conseguiam competir com o mestre.
    Data: 2016/05/06
    Modo de transmissão oral
    Idioma(s): Português
    Agente(s) de transmissão: Todas as famílias da comunidade; "Bordadores"; "Armadores"; "Armadoras" do "bouquet"; Pároco; Comissão de Festas; Comissão Fabriqueira; Confraria do Rosário
  • Origem / Historial:
    Ainda que alguns autores tenham tentado relacionar a entrega dos cestos de mordoma com os antigos rituais pré-cristãos de fertilidade aquando do início da primavera (ARAÚJO: 1935; ABREU: 1993), que aparecem mencionados em vários autores da Antiguidade Clássica como Publius Ovidius Naso (Cf. Ovídio, Fasti, Liber V) ou P ublius Vergilius Maro (Cf. Virgílio, A Eneida, canto V), a verdade é que as celebrações de renascimento da vida com o chegar da primavera têm carácter universal (OLIVEIRA: 1984). A primeira referência significativa que nos remete para a origem da entrega de flores à Senhora do Rosário projeta-nos para o ano de 1622, data dos primeiros Estatutos da Confraria de Nossa Sen hora do Rosário instituída na igreja paroquial de São Miguel de Vila Franca. Neles, é estipulada a obrigação de todas as mordomas ofertarem flores à Senhora, sob pena de multa no valor de um arrátel de cera (SILVA: 1996).

    A primeira confraria tinha sido fundada, em 1618, p elos frades dominicanos de Santa Cruz de Vianna da Foz do Lima. A predileção dos domínicos pelo seu culto ao Rosário e à Senhora adveio, curiosamente, da vitória surpreendente das forças cristãs sobre a frota otomana aquando da Batalha do Lepanto, em 1571. O papa Pio V, pertencente à Ordem de São Domingos, apelou a que se rezasse o rosário. Com a vitória garantida, o pontífice atribuiu a vitória à oração do Rosário. Tal facto ajudou a espalhar o culto à Virgem do Rosário, aparecendo este, consequentemente, a partir de 1618, nas margens do Lima, sob orientação dos Padres Pregadores.

    A segunda referência à romaria aparece-nos já no século seguinte. António Quesado refere um registo presente no arquivo paroquial datado de 1754 (QUESADO: 1952), que não foi possível localizar, devido, porventura, ao incêndio ocorrido na igreja paroquial em 1963. No entanto, apenas quatro anos depois, o grande terramoto de Lisboa faz com que o Conde de Oeiras, futuro Marquês de Pombal, ordene o célebre inquérito a todas as paróquias do reino que ficou para a História com o nome de «Memórias Paroquiais». O reitor Filipe da Cunha Barbosa, respondendo ao inquérito de 60 questões enviado da capital, menciona, em esclarecimento às perguntas números 13 e 14 que, em «Sam Miguel de Villa Franca», acodem romeiros à ermida da Senhora do Rosário «pello discurso (sic.) do anno», o que deixa perceber a importância local que a romaria já adquirira em meados de setecentos. O historiador local José Rosa Araújo faz ainda referência a um livro de Estatutos lavrado a 6 de setembro de 1789, que mencionava ser a existência da Confraria já muito antiga. Curiosamente, o primeiro capítulo é logo referente ao «Dia de Festa», cuja regra estabelece ter de realizar-se «no Domingo das Rosas, primeiro mês de Maio de cada ano, em que esta pia e devota confraria escolhe como mais própria para a solenidade da sua festa» (cit. por ARAÚJO: 1954).

    Saltando para os finais do séc. XIX, deixa de ser possível dissociar a feitura dos cestos floridos da própria romaria. Destes anos, existem apenas alguns registos fotográficos que parecem ser já da primeira década do século XX, mas cuja datação apresenta algumas dúvidas. No entanto, fontes orais afirmam a existência dos cestos floridos já por essa altura, o que não levanta grandes questões sobre o quanto a tradição de oferecer flores à Virgem do Rosário – assim como estipulado nos Estatutos de 1622 –, se mantinha, certamente com alterações ao longo do tempo. O que é certo é que na primeira década do séc. XX os cestos floridos em simples molhadas ou com representações, desenhadas a flores, de arabescos e anagramas eram uma visão constante em várias aldeias da Ribeira Lima como Meadela, Subportela, Santa Marta de Portuzelo; mas, sobretudo, Outeiro e Perre, ainda que como oferendas a oragos distintos como a Senhora do Livramento ou São João Batista (PAÇO: 1932). Apesar de tudo, já em 1935, José Rosa Araújo afirmava categoricamente que os «cestos de mordoma» de Vila Franca eram, de longe, onde «o valor artístico (...) é mais afamado» (ARAÚJO: 1935). Infelizmente – e é o último autor que o lamenta –, não há mais estudos que versem a temática dos “cestos floridos”, à exceção do de Afonso do Paço já citado, que lhe antecede em apenas três anos.

    O PADRE QUESADO: Por esta altura, porém, já vivia na aldeia de Vila Franca do Lima o homem que se tornaria na figura mais importante para o desenvolvimento da Festa das Rosas: António Quesado Júnior da Felgueira (n. 09 de abril de 1902 † 01 de abril de 1975), nomeado pároco da antiga São Miguel de Figueiredo em 1930. Natural de Perre, na outra margem do rio, estava certamente habituado à tradição dos cestos, mas logo ficou surpreendido pela qualidade dos trabalhos florais vila-franquenses. À semelhança das outras aldeias ribeirinhas, também em Vila Franca o costume de entregar «cestos de mordoma» estava a morrer. Homem erudito e inteligente, o novo prior tomou como medida alargar a festa para o domingo seguinte, «dando protagonismo às crianças e adolescentes, com cestos à sua medida, com o fim de comprometer a gente jovem no gosto de saber sobre os cestos floridos» (FERREIRA: 2012). Serviço educativo “avant la lettre”, o pensamento visionário do jovem pároco na implementação deste pequeno detalhe fará com que a manifestação de Vila Franca fosse a única a sobreviver até aos dias de hoje. Ademais, esforçou-se por incutir na comunidade o sentido de preservação do património herdado, e fomentou a rivalidade saudável entre grupos de “bordadores”, que foram, desta forma, aperfeiçoando tecnicamente, e esteticamente, os cestos. Cultivador de amizades, chamou a Vila Franca jornalistas de jornais e rádios nacionais para testemunharem de perto os dias de festa e as iguarias inigualáveis da sua célebre mesa. Incrementando, devido a este facto, a popularidade da Festa das Rosas, a população continuou a trabalhar na manutenção dos seus valores patrimoniais e, de certa forma, a ter uma obrigação de mantê-los atualizados a cada novo obstáculo ou circunstância. Chegados à morte de António Quesado, em abril de 1975, a Festa das Rosas tinha-se estabelecido como uma das maiores romarias do Alto Minho. Os cestos tinham evoluído de pequenos aparelhamentos de flores com simples figuras e anagramas para representações florais de monumentos e figuras de grande realismo que conquistavam multidões.

    DO ÚLTIMO QUARTEL DO SÉCULO XX AO FUTURO: A geração da viragem de Abril de 74, fruto de mais oportunidades na educação, introduziu inovações na estrutura (aliviando o peso e reforçando a segurança) e na composição dos desenhos. Novas técnicas de impressão dos motivos (i.e., fotocópias e impressões em grande formato) permitiram cada vez mais realismo dos motivos representados. Já antes, pelo final da década de 40, os jovens empregados nos gabinetes de desenho dos recém-inaugurados Estaleiros Navais de Viana do Castelo tinham trazido algum “know-how” técnico para a confeção dos cestos, antecipando, de certa forma, esta nova era.

    Nos anos 80, no entanto, o declínio da atividade agrícola nos pequenos minifúndios alto-minhotos, base de sustentação da economia familiar durante séculos, sentiu-se de forma acentuada. A introdução da escolaridade obrigatória cada vez mais tardia, levou a que a maioria das mordomas, desabituadas aos trabalhos da lavoura, não fossem capazes de suportar o peso excessivo dos cestos compostos, no interior, por molhos de “cerúdia” (Oenanthe crocata L.) ou trevo-encarnado (Trifolium incarnatum L.), que o chegavam a elevar para cerca de sessenta e cinco quilos. A solução veio na forma engenhosa de aplicar, no interior do cesto, uma estrutura de poliestireno expandido, vulgo “esferovite”, a partir do início dos anos 90. A aplicação do poliestireno expandido deu azo a uma divisão na comunidade entre aqueles que achavam que era um ataque fatal à tradição do cesto totalmente composto por matéria vegetal e aqueles que se sustentavam no argumento de que a «arte» de “bordar” nada tinha a ver com a estrutura interior, mas com o trabalho decorativo que se aplicava no bojo. Durante alguns anos houve, assim, “bordadores” que se recusaram terminantemente a trabalhar em cestos que tivessem por estrutura o “esferovite”. Muitos membros da comunidade veem nesta questão, ainda nos dias que correm, um pormenor que deve ser mantido como «segredo» apenas dentro de Vila Franca, e muitos há que, suspeitando, deram origem a momentos curiosos como o de furar os cestos na igreja com os dedos indicadores, procurando saber se o cesto faz parte dos «verdadeiros» ou dos «de “esferovite”». Esta questão foi posta totalmente de parte pelas gerações mais novas, sobretudo a partir de finais dos anos 90, por duas razões principais: por uma questão meramente física – a impossibilidade de carregar, à cabeça, um peso superior a 60 quilos; e por uma questão sentimental – muitas mordomas preferem manter o cesto em casa, por vezes durante anos, como uma memória, hipótese totalmente impraticável com um cesto emparelhado por “cerúdia” ou trevo-encarnado, devido à decomposição das plantas. Em tempos idos, o cheiro nauseabundo da decomposição do cesto «verdadeiro» levava a que a família se reunisse, decorrido já algum tempo desde a romaria, e, mordoma trajada, procedia-se ao «enterro do cesto» em propriedade de cultivo, despedindo-se, desta forma, a rapariga do seu cesto.

    Atualmente, vive-se uma subtil fase de experimentação, sobretudo a partir de 2010, ano em que, pela primeira vez, foram utilizadas formas escavadas e relevadas aproveitando a plasticidade possibilitada pelo poliestireno expandido. Nesse ano, apareceram também motivos ligados às novas tecnologias, como citações diretas aos “wireframes” utilizados nas composições de modelos tridimensionais processados em computador. Alguns dos “bordadores” das novas gerações admitem que, no futuro, poderão recorrer a novas técnicas para impressionar quem admira um cesto, desde que nunca se desvirtue o papel primordial da flor na composição dos motivos representados.
  • Direitos associados :
  • TipoCircunstânciaDetentor
    Direito consuetudinário local (activo)Apenas é reservado o direito de participação tanto na organização da romaria como na feitura dos “cestos floridos” Comunidade de Vila Franca
  • Responsável pela documentação :
    Nome: Raul Alexandre da Rocha Pereira
    Função: Técnico de Inventariação
    Data: 2016/09/04
    Curriculum Vitae
    Declaração de compromisso
  • Fundamentação do Processo : ver fundamentação do processo
Direção-Geral do Património Cultural Secretário de Estado da Cultura
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