Ficha de Património Imaterial

  • N.º de inventário: INPCI_2023_006
  • Domínio: Práticas sociais, rituais e eventos festivos
  • Categoria: Festividades cíclicas
  • Denominação: Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes de Cascais
  • Outras denominações: Festa do Pescador; Festa do Mar
  • Contexto tipológico: Manifestação cultural de carácter religioso e de devoção a Nossa Senhora dos Navegantes enquanto protetora de todos os pescadores e mareantes. A organização principal desta procissão, dirigida por António Ramos, pescador de profissão, realiza-se anualmente num domingo do mês de agosto. A procissão decorre através de duas fases, a terrestre que sai da Igreja de Nossa Senhora da Assunção até ao cais de embarque na baía, praia da Ribeira ou dos pescadores, como também é conhecida. E a marítima que sai do cais de embarque até à Guia. Estas duas fases da procissão são realizadas nos dois sentidos enquanto decorre um conjunto de celebrações na baía. O momento da paragem marítima das embarcações na zona da Guia consiste no ritual de exaltação de uma dimensão simbólica e sagrada. A pura devoção do povo piscatório reflete um sentimento profundo de agradecimento à proteção dos que navegam no mar e a todos que lá morreram. Sente-se e vive-se intensamente cada tarefa e responsabilidade na preparação e período do ritual.
  • Contexto social:
    Comunidade(s): Comunidade de pescadores de Cascais ; População de Cascais
    Grupo(s): Câmara Municipal de Cascais; Associação de Armadores e Pescadores de Cascais; Paróquia de Cascais; Associação de Profissionais de Pesca; Capitania do Porto de Cascais
    Indivíduo(s): António Jorge Carmo Gomes Ramos (pescador); Nuno Filipe Fernandes Coelho (padre) ; António Alves (Paróquia de Cascais); Hernâni Florêncio (pescador); Pedro Ricardo (munícipe e salesiano); Aurora Firmino (peixeira) ; Maria da Luz Domingos (peixeira); Lurdes Neves (florista); Rita Vidigal (florista); Lucília Guerreiro (florista); Maria Seguro (florista)
  • Contexto territorial:
    Local: Portugal \ Continente \ Lisboa \ Área Metropolitana de Lisboa \ Cascais \ Cascais e Estoril
    Freguesia: Cascais
    Concelho: Cascais
    Distrito: Lisboa
    País: Portugal
    NUTS: Portugal \ Continente \ Lisboa \ Grande Lisboa
  • Contexto temporal:
    Periodicidade: Realiza-se anualmente num domingo do mês de agosto.
    Data(s): Agosto
  • Caracterização síntese:
    A procissão em honra de Nossa Senhora dos Navegantes caracteriza a comunidade piscatória cascalense num ato de devoção e invocação partilhada por todos os mareantes. Realizada em duas vias, a terrestre e a marítima, a manifestação de fé em honra de Nossa Senhora dos Navegantes, em Cascais, remonta ao ano de 1942, por altura da conclusão das obras da Igreja dos Navegantes, tornando-se a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes a protetora dos pescadores cascalenses. Apesar de alguns interregnos na sua realização, desde 1992 que se efetiva de forma contínua. Alusivas à festa do pescador ou do mar, a programação preserva esta recriação, anualmente, na forma de a transmitirem e a manterem ativa na comunidade, salvaguardando a essência e o propósito dos pescadores que a iniciaram. O planeamento que se encontra sob orientação do pescador António Ramos, há cerca de 25 anos, e em representação da mais antiga associação de pescadores de Cascais, a Associação de Armadores e Pescadores de Cascais, define a data da realização da procissão para um domingo de agosto, tendo sempre em atenção a maré. Em coordenação com a Paróquia de Cascais, a Câmara Municipal de Cascais e a Capitania do Porto de Cascais, as tarefas decorrem entre quinta-feira precedente à procissão e segunda-feira subsequente, com os transportes, ornamentação dos andores, imagens e embarcações. Na tarde de domingo os andores perfilam-se junto ao Centro Cultural de Cascais e a procissão sai da Igreja de Nossa Senhora da Assunção seguindo pela avenida D. Carlos I até ao cais de embarque da praia da Ribeira. Os andores com as imagens seguem, com os pescadores e as peixeiras vestidos a rigor, ao som da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários e de uma banda filarmónica do concelho, acompanhadas pela cruz processional, lanternas, turíbulo, naveta, bandeiras e estandartes, representando as várias Associações e Irmandades. O pálio, que protege o Santíssimo Sacramento na Custódia, é transportado por tradição pelos membros do executivo municipal e da Capitania do Porto de Cascais. No cais de embarque os andores são colocados nas embarcações e inicia-se a procissão marítima até à Guia. A imagem principal, a da Nossa Senhora dos Navegantes é atribuída alternadamente a uma embarcação das duas associações de pescadores locais, de forma a manter a imparcialidade. No período que decorre esta procissão marítima, em terra realiza-se um conjunto de orações definidas pela paróquia de Cascais. No mar as embarcações juntam-se na zona da Guia e concretizam um dos rituais mais simbólicos e marcantes desta devoção mariana, com uma oração de homenagem aos falecidos e invocação das preces profissionais e familiares, fazendo soar as buzinas dos barcos e lançamento de flores ao mar. De regresso à baía ultimam-se as orações e a procissão retorna ao adro da igreja para os agradecimentos e bênção final. Os andores voltam ao Centro Cultural de Cascais e a população retira as flores dos andores para os seus oratórios particulares. A importância de manter ativa esta tradição revê-se na revivificação e transmissão dos seus valores intergeracionalmente pela fé em Nossa Senhora dos Navegantes.
  • Caracterização desenvolvida:
    A procissão em honra de Nossa Senhora dos Navegantes caracteriza e identifica claramente uma comunidade muito relevante da população cascalense, a dos pescadores. Esta procissão realiza-se em duas vias, a terrestre e a marítima. Enquanto ato de devoção e invocação é partilhada por todos os mareantes e seus familiares e presenciada pela população residente e não residente no concelho. A primeira manifestação de fé da comunidade piscatória em honra de Nossa Senhora dos Navegantes, em Cascais, remonta ao ano de 1942, por altura da conclusão das obras da Igreja dos Navegantes. A imagem alusiva a Nossa Senhora dos Navegantes, e protetora dos pescadores de Cascais, é da autoria dos escultores irmãos Maia, do Porto e representa a Nossa Senhora com o menino no braço esquerdo, com o resplendor carregado de estrelas sobre uma nuvem assente num barco, no qual um pescador se ajoelha perante a imagem e um anjo mantém-se ao leme. A realização da procissão apesar de alguns interregnos, efetiva-se de forma ininterrupta desde o ano de 1992. Alusivas à festa do pescador ou do mar, a programação preserva esta recriação, anualmente, na forma de a transmitirem e a manterem ativa na comunidade, salvaguardando a essência e o propósito dos pescadores que a iniciaram. O seu planeamento encontra-se há 30 anos sob a orientação do pescador António Ramos, que representa a mais antiga associação de pescadores de Cascais, hoje denominada por Associação de Armadores e Pescadores de Cascais. Este assume a função principal na organização e coordenação desta procissão junto dos pescadores e das duas associações, a referida anteriormente e a Associação de Profissionais da Pesca de Cascais. Por sua vez a paróquia de Cascais, na figura de António Alves, coordena as tarefas de cariz religioso e a escolha das imagens. A colaboração dos serviços municipais, da Capitania do Porto de Cascais e demais cidadãos cascalenses são essenciais para que esta tradição se mantenha. A data da procissão, condicionada pelas marés, ocorre a um domingo do mês de agosto. No ano de 2022 realizou-se a 28 de agosto. A realização das tarefas principais decorreu desde quinta-feira a segunda-feira, da data definida. Assim na quinta-feira e sexta-feira transportaram-se e repararam-se os andores sendo as imagens fixadas posteriormente. No sábado decorreu a aplicação de todas as insígnias em cada santo pelo António Alves da paróquia de Cascais, com o apoio do cascalense Pedro Ricardo. A ornamentação dos andores esteve a cargo da Florista do Mercado (Lurdes Neves, Rita Vidigal, Lucília Guerreiro e Maria Seguro) que enfeitaram os andores mantendo a tradição das peixeiras: a escolha das flores da época e as suas cores de acordo com as vestes dos santos. Prepararam ainda as coroas e os ramos de flores para serem distribuídos pelas embarcações e lançados no mar junto à Guia. Este ano as imagens que saíram na procissão foram as da paróquia de Cascais, a Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora da Assunção, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora da Guia, Sagrado Coração de Jesus, São Sebastião, e da capela de S. Brás de Areia veio a imagem de São Brás. A imagem da Nossa Senhora Auxiliadora, veio dos Salesianos do Estoril, e participa na procissão desde 2017. Os pescadores durante o domingo de manhã dedicaram-se a engalanar as suas embarcações com as suas decorações para a realização da procissão marítima e o António Alves da paróquia de Cascais preparou o altar junto à baía para a realização das cerimónias. Os andores foram previamente alinhados junto ao Centro Cultural de Cascais e pelas 15h iniciou-se a cerimónia com saída da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, seguindo pela Avenida D. Carlos I até ao cais de embarque da praia da ribeira, percorrendo o itinerário ao som da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Alcabideche. Acompanharam a procissão a cruz processional e lanternas de procissão transportadas por acólitos, a bandeira da Associação de Armadores e Pescadores de Cascais, o estandarte da paróquia de Nossa Senhora da Assunção de Cascais, o estandarte da Legião de Maria do grupo de Cascais e o estandarte de Nossa Senhora Auxiliadora dos Salesianos do Estoril, seguidos dos padres, Nuno Coelho (paróquia de Cascais) e João Paulo. Os acólitos levam o turíbulo e a naveta com o incenso e o pálio foi transportado pelo executivo da Câmara Municipal de Cascais e elementos da Capitania do Porto de Cascais que protegia o Santíssimo Sacramento dentro da Custódia levado pelo padre Lourenço. Quatro lanternas de procissão carregadas por escuteiros ladeavam o pálio e seguia a Banda da Sociedade Recreativa Musical de Carcavelos que acompanhou a procissão ao som do seu reportório musical. O alinhamento da procissão encerrava com toda a população presente e os devotos de cada santo que se dispunham ao longo da procissão. As peixeiras e pescadores trajaram neste dia a sua indumentária tradicional e os andores foram transportados, em regra, por quatro pescadores que foram vestidos com camisolas que identificavam o santo que transportavam. Ao chegar ao cais de embarque os andores foram cautelosamente colocados nas embarcações e parte da população entrou e participou na procissão marítima. A imagem da Nossa Senhora dos Navegantes é atribuída alternadamente a uma embarcação das duas associações de pescadores locais, de forma a manter a imparcialidade, e tendo em atenção a devoção de todos. Desta forma, no ano de 2022 o andor seguiu na embarcação «Panta». As embarcações de pesca, tradicionais e de lazer que não transportaram imagens participaram igualmente na procissão marítima e dispuseram-se ao longo da baía, expondo uma visão única de uma mistura de cor na calmaria do mar. A procissão seguiu por via marítima até à Guia. A população que permaneceu em terra, em conjunto com o padre Nuno Coelho, assistiu e realizou um conjunto de orações de invocação aos vários santos, tais como: o terço, a ladainha a Nossa Senhora, a Consagração a Nossa Senhora dos Navegantes e a celebração da palavra e bênção com o Santo Lenho. Todas as orações foram acompanhadas de cânticos. A procissão marítima saiu da praia da ribeira em direção à Guia, de forma serena e emotiva, onde se realizou um dos rituais mais simbólicos e marcantes desta devoção mariana. Assim, num ato de fé realizou-se uma oração por parte do padre Lourenço que seguia na embarcação «Panta» com a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, prestando homenagem aos falecidos e invocação das preces profissionais e familiares de todos os presentes no mar. No decurso deste simbolismo as embarcações presentes manifestaram-se com o tocar das buzinas e posteriormente lançaram as flores, em forma de coroas, ramos ou soltas ao mar. Após este ritual as embarcações regressaram, pela mesma via, à praia da ribeira onde as imagens foram transferidas novamente para o cais de embarque e para junto do altar. De seguida o padre Lourenço realizou a bênção das imagens, das embarcações e do mar. Após estas celebrações a procissão terrestre retomou o seu alinhamento e regressou novamente pela Avenida D. Carlos I ao adro da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção para encerramento das celebrações com a bênção final e os agradecimentos. Os andores regressaram para junto do Centro Cultural de Cascais e a população concluiu as suas promessas e as suas devoções junto de cada santo e num sentimento de transportar um pouco da procissão para suas casas, retiraram fervorosamente as flores que enfeitavam os andores durante a procissão para as colocar junto dos seus oratórios particulares. Os andores no mesmo dia regressaram ao sítio onde foram ornamentadas e no dia seguinte, as mesmas pessoas que as prepararam, retiraram as imagens dos mesmos. O transporte de tudo aos devidos lugares é realizado pelos serviços municipais no dia seguinte. A realização desta procissão transparece através das emoções que se registam nas imagens e vídeos recolhidos, mas mais do que isso, nos relatos que se ouvem e nas ações de cada um. O sentimento de envolvimento de todos os elementos da família, na celebração desta procissão, consiste na melhor forma de transmissão às novas gerações a importância da realização desta tradição e de a manter, para agradecer e homenagear todos os familiares que faleceram no mar, pela vida de trabalho na pesca ou porque recorreram ao mar para as suas atividades profissionais. A recriação anual desta manifestação abrange um dos instrumentos fulcrais que contribui para a sua salvaguarda. Registam-se algumas medidas implementadas pelo poder local que dinamizam a cultura cascalense, nomeadamente através da atribuição de uma verba monetária para a realização da procissão, da divulgação nas diversas plataformas digitais e meios de comunicação onde se promove e perpetua a memória entre o passado e o presente e se perspetiva o futuro alocado à continuidade e transmissão das tradições locais. Igualmente, e mais recentemente a Câmara Municipal de Cascais, com o objetivo de promover profissões de relevância local, associou-se numa parceria com o Centro de Formação Profissional das Pescas e do Mar (FOR-MAR) e as associações de pescadores locais e constituíram um curso de formação para a profissão de pescador/a (Curso de Pescador/a - uma profissão cascalense | Câmara Municipal de Cascais).
  • Manifestações associadas:
    A procissão encontra-se integrada no programa geral das Festas do Mar, que são inteiramente organizadas pela Associação de Turismo de Cascais e a Câmara Municipal de Cascais. Estes festejos de carácter lúdico consistem, atualmente, num conjunto de concertos musicais, com principal atuação da música portuguesa, que decorrem ao longo de vários dias. A diversidade cultural marca presença nos diversos dispositores e a variedade gastronómica dispõem-se ao longo da zona da baía e da avenida D. Carlos I. Este carácter de associação de outras atividades reconhece-se nos testemunhos recolhidos, tais como a venda de artesanato, farturas ou diversão que se apresentam nestas festas há muitos anos, como se afirmava em 2019: “Histórias como a de Carlos Gomes que tem uma roulotte de farturas e que vem às tradicionais festividades há mais de 20 anos. Ou histórias mais recentes como a de Raquel Carvalho e do marido Jorge Bolinhas, ela cascalense e ele alentejano. Um casal com uma profissão incomum – especialistas em taxidermia de peixes. Há quatro anos presentes nas Festas do Mar, por amor à divulgação e preservação das espécies marinhas, assim como pela necessidade de salvaguardar a importância dos pescadores, das suas tradições e ofício. Para além disso, Raquel faz bonecas de crochet que vende nas Festas do Mar, num tributo à arte de sua avó que era costureira e que a ensinava a fazer naperons nas férias da escola.” Disponível em Festas do Mar: Histórias para além da Música | Câmara Municipal de Cascais. Este ano de 2022 recolheu-se novamente o testemunho de Carlos Gomes onde reforça o sentimento que se vive no dia da procissão: “Olhe, portanto para a gente significa muito, né, porque a gente, ou seja, por onde a gente passa, a gente é raro ver as procissões naquela altura porque não passam ao pé. Esta aqui como nos passa ao pé, portanto, há um sentimento, portanto, é um, portanto é uma paz, quando a procissão passa, os andores, cria aqui. Cria-se aquela, aquele suspense de a gente olhar e pedir coisas.” (Entrevista de 29/08/2022).
  • Contexto transmissão:
    Estado de transmissão activo
    Descrição: Considerando o empenho do responsável pela organização, o pescador António Ramos, que realiza esta tarefa principal há cerca de 25 anos, a participação das duas associações de pescadores locais, a Associação dos Armadores e Pescadores de Cascais e a Associação de Profissionais de Pesca de Cascais, das peixeiras, da Paróquia de Cascais, da Câmara Municipal de Cascais, da Associação de Turismo de Cascais, da Capitania do Porto de Cascais e todos os demais agentes culturais que promovem a recriação anual desta manifestação existem diversas formas de aprendizagem e transmissão entre gerações. O facto de manterem a recriação anual, mesmo nos anos em que decorreu a pandemia, reflete o enorme valor cultural desta manifestação para Cascais e para a sua comunidade piscatória. António Ramos refere: “A procissão devia, quer dizer o covid condicionou-nos e estagnou-nos e a gente para não, para não morrer, fizemos a procissão só com um andor e lá fizemos a procissão e fomos. A Subdelegada de Saúde também nos ajudou porque o Senhor Comandante pediu o parecer, e o parecer foi favorável. Dentro destes, destes parâmetros e disto que aconteceu ao país, não se pode estar a evoluir muito. Houve quem não fizesse. Porque nos outros lados ninguém fez, a gente fez. Mas nos outros lados ninguém fazia.” (Entrevista 12/10/2022). A integração dos mais jovens no decurso do processo de organização e execução de tarefas fundamentais, como é o caso do transporte e apoio aos andores na procissão, a presença nas embarcações para a procissão marítima e a participação no ritual mais simbólico que se realiza no mar para relembrar familiares, amigos e/ou conhecidos, evocando as suas preces para o novo ano, é essencial para que o processo de transmissão seja o mais agregador possível. Estes considerandos são entendidos através dos testemunhos recolhidos, como é o caso da afirmação do técnico municipal Fausto Salvador: “(…) E na realidade o contacto que eu tive meramente com os pescadores e com as suas famílias, porque na realidade acabo por ter um contacto muito direto com eles e acabo por aprender. Acabei por aprender muita coisa com eles e mais com as pessoas antigas. Algumas infelizmente já cá não estão. No entanto, aprendemos algumas coisas que, que nos trazem sentimentos e que nos trazem o cuidado que há em relação a esta procissão. Nomeadamente, não estamos a falar, é o passado, a convivência, a vivência que eles tiveram no passado que se reporta para esta procissão e que neste momento, e é evidente que os cuidados subiram e os acidentes são menores. No entanto, há sempre uma preocupação gigante. E nos momentos de aperto realmente as pessoas projetam-se para, para a fé.” (Entrevista 24/03/2022). Ou através do testemunho de Guilherme Cardoso, enquanto presidente da Associação Cultural de Cascais, professor, munícipe e fotógrafo, quando afirma que: “Os jovens ao integrarem, na verdade, as procissões e os rituais vão acompanhando ao longo do tempo o trabalho dos avós e dos pais, portanto. E isso permite-lhes depois para eles passarem. Evidentemente que, quando crianças são orientadas pelos pais e pelos avós, para quando chegam à idade adulta eles próprios se tornam pais e avós e vão continuando esse ritual.” (Entrevista 17/03/2022). E o próprio pároco Nuno Coelho, participante nesta manifestação, e que afirma: “Mas existe isso, existe essa transição, essa, como é que se diz, essa tradição, essa transmissão dos hábitos, dos rituais, daquilo que recebemos. (…) Esse caminho. Os mais velhos se calhar nasceram num ambiente estruturalmente católico, não é? Mesmo não vivendo, se calhar em termos, em termos comunitários essa, essa fé, os mais novos, se calhar, já nem isso. Por isso, nem só não receberam ou viveram nesse ambiente católico, também não vivem nesta, nesta comunidade de fé. Por isso é engraçado, é desafiante ver qualquer coisa, que de facto nos une, mesmo que em hábitos, em linguagem, se calhar às vezes sejamos um bocadinho distantes. Por isso é que as procissões têm esta, esta beleza e este, este desafio. (…). Ou seja, aos nossos olhos, porque eu só consigo olhar assim para uma década, uma década e meia, pode haver estes altos e baixos, mas de facto há uma continuidade. Há miúdos que tinham 5 anos ou 4 anos, que eram aqueles que levavam aquelas coisinhas pequenininhas logo lá à frente, não é? E hoje levam os andores aos ombros e daqui a 20 anos se falarmos com eles, eles vão dizer: eu vou nesta procissão há 40 anos. Pronto. Mesmo que, de facto, em termos de vida religiosa, cristã, ou ritual ou comunitária, se calhar o pouco que os une, de facto nesta igreja, é a, é a procissão. Não é só. De vez em quando também existem, como todos eles batizam os seus filhos, todos eles vêm à missa quando é, quando é por alma da avó, ou do avô. Está lá, está lá entranhado, está lá atrás. Mas em relação à procissão, sim. Absolutamente. Com altos e baixozinhos, mas, mas julgo que existe, que existe essa continuidade da tradição.” (Entrevista 03/03/2022). O testemunho de Carlos Gomes, o vendedor ambulante da roulotte de farturas também reforça este entendimento na transmissão intergeracional: “(…) acho que as tradições são para se manter. Que hoje em dia já é difícil. É difícil se manter as tradições porque, ah, portanto, as pessoas mais velhas também vão deixando, vão falecendo e os jovens também não aderem muito a essas, ou seja, a essa, a essa iniciativa. Mas eu acho que é para se manter enquanto se puder. (…) a gente consegue-se aperceber um bocadinho que eles tentam transmitir aos mais novos. (…) entrevista e está aqui um homem muito forte aqui nisto que talvez, é a pessoa que tem mantido aqui a tradição, que é o Senhor Ramos.“ (Entrevista de 29/08/2022). Assim é extremamente importante transmitir essa devoção e orgulho na realização da manifestação às gerações mais novas. A transmissão na família é sempre mais fidedigna desse sentimento. Crescem com ele e mantém o altruísmo. Assim se mantém viva a tradição.
    Data: 2022/08/28
    Modo de transmissão oral e escrita
    Idioma(s): Português
    Agente(s) de transmissão: Pescadores, Peixeiras, Associações, Paróquia de Cascais, Câmara Municipal de Cascais e Comunidade
  • Origem / Historial:
    Em Cascais, a crescente importância da atividade piscatória e do seu porto, a partir de finais do século XII, fez com que se concedessem vários privilégios reais aos pescadores(1), nomeadamente por D. João I, de modo que não fossem desviados da sua principal atividade. Já durante o século XIII e integrada numa política de povoamento, desenvolvimento e proteção às atividades da pesca, da extração do sal e da construção naval, D. Dinis manda criar as póvoas marítimas, dando, desta forma, benefícios aos homens do povo que quisessem viver junto do mar dedicando-se assim à pesca. O desenvolvimento desta comunidade fez com que esta “classe profissional” se organizasse. Assim, foram-se criando, ao longo dos tempos, várias confrarias e irmandades, que tinham como finalidade a assistência espiritual e social, através da prática de atos religiosos, da construção de locais de culto, e da proteção aos pescadores e familiares. As confrarias dos pescadores e mareantes terão sido as mais antigas confrarias de carácter profissional da Península Ibérica, estando já organizadas e constituídas no século XII, e em toda a costa Cantábrica(2). Será a partir desta altura que a sua importância aumenta em comparação aos restantes ofícios. Em Portugal estas confrarias irão estender-se um pouco por toda a costa litoral. Em Cascais, e fruto da crescente importância que os homens do mar tinham alcançado, pescadores e mareantes associam-se, através da criação da Confraria de Nossa Senhora do Socorro, cuja data de fundação não se conseguiu apurar, mas cuja igreja se localizaria na praça da Vila, nas imediações da praia da Ribeira, atualmente Praça 5 de outubro: “Mais teve na Praça a Capela de Nossa Senhora do Socorro, que he própria dos mareantes (…)”(3). Embora se desconheça a data de origem desta confraria, João da Cruz Viegas menciona ser anterior à da Irmandade da Misericórdia (4), que foi fundada a 15 de agosto de 1498, em Lisboa. Sabe-se, igualmente, que a mesma confraria, no século XVI, já dispunha de capela e de hospital, tendo sido a primeira instituição de carácter assistencial em Cascais, ligada aos homens do mar. Conhece-se ainda uma provisão do rei D. Filipe I, datada de 1587, que autoriza a anexação do Hospital dos Mareantes e Pescadores à Misericórdia de Cascais(5), com suas rendas, foros e bens. Em meados do século XVII, terá sido ainda sede de freguesia, durante as obras de construção da Igreja de Nossa Senhora da Assunção, conforme nos descreve o padre Marçal da Silveira, em 1758, “Naquella do Socorro foi muntos anos freguesia onde Se administravão os sacramentos enquanto se fabricava a da principal Freguezia”(6). Porém, por altura do terramoto de 1755, a capela já não se encontraria ativa, conforme nos é informado pela mesma fonte “(…) está toda demolida sem forma alguma já de templo, porque aquelles(7) construíram hum famozo templo, todo de cantaria lavrado, e Rotundo (…) que ao prezente se servem”, referindo-se à atual Igreja dos Navegantes. Este templo, também conhecido como igreja dos “homens do mar” terá então sido construído no início do século XVIII, conforme nos é noticiado por uma petição que os pescadores enviaram a Roma, em 20 de maio de 1715, pedindo “a abolição das multas impostas pelo pároco da freguesia”(8) pelo facto dos homens do mar irem para a pesca sem assistirem à missa, alegando ainda “que estavam fabricando a igreja dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres e a São Pedro Gonçalves Telmo, onde os pescadores e mareantes tinham o seu capelão para lhes dizer missa aos Domingos e dias de festa”(9), (figs. 4 e 5). Este documento assume especial importância pois confirma a cronologia mencionada, referindo ainda as invocações do novo templo, erigido a expensas da Confraria de Nossa Senhora do Socorro(10) e chama-nos a atenção para a contribuição dada pelos mareantes e pescadores na edificação de vários templos em Cascais. Desta forma, a igreja ainda não estaria terminada em 1720, mas já estaria pronta para celebração do culto na sequência da conclusão da capela-mor, como se pode confirmar pela provisão concedida pelo cardeal-patriarca Tomás de Almeida aos pescadores e mareantes, a 29 de abril de 1720, para a bênção do novo templo. Os homens do mar pedem, então, licença para transferir «em procissão» todas as imagens que estariam na antiga capela de Nossa Senhora do Socorro, entre as quais as imagens alusivas aos oragos “(…) para se benzer dtª Ermida e capela Mayor della e licenza para se mandarem para a mesma em procissão as dtas imagens de Nossa Senhora dos Prazeres e de S. Pedro Glz e mais alguma que na dita Ermida antiga estiverem”(11). Este novo templo teve então como orago, S. Pedro Gonçalves Telmo, protetor dos homens do mar(12), também conhecido como São Telmo, ou simplesmente “St. Elmo” (13). Na linguagem vulgar dos mareantes portugueses era também conhecido como «Corpo Santo» tendo-lhe sido “dedicadas algumas igrejas e muitas capelas, altares e confrarias”(14). Para além do protetor dos homens do mar, a atual Igreja dos Navegantes teve, igualmente, na sua origem a invocação a Nossa Senhora dos Prazeres, culto mariano associado à comemoração das sete alegrias que Nossa Senhora teve na terra, pela ressurreição de seu filho(15). Deste modo, e já em 1715, o templo era conhecido como Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres e São Pedro Gonçalves Telmo(16), em conformidade com o título da sua irmandade, que terá sido fundada em 1682, conforme informação que consta do seu alvará, e que teve nas suas origens a Confraria de Nossa Senhora do Socorro. Embora desconheçamos a data de extinção desta última confraria, certo é que, ao longo da primeira metade do século XVIII a primitiva capela terá sido votada ao abandono, situação que se tornou efetiva com o terramoto de 1755, que a arruinou. No que concerne à Irmandade de Nossa Senhora dos Prazeres e São Pedro Gonçalves Telmo, e face a problemas financeiros, provavelmente relacionados com a despesa das obras de edificação da nova igreja (atual Igreja dos Navegantes) e à paulatina perda de prestígio dos mareantes(17), conheceria o seu fim em finais do século XIX. Por escritura datada de 26 setembro de 1844, a Ordem Terceira de S. Francisco da vila de Cascais passaria a coadministrar a Igreja dos Navegantes, juntamente com a Irmandade de Nossa Senhora dos Prazeres e de S. Pedro Gonçalves Telmo, até à sua extinção. Em 1873 a Igreja dos Navegantes mantinha ainda a invocação de São Pedro Gonçalves(18), embora a confraria já não existisse em 1856(19). Terá sido então a Ordem Terceira de S. Francisco que tomou “a seu cargo a celebração das festas dos marítimos, desde que foi suprimida a Irmandade”(20). Em 1911 o templo foi entregue à Paróquia de Nossa Senhora da Assunção e da Ressurreição de Cristo, situação que se mantém inalterada até aos nossos dias(21). De planta retangular, a Igreja dos Navegantes, caracteriza-se pela sua arquitetura barroca. A fachada principal possui duas torres sineiras, que foram concluídas apenas em 1942, com projeto de autoria do arquiteto Tertuliano Marques (figs. 6 - 9), e por iniciativa de uma comissão fabriqueira composta pelo pároco da freguesia, padre Moisés da Silva, D. António e D. Joaquim Castelo Branco, entre outros(22). As torres assentam sobre um corpo tripartido, destacando-se o pórtico e o remate contracurvado do frontão, também alterado nesta última campanha de obras. Consiste numa das raras igrejas portuguesas setecentistas em que a planta da nave é octogonal, forma pouco percetível na sua volumetria exterior (fig. 10). No interior, dois painéis setecentistas, situados na capela-mor, assinalam os antigos oragos do templo (figs. 11 e 12). São datáveis de 1715-20, com autoria atribuída ao pintor Teotónio dos Santos, e representam o aparecimento de Nossa Senhora dos Prazeres e São Pedro Gonçalves Telmo a marítimos em perigo(23). A nave apresenta dois altares laterais(24), provenientes provavelmente do Convento de Nossa Senhora da Piedade, em Cascais. Os azulejos da sacristia, datados de 1729, e que segundo José Meco, deverão ser da autoria de Valentim de Almeida, representam paisagens com cenas marítimas, tendo ao centro a Virgem(25). A data indicada representará então a conclusão desta área da igreja. Testemunhos e algumas fontes referem a existência de uma eventual procissão até ao século XIX, nomeadamente até 1834, por altura da abolição das ordens religiosas em Portugal e da realização de «festas dos marítimos»(26). Nestas celebrações seriam as imagens de Nossa Senhora dos Prazeres e de São Gonçalves Telmo, antigos oragos do templo, que sairiam em procissão. A procissão em honra de Nossa Senhora dos Navegantes é uma celebração de cariz religioso que ocorre em Cascais, associada à comunidade piscatória local. A procissão, que inclui cortejo por terra e por mar, decorre durante o verão, no mês de agosto, consoante as marés, encontrando-se integrada atualmente nas Festas do Mar de Cascais. Nossa Senhora dos Navegantes é um dos muitos títulos atribuídos a Maria, Mãe de Jesus, estando associada, em Portugal, às comunidades piscatórias e à proteção dos mareantes, sendo venerada em várias localidades da costa portuguesa. Não tendo sido possível aferir a cronologia associada à origem da devoção a Nossa Senhora dos Navegantes, em Portugal(27), certo é que, em Cascais, a primeira evidência de culto remonta à data de conclusão das obras da Igreja dos Navegantes, nomeadamente das suas torres sineiras e frontão, no ano de 1942. Para além de Cascais, também se realiza uma evocação, embora em moldes diferenciados de realização, na Gafanha da Nazaré – Ílhavo; na Praia da Vieira – Marinha Grande; em Armação de Pêra – Silves e na Ilha da Culatra – Faro. Também no Brasil a devoção a Nossa Senhora dos Navegantes é bastante significativa, nomeadamente em Santa Catarina e Porto Alegre estando associada ao mar e à proteção dos marinheiros, com a realização de uma procissão durante o mês de fevereiro. Esta devoção teria sido levada pelos “homens do mar”, nomeadamente os portugueses. Assim, em 1942, a comunidade piscatória realizou a que terá sido a primeira procissão em honra de Nossa Senhora dos Navegantes. Ferreira de Andrade descreve da seguinte forma o evento religioso “[…] uma grande procissão com 6 andores e 3 bandas de música percorreu as ruas de Cascais e desceu à praia da Ribeira, quando se completaram as duas torres da Igreja dos Navegantes, a 9 de agosto de 1942»(28). A procissão terá sido organizada por uma comissão composta pelo pároco da freguesia, padre Moisés da Silva, coronel Lencastre e Carlos Granja. Terá sido também nesta altura que uma nova imagem(29), de autoria dos escultores irmãos Maia, do Porto, saiu pela primeira vez em procissão, tendo ficado, provavelmente, e a partir desta data, a ser a padroeira dos homens do mar de Cascais(30). Foi oferecida por beneméritos da vila de Cascais, e representa a Nossa Senhora com o menino no braço esquerdo, com o resplendor carregado de estrelas sobre uma nuvem assente num barco, no qual um pescador se ajoelha perante a imagem e um anjo mantém-se ao leme. Os periódicos locais (31) não mencionam a realização de semelhante procissão em data anterior a 1942, nem tão pouco à realização de qualquer Festa do Mar ou Festa do Pescador, onde uma suposta procissão poderia ter sido integrada, como acontecerá posteriormente. Há sim, em 1934, referências a uma «Festa da Costa do Sol» que terá ocorrido no Estoril (fig. 13), e que contou com a participação da «gente do mar», através da realização de um «vistoso e luzido cortejo»(32). Também em 1936(33) o mesmo periódico menciona a realização de «Festas Náuticas», desta vez em Cascais, em honra do Presidente da República Óscar Carmona, e que contou com a realização de um desfile de embarcações e provas de cariz desportivo. Este evento de carácter lúdico tinha, igualmente, um objetivo social, pois a receita da festa revertia a favor dos pescadores de Cascais. Outros eventos, também de cariz social, e já a favor do Cofre de Previdência da Casa dos Pescadores, são mencionados nos periódicos locais e na correspondência da Sociedade Propaganda de Cascais, entre 1939 e 1941(34). Estas festas ocorreram um ano após a inauguração da «Casa dos Pescadores de Cascais», a 10 de outubro de 1938, na sequência da política de organização corporativista relacionada com o trabalho marítimo e levada a cabo pelo Estado Novo. Assim, e através da Lei 1:953, de 1937, delineou-se a criação “em todos os centros de pesca, de organismos de cooperação social, com personalidade jurídica (…)”(35) das chamadas «Casa de Pescadores». Estes organismos que tinham como função a «representação profissional»; «educação e instrução» e «previdência e assistência» aos pescadores e restantes trabalhadores associados ao mar. A inscrição era obrigatória para todos os inscritos que possuíssem cédula marítima, quer trabalhassem nos barcos ou na praia, como os pescadores ou os auxiliares de pesca. As casas dos pescadores tinham ainda “por dever conservar e acarinhar todos os usos e tradições locais, especialmente os de natureza espiritual, que estejam ligados à formação dos sentimentos e virtudes da gente do mar”(36). Certo é que em meados do século XX, denota-se um crescente interesse em promover Cascais a nível turístico. Para tal muito contribuiu a Sociedade Propaganda de Cascais, fundada em 20 de março de 1934, na sequência da criação da Sociedade de Propaganda Nacional, instituída por António Ferro, em 1933. Tendo como principais objetivos a divulgação dos costumes e tradições, história e património de Cascais, esta sociedade organizou e promoveu, durante vários anos, uma série de eventos de caracter religioso, assim como, eventos de carácter lúdico, tais como: concursos hípicos, nacionais e internacionais, corsos de Carnaval, concurso de montras, batalhas de flores, marchas populares, entre tantas outras atividades(37) que iriam contribuir decisivamente para o desenvolvimento de Cascais. Através de fontes documentais presentes na correspondência da Associação de Propaganda de Cascais encontraram-se referências a uma alegada exposição fotográfica que terá sido realizada em Cascais e que pretenderia “mostrar os aspetos mais relevantes da procissão ocorrida a 9 de agosto”(38). Também, e por via indireta, chega-nos uma notícia mencionada no Jornal do Pescador, de 31 de agosto de 1942, que descreve a procissão da seguinte forma: “Foi coisa muito bonita de ver e de apreciar a festa que os pescadores e marítimos de Cascais fizeram (…) com o patrocínio das autoridades locais e da Casa dos Pescadores, para conduzirem a imagem de Nossa Senhora dos navegantes, processionalmente, para a sua igreja, reconstruída (…). Na ampla baía fundearam todos os cercos, galeões e traineiras da frota de pesca; e ao seu lado vieram alinhar algumas dezenas de embarcações de desporto e recreio”(39) (figs. 14 a 17). Desconhecem-se vários pormenores referentes a este primeiro cortejo, como por exemplo qual seria a composição dos andores e todas as entidades que estiveram envolvidas. Não obstante esta lacuna de informação e através de fotografias da época e relatos posteriores(40) subentende-se, relativamente ao traje, que haveria um vestuário mais formal – pelo menos para alguns dos participantes, do que apenas o simples traje dos pescadores e varinas, usados atualmente. Este seria então composto por capas azuis e fatos brancos apertados por um cordão, que pertenceriam à paróquia. Relativamente à «Festa do Mar», a mais antiga referência aferida nos periódicos locais é do ano de 1964, e por ocasião das Comemorações do VI Centenário da elevação de Cascais a Vila. Após este ano foi substituída pela «Festa dos Pescadores» iniciada em 1965, e por iniciativa do capitão-tenente António Cardoso, capitão do Porto de Cascais. Retorna a «Festa do Mar» novamente em 1966, contando com o apoio da Junta de Turismo da Costa do Sol. Após uma pausa de um ano, em 1968 e 1969, os festejos regressam, desta vez denominados nos periódicos locais como «Festa do Pescador», cuja organização esteve a cabo do jornal “A Nossa Terra” propriedade do Grupo Dramático e Sportivo de Cascais. Também em 1968 temos já referências a uma nova procissão em honra a Nossa Senhora dos Navegantes e incorporada no evento lúdico, denominado pelos jornais da época como «Festa do Pescador» (fig. 18). O jornal “A Nossa Terra”(41) deu grande destaque ao evento, não fosse ele o grande impulsionador desta iniciativa, tomando a seu cargo a organização da mesma. Para além da organização do evento, por parte deste periódico e na pessoa de Frederico Vidal, administrador designado para esse ano, a «Festa do Pescador» de 1968(42) beneficiou, igualmente, do patrocínio da Câmara Municipal de Cascais, da Casa dos Pescadores, da Junta de Turismo da Costa do Sol e da Capitania do Porto de Cascais. Realizada entre 7 e 8 de setembro, contou com bastantes atrativos de carácter lúdico como: arraiais, ranchos, provas desportivas, entre outros. A procissão ocorrida no domingo, dia 8, terá percorrido algumas ruas da Vila de Cascais, passando pela Igreja dos Navegantes, descendo à atual Alameda dos Combatentes da Grande Guerra, em direção à praia da Ribeira (fig. 19). Incorporavam a procissão as «gentes do mar» com os seus trajes tradicionais e várias entidades oficiais, civis e militares, para além das várias bandas de música. O jornal “A Nossa Terra” alude ainda para os seis andores que compunham a procissão: Nossa Senhora da Guia, Santo António, S. Sebastião, S. Miguel, S. Pedro e Nossa Senhora dos Navegantes. No entanto não há nenhuma referência a um cortejo marítimo, mas sim a uma «bênção do mar». O mesmo periódico a 13 de setembro de 1968, descreve o momento da seguinte forma: “Foi impressionante a Bênção do Mar. O palio desceu à praia, enquanto a procissão aguardava em cima, para lá do paredão. Na baía, os arrastões e até as chatas e traineiras exibiam orgulhosamente o seu perfil engalanado (…)(43). No mesmo número há igualmente uma referência a um «cortejo luminoso» que terá ocorrido nessa noite e no qual participaram pescadores, varinas, a população em geral e assistência que seria composta por muitos turistas (…) todos eram portadores de archotes acesos, numa feérica demonstração destas festividades populares.”(44). Já no ano de 1969, e apesar das dificuldades sentidas com a organização da «Festa do Pescador», referenciadas nos jornais locais como devido a «falta de verbas», esta foi uma realidade que se concretizou entre 20 e 28 de setembro, e da qual fez parte, novamente, uma procissão em honra de Nossa Senhora dos Navegantes, desta vez com menção ao embarque da imagem que terá «seguido a rota pela orla marítima do concelho»(45) (fig. 20). A procissão foi precedida por uma missa celebrada na Igreja dos Navegantes. Entre os vários eventos incluíram-se provas desportivas, jogos lúdicos e atuações musicais. Este retomar da celebração da procissão de Nossa Senhora dos Navegantes durou três anos consecutivos até 1970. A procissão beneficiou de um grande destaque(46), (fig. 21) pois contou, nesse ano, com a presença do Almirante Américo Thomaz, Chefe de Estado, que assistiu ao cortejo marítimo, a bordo da fragata de guerra «Comandante Roberto Ivens»: “A presença do ilustre Chefe do Estado, Sr. Almirante Américo Tomás, foi a melhor participação que a Marinha de Guerra podia ter dado à Festa do Mar.”(47). A procissão, ocorrida a 5 de julho, foi precedida de missa ocorrida na Igreja dos Navegantes. Foi constituída pelos andores de “Nossa Senhora (?), Anjo da Guarda e S. Sebastião”(48) e acompanhada pela Banda da Sociedade Musical de Cascais. A procissão esteve inserida num programa mais alargado de festas, esse ano denominado como «Festa do Mar»(49), ocorrido entre 4 e 12 de julho, e que contava com várias provas desportivas e eventos lúdicos, finalizando sempre com o habitual fogo de artificio. Nesse ano o evento foi novamente organizado pelo jornal “A Nossa Terra” e patrocinado pela autarquia, Junta de Turismo, Capitania do Porto de Cascais e pela Casa dos Pescadores. Neste periódico uma notícia afirmava: “Em Portugal, em Cascais, não há mar sem pescador, não há pescador sem mar … A festa dum é, por isso mesmo, a festa do outro.”(50). A partir de 1970 verifica-se então um novo hiato, não havendo nos periódicos locais mais nenhuma referência a semelhante procissão até ao ano de 1992. Desta vez a procissão apareceria incorporada nos festejos no «Dia da Marinha», em Cascais. A partir desta última data têm-se vindo a realizar anualmente até aos dias de hoje, integrada nas denominadas «Festas do Mar». Entre o período de 1970 a 1992 existem algumas referências pontuais de festejos, mas sem grandes abordagens. Contudo, no ano de 1984 houve uma indicação de suspensão por parte do pároco(51). É autêntico que as referências documentais do ano de 1984, e até mesmo de 1985, referirem a própria «Festa do Mar» envolvida em algumas controvérsias(52), com algumas alusões a eventuais festejos, organizados pela Junta de Turismo da Costa do Sol, e compostos por provas de natação e remo, ranchos folclóricos e uma garraiada na praia da Ribeira (figs. 22 e 23), mas nenhuma alusão à procissão em honra a Nossa Senhora dos Navegantes devidamente estruturada. No ano de 1992 a procissão volta novamente às ruas, e só neste ano é que se voltou a encontrar na imprensa local referências a esta cerimónia religiosa em Cascais, desta vez incorporada nos festejos do Dia da Marinha em Cascais, que ocorreram nos dias 4, 5 e 8 de julho(53). No dia 5 terá então saído à rua e “após dez anos de interrupção a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes”(54) transportada até ao pontão “onde tomou lugar no barco”, havendo pouca descrição nos periódicos acerca da mesma. Os festejos contaram com um desfile militar e naval, do qual fez parte o lançamento de um ramo de flores à água por intenção dos que morreram no mar(55). Segundo notícia publicada no jornal “Magazine”(56) o cortejo terá sido constituído por seis andores, São Gabriel, Nossas Senhoras da Conceição, das Dores, da Guia, da Assunção e finalmente o andor de Nossa Senhora dos Navegantes. Organizada pela Associação de Armadores de Pesca de Cascais, contando, nesse ano, com a colaboração de várias entidades oficiais e particulares de Cascais, como é o caso da autarquia e da Sociedade Propaganda de Cascais, entre outros. A manifestação de fé numa invocação a Nossa Senhora dos Navegantes volta a sentir-se. A decisão em retomar com uma procissão ligada às gentes do mar é-nos descrita através de uma notícia do jornal “Costa do Sol”, de 16 de janeiro de 1992, tendo como mote a construção do molhe de abrigo de proteção da baía, referindo que uma “(…) recém-criada associação de armadores de pesca de Cascais»(57), sob a forma de seu presidente Henrique Anjos, desejaria reatar com uma «velha tradição da vila» referindo-se a notícia à procissão de Nossa Senhora da Guia. Curioso terá sido a pronta resposta, enviada por Pedro Falcão, no mesmo periódico, desta vez de 30 de janeiro, e que tinha como título “Procissão de Nossa Senhora da Guia, Não! Nossa Senhora dos Prazeres e Nossa Senhora dos Navegantes, SIM!”(58). Tal como foi mencionado anteriormente, só em 1942 é que se realizou e saiu pela primeira vez a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes em procissão(59), embora haja confusão entre vários relatos que afirmam ainda que esta terá substituído a procissão em honra de Nossa Senhora da Guia(60). Quanto a este assunto José d´Encarnação menciona que “Havia, sim, em tempos idos, até à década de 50 do século passado, a romaria a Nossa Senhora da Guia”(61) cujo andor incorporava a procissão de Nossa Senhora dos Navegantes. O Presidente da Associação Cultural de Cascais e Professor Guilherme Cardoso afirma que: “Até o mapa francês do século XVIII que indica o sítio da Guia é Nossa Senhora do Mar, portanto. Acaba por ser a Nossa Senhora dos Navegantes que é daqui deste momento que guia e as procissões para a Nossa Senhora da Guia começam exatamente no século XVI e são de Lisboa, que depois integrou também o povo de Cascais. Eles vinham por mar inicialmente de Lisboa aqui, num determinado período fazer a procissão, depois saiam da baía de Cascais e iam a pé à Nossa Senhora da Guia estavam ali em festa dois, três dias e voltavam para Lisboa. Portanto, o que retoma nos últimos anos a Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes é exatamente parte dessa memória que ainda alguns mais velhos mantinham. E que souberam transmitir, os mais novos que neste caso os mais velhos, quando eram novos, novos tinham visto e conseguiram transmitir aos mais novos. Portanto, isso é muito importante a transmissão. O sentimento, evidentemente que o homem do mar é, tem que ser automaticamente, por si, como homo, grande crente, tem que acreditar nalguma coisa porque quando ele está sozinho numa embarcação, ou mesmo acompanhado numa embarcação, ele está quase a naufragar, quando muitas vezes naufraga, tem de se socorrer de algo, de algo que não é tangível, portanto, o inatingível, o imaterial, como a gente como dizer. E neste caso terá Deus e os Santos, portanto nesta gente será a Nossa Senhora dos Navegantes que está ligada a Cascais.” (Entrevista de 17/03/2022). A importância desta celebração era muito vincada por todas as partes intervenientes, assim como pela população e desde 1992 que o propósito de um futuro de continuidade para esta manifestação já era sentido conforme afirmou João Parracho Nascimento “Que o regresso da procissão este ano às ruas de Cascais seja para continuar, é este o desejo do povo de Cascais, ou pelo menos aquele que tem dentro de si qualquer coisa desta terra e sinta por ela o amor que ela merece.”(62). A realidade dos festejos que decorreram no ano de 1992 encontra-se devidamente documentada no Arquivo Histórico, com presença de uma planificação devidamente estruturada e as folhas de cálculos de despesas(63). A procissão realiza-se com a organização das duas associações piscatórias ligadas a esta atividade: a Associação de Armadores e Pescadores de Cascais e a Associação de Profissionais de Pesca. A autarquia patrocina e apoia a celebração com a atribuição de verbas para os barcos e vestuário dos pescadores, assim como, para as flores que ornamentam os andores, promovendo-a ainda através da comunicação local. Apesar de se integrar nas "Festas do Mar", a procissão é o momento mais solene destes festejos, associada à prática do sagrado. O ano de 1992 surge assim como o marco vinculativo à necessidade do regresso das tradições cascalenses com especial destaque para a Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes, (figs. 24 e 25). Mesmo nos anos de 2020 e 2021, que foram atípicos para toda a vivência social, estes eventos realizaram-se (figs. 26 a 28). Embora com carácter simbólico realizou-se o ritual da Nossa Senhora dos Navegantes em procissão marítima desde a baía até à Guia com o lançamento das flores ao mar em honra dos defuntos. Tal como o padre Nuno Coelho afirmou “Nos tempos mais difíceis e mais complicados. A primeira vez, que era mesmo, ainda estávamos naquele primeiro ano, mesmo no meio, que não havia vacina, não havia nada. Éramos o quê, 7, 8 pessoas se tanto lá dentro do barco, se tanto. E um barco gigantesco, no mínimo. (…) Ia só um andor, o andor da Nossa Senhora dos Navegantes, e que já lá estava. Ou seja, não foi em procissão, foi montado lá no barco. E a única coisa que foi, foi uma equipa também de transmissão para fazer chegar ao máximo de pessoas possível, visto que não havia ninguém na rua, não havia ninguém. Nós nem sequer passámos pela baía. E ao chegar, nem chegámos à baía. Chegámos ali á marina a um sítio discreto, tranquilo, onde não estava ninguém. E foi muito engraçado porque estavam lá umas pessoas lá do café e lá do posto de abastecimento lá dos barcos e ficaram fascinados quando de repente têm a Nossa Senhora, que nunca vêem, não é? Então fez-se ali uma pequenina celebração, para aí com 10 pessoas, não é? E pronto. E levaram as flores também para levar para casa, e essas coisas todas. Mas era o padre e mais 6 ou 7 para tirar o andor. Só, mais nada.” (Entrevista de 03/03/2022). As festas atuais enquadram ainda um conjunto de atividades lúdicas, desportivas, culturais e de animação, e são atualmente designadas por «Festas do Mar». Contudo, a procissão mantém a sua unicidade e o seu programa inicial, contribuindo largamente para a dinamização nas suas várias vertentes, assim como, para uma caracterização identitária e cultural da Vila de Cascais. A revificação desta procissão é sentida por cada um dos intervenientes, quer sejam membros da organização, voluntários, munícipes ou simples turistas que se apresentam nesse dia em Cascais, tal como podemos ler na recolha de testemunhos ao longo dos anos: “(…) cumprindo o desejo e a promessa, de que os santos os protejam na sua “terra de cultivo”, onde arriscam suas vidas, para ganharem o pão nosso de cada dia. “Nossa Senhora dos Navegantes” ajudai os pescadores e fazei com que a rede fique cheia.”(64). Este simbolismo contém ainda uma manifestação de agradecimento e de proteção de Nossa Senhora a todos os navegantes, uns para o sustento diário e outros enquanto viajantes e desportistas marítimos. Os pescadores António Ramos(65) e Carlos Gabriel reforçam esta afirmação todos os anos. Ou seja, nas afirmações como: “Tínhamos de agradecer a Nossa Senhora dos Navegantes por nos ter encaminhado e ajudado nos bons e nos maus momentos durante um ano. É que nós andamos o ano inteiro por cima da água e às vezes não é nada fácil.” ou em 2015 quando afirma que “As redes aquilo a gente tem que se contentar com aquilo que Deus nos dá. Sempre fui um homem de fé. Aquele esforço que eu faço para fazer a procissão, isso tudo é uma forma de eu pagar a realização de eu ter saúde e chegar vivo procissão após procissão.” (António Ramos, 2015(66)), e de Carlos Gabriel quando declara que “(…) a gente até quando era miúdo era sempre muito lindo. Depois continuou sempre a tradição (…) e tem de se continuar (…) espero que nunca pare.” (Carlos Gabriel, 2015(67)). Também as peixeiras que com a sua dura vida de trabalho e sacrifício familiar invocam “Se não houver peixe como é que posso trabalhar. Já lá vão 30 anos nesta vida, agora com ajuda de uma filha. Claro que também vimos agradecer à nossa padroeira. Eu – e apontando ali ao lado -, filha, filho, netas e um bisneto. Somos nós, as varinas que enfeitamos os andores para o cortejo.”(68). Recentemente o pároco Nuno Coelho reforça este sentimento de fé através das afirmações “(…) e a proteção. Há muito isso, sim. Por exemplo, não é só olhar, não é só olhar para o passado, para o que aconteceu, para tentar mais ou menos ficar, ficar, ficar, não é resolvido, mas ficar bem arrumado. Mas é sobretudo, a vida continua, não é? (…) E no dia a seguir eles têm de ir para o mar na mesma, não é? (…) Têm um ano de mar, vão passar, vai haver o outono, o inverno, e a primavera, por isso vai mais um grande desafio. Por isso saber que estão, estão, também, a sentir que estão com este colo materno, bem protegido. Sim. Absolutamente. Sim. Não é só, não é só o olhar para o passado, olhar para trás. É saber que a vida está cheia de desafios e dificuldades e precisamos dessa, dessa fé para ficarmos ainda mais, mais fortalecidos para as, para as enfrentar. Não é? Sim. Absolutamente.” (Entrevista 03/03/2022). Desde então, mantém-se de forma ininterrupta até aos dias de hoje. Até nos anos de pandemia se realizou, conforme já foi mencionado. O carácter simbólico de fé e devoção dos pescadores, apoiados pela Câmara Municipal, permitiu a realização da procissão marítima apenas com a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes da baía de Cascais até à Guia para a realização de uma pequena oração e lançamento das flores ao mar. A realização das festas alusivas ao pescador ou ao mar, durante alguns anos, tal como já foi mencionado, esteve sob a responsabilidade da Sociedade de Propaganda de Cascais (promotora de algumas tradições cascalenses) e da Casa dos Pescadores que ofereciam um programa cultural diversificado com realização de festival de folclore, atuação de grupos de fado, rituais festivos e jogos tradicionais, como a realização de uma garraiada, jogos da subida ao pau ou a largada de patos, regatas de barcos tradicionais, e a celebração religiosa da procissão no último domingo do programa das festas(69). Tal como António Ramos afirma: “Antigamente as Festas do Mar havia garraiadas, havia patos, havia subida ao pau de sebo e havia corridas nas chatas.” (Entrevista 12/10/2022). O planeamento desta procissão encontra-se há cerca de 25 anos sob a orientação do pescador António Ramos, que representa a mais antiga associação de pescadores de Cascais, hoje denominada por Associação de Armadores e Pescadores de Cascais. Apesar da Sociedade de Propaganda de Cascais deixar de integrar a organização do programa, as duas associações locais de pescadores, a Associação de Armadores e Pescadores de Cascais e a Associação de Profissionais de Pesca, a Câmara Municipal de Cascais e a Associação de Turismo de Cascais procuram manter esta tradição ativa na Vila de Cascais. Tal como António Ramos afirmou: “A minha, a procissão antigamente era organizada pela Sociedade de Propaganda em conjunto com a Associação dos Armadores e Pescadores de Cascais, e já foi há muitos anos, há trinta e tal anos, trinta e quatro, trinta e cinco anos. A pessoa, chamava-se, que organizava isso, ou que acompanhava essa situação, faleceu. E eu, como era, tinha sido aluno, ele batizou as minhas filhas e casou-me pela igreja, o Padre Raul, e ele sabia que eu era pescador, conhecíamo-nos há muitos anos. Acompanhou-me no meu crescimento todo, e também me batizou. E disse: Oh Ramos, tu estás lá na, és o Presidente da Associação dos Pescadores, o António Jorge faleceu, eu por acaso também sou António Jorge. O António Jorge faleceu e, entretanto, avanças tu. E eu: Sim Senhor. Na altura era o Centro Cultural, ainda pertencia à igreja, o Senhor Padre Raul deu-me, deu-me as chaves da igreja, deu-me a chave do Centro Cultural e eu e as varinas de Cascais na altura juntamente com as floristas engalanávamos as imagens lá, lá no Centro Cultural.” (Entrevista de 12/10/2022). Assim, atualmente, e após a integração da procissão nas «Festas do Mar», evento da responsabilidade de organização da Câmara Municipal de Cascais e da Associação de Turismo de Cascais, a programação apresenta uma diversificação musical com promoção e divulgação de artesanato e gastronomia em espaços preparados para esse efeito distribuídos pela zona da baía de Cascais (fig. 29). A tradição mantém-se no que respeita à realização da procissão e na salvaguarda da essência e propósito dos pescadores que a iniciaram, preservando esta recriação anual na forma de a transmitirem e manterem ativa na comunidade. A procissão é, assim, o momento mais solene destes festejos, associada à prática do sagrado. O pescador António Ramos, atual vice-presidente da Associação de Armadores e Pescadores de Cascais assume a função principal na organização e coordenação desta procissão junto dos pescadores. Já António Alves, da paróquia de Cascais, coordena as tarefas de cariz religioso. A colaboração de outros pescadores, dos serviços municipais, da Capitania do Porto de Cascais e demais cidadãos cascalenses que se disponibilizam, são essenciais para que esta tradição se mantenha e se realize anualmente. As duas associações de pescadores, a Associação de Armadores e Pescadores de Cascais e a Associação de Profissionais de Pesca, partilham a tarefa do transporte dos andores com os santos por via terrestre e marítima. A reunião preparatória ocorre com os elementos principais, pescador - António Ramos, paróquia de Cascais - António Alves, Câmara Municipal de Cascais e Capitania do Porto de Cascais, para definição da data e das necessidades e os apoios imprescindíveis. A igreja participa ativamente, contudo a organização é inteiramente da responsabilidade da Associação dos Armadores e Pescadores de Cascais, tal como o padre Nuno Coelho afirma “(…) isto é uma procissão da comunidade de Cascais, da comunidade dos pescadores, ou seja, sempre fizeram, deixem-nos fazer, eu também estou a aprender. Eu próprio estou aqui no meu papel, no meu lugar (…)”. (Entrevista de 03/03/2022). A data da procissão é determinada pelos elementos da organização e pelos pescadores e encontra-se condicionada pelas marés de um domingo do mês de agosto. Após esta decisão iniciam-se todos os contactos e organização das tarefas. A paróquia de Cascais, através de António Alves e em articulação com o pároco Nuno Coelho, preparam os santos que acompanham a procissão e os rituais religiosos que decorrem durante a mesma. Estabelecem-se os contactos entre as duas associações de pescadores locais e as suas embarcações disponíveis para o transporte na procissão terrestre e marítima (fig. 30). A Câmara Municipal auxilia com as equipas de trabalhadores necessários para os transportes dos andores e as imagens dos santos entre as igrejas e o espaço onde permanecem para serem ornamentados (figs. 29, 38 a 40 e 94), na atribuição de verbas monetárias à organização, para que possam definir a aquisição da indumentária dos pescadores e das peixeiras que participam na procissão, na aquisição das flores e serviços de florista para a ornamentação dos andores para transporte das imagens na procissão, através de um incentivo às embarcações que se apresentam engalanadas. O enriquecimento da procissão, com a presença de grupos locais de animação, como a fanfarra para a abertura e uma banda filarmónica do concelho para o encerramento do cortejo terrestre fica também à responsabilidade da Câmara Municipal. A realização das tarefas principais para a realização da procissão decorre desde quinta-feira a segunda-feira, da data definida. No ano de 2022 a procissão realizou-se no dia 28 de agosto. Na quinta-feira, dia 24 de agosto, o responsável da organização, o pescador António Ramos deslocou-se, em conjunto com os trabalhadores da Câmara Municipal, ao Bairro de Santana e à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção para efetuarem o transporte dos andores em número correspondente às imagens que estão previstas saírem na procissão. É avaliado o estado de manutenção dos mesmos e ordenadas no espaço definido para a posterior ornamentação. Este espaço vai variando consoante a disponibilidade existente. Se em tempos foi no quartel da Cidadela, recentemente era no Centro Cultural de Cascais. Este ano de 2022 face à alteração da ocupação dos espaços esta tarefa foi desenvolvida numa área camarária existente na Marina de Cascais. Todas as necessidades de manutenção dos andores, fixação das imagens e preparação das zonas da aplicação das flores realizaram-se durante a tarde de quinta-feira pelo António Ramos (fig. 29 a 36). No sábado decorreu a aplicação de todas as insígnias de cada santo pelo António Alves da paróquia de Cascais, com apoio do munícipe Pedro Ricardo (fig. 35). Este ano as imagens que saíram na procissão foram as da paróquia de Cascais, a Nossa Senhora dos Navegantes (figs. 39, 55, 59, 75, 78, 81, 91 e 94), Nossa Senhora de Fátima (figs. 41, 56, 89 e 92), Nossa Senhora da Assunção (fig. 34), Nossa Senhora das Dores (figs. 33, 35, 46, 73, 76, 77, 89 e 90), Nossa Senhora da Guia (figs. 32, 41, 80 e 87), Sagrado Coração de Jesus (figs. 38, 49, 80 e 88), São Sebastião (fig. 41), da capela de S. Brás de Areia veio a imagem de São Brás (figs. 40, 41, 45, 53 e 80) e dos Salesianos do Estoril veio a Nossa Senhora Auxiliadora (figs. 48, 54 e 93). Pedro Ricardo, munícipe e salesiano, demonstra a sua fé e gratidão nesta participação “(…) somos quatro homens com as respetivas esposas que não somos pescadores. E penso que somos os únicos a integrar a procissão que levamos uma imagem que digamos que não são dos pescadores transportados por pessoas que não são pescadores. Mas que somos de Cascais. Então, para nós é uma honra levar uma imagem que não era habitual integrar a procissão, mas que toda a gente a conhece. (…) É um sentimento misto. Para já é uma honra podermos levar o andor de Nossa Senhora nas festas, por outro lado é a fé que cada um de nós vive. Ah, a devoção que tenho a Nossa Senhora. E eu gosto de dizer que Nossa Senhora só há uma, os títulos é que são muitos. Para os pescadores, eles vêm agradecer a faina do mar, vêm rezar pelos mortos, pelos pescadores que já morreram e vêm pedir para que o ano corra bem para eles. Para nós família Salesiana é o amor que temos a Nossa Senhora, é uma mãe que temos ao nosso lado, é alguém a quem nós podemos socorrer todos os dias, a quem devemos pedir ajuda. Há pessoas que dizem que se nós não pedirmos ajuda a Nossa Senhora, Ela não nos ajuda. Por isso quanto mais vezes pedirmos, ou algum milagre, Ela vai conceder. Mas, é um misto, é um misto de emoções.” (Entrevista de 01/09/2022). A ornamentação dos andores decorreu durante o dia de sábado (figs. 32 a 34 e 36). Esta tarefa sempre foi realizada pelas peixeiras, com particular destaque para a Matilde Firmino, Aurora Firmino, e a Maria da Luz Domingos que a realizavam e orientavam. Com o tempo e as limitações de saúde, principalmente da Matilde Firmino esta tarefa foi complementada com recurso à Florista do Mercado, há cerca de 10 anos. No ano de 2022 a sua realização foi desenvolvida essencialmente pela Florista do Mercado (Lurdes Neves, Rita Vidigal, Lucília Guerreiro e Maria Seguro) que enfeitaram os andores mantendo a tradição das peixeiras: a escolha das flores da época e as suas cores de acordo com as vestes dos santos procurando manter a tradição de acordo com os princípios adotados pelas peixeiras, e que lhes foram transmitidos nos anos de partilha. As floristas, tal como as peixeiras o faziam, preparam também as coroas e os ramos de flores (figs. 36) para serem distribuídos pelas embarcações e lançados, no final, ao mar junto à Guia. Rita Vidigal refere que há cerca de dez anos que começaram a ajudar as peixeiras, mas este ano foi o primeiro ano que realizaram a tarefa sozinhas e afirmou que: “É assim, foi mais ou menos, por volta, há cerca de 10 anos. Quando a Matilde adoeceu ah, nós começamos a ajudar, ah, na execução dos andores. Até então nós só fornecíamos as flores. A partir desse momento que nos foi solicitada a ajuda, porque a Matilde nos pediu e nós começamos a ajudar. Ah, entretanto, começamos a fazer só nós sozinhas há relativamente pouco tempo. Pronto. Ainda antes do covid a Matilde teve connosco e ajudou-nos a última vez que a procissão saiu, portanto nestes dois anos de interregno, por causa do covid. Ah, e entretanto, passamos a fazer nós sozinhas. As peixeiras costumavam vir ajudar todas em equipa. Era uma equipa de peixeiras que faziam a execução dos andores. Ah, e nós queremos honrar essa tradição e manter essa tradição que elas que tanto valor, que tanto prezavam de na procissão das festas do mar.” (Entrevista 27/08/2022). Os pescadores durante o domingo de manhã dedicaram-se a engalanar as suas embarcações para a realização da procissão marítima e António Alves, da paróquia de Cascais, preparou o altar junto à baía para a realização das cerimónias (fig. 37). “E se armadores e pescadores se encarregaram de limpar e enfeitar com palmas os barcos, coube às varinas a decoração dos andores, feita no sábado à tarde para as flores se manterem viçosas. Assim, logo após o almoço, meia dúzia de mulheres do mar, algumas ligadas por laços familiares, juntaram-se num dos armazéns da Cidadela, onde as esperava a árdua tarefa de “preparar” imagens e andores, para que no dia seguinte brilhassem na procissão. Mães, filhas e até netos todos se entregaram à tarefa de alma e coração. Foi o caso de Matilde e Aurora Firmino, Maria da Luz e Pilar Verdigaia, da Vera Adivinha e da pequena Jessica, que durante toda a tarde preparam as mais belas flores da época, entretecendo com elas belos tapetes multicoloridos sobre os andores, onde as imagens repousavam” (70). Durante o início da tarde os andores foram transportados e alinhados junto ao Centro Cultural de Cascais (figs. 38 a 42). Pelas 15h iniciou-se a cerimónia com saída da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção (fig. 43). A procissão alinhou-se da seguinte forma: a Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Alcabideche (fig. 44), seguida da cruz processional acompanhada por duas lanternas de procissão transportadas por acólitos. A disposição dos andores na procissão orienta-se em consonância com as embarcações dispostas no cais de embarque. Iniciava o andor de São Sebastião, seguido do de São Brás e da Nossa Senhora da Guia. Posteriormente seguiu a bandeira da Associação de Armadores e Pescadores de Cascais transportada pela Aurora Firmino e acompanhada por familiares, devidamente vestidas a rigor, de peixeiras e pescadores (figs. 46 e 82). A participação nesta procissão representa um conjunto de emoções fortes “A mim representa muita coisa. Representa a fé, a paz. (…) E é a nossa salvadora da pátria. É a quem nós, ou quando se vê o mar bravo ou quando se vê, é com quem a gente se agarra de facto é à Nossa Senhora dos Navegantes (…)”, tal como Aurora Firmino o refere na reportagem de 2015 (anexo 4). Seguiu-se o andor de Nossa Senhora das Dores e a peixeira Maria da Luz Domingos acompanhada igualmente pela família vestidos a rigor de peixeiras e pescador (fig. 47). O andor de Nossa Senhora Auxiliadora, o de Nossa Senhora da Assunção, de Nossa Senhora de Fátima, de Nossa Senhora dos Navegantes e do Sagrado Coração de Jesus, alinhavam por esta ordem. Posteriormente seguia o estandarte da paróquia de Nossa Senhora da Assunção de Cascais (fig. 43), e o estandarte da Legião de Maria do grupo de Cascais (fig. 50), seguido do estandarte de Nossa Senhora Auxiliadora dos Salesianos do Estoril (figs. 50 e 83). Os párocos, Nuno Coelho (paróquia de Cascais) e João Paulo antecediam os acólitos que transportavam o turíbulo e a naveta com o incenso e o pálio composto de seis postes que foi transportado pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Cascais e seu executivo e por elementos da Capitania do Porto de Cascais (figs. 51 e 52). O pálio protege o Santíssimo Sacramento dentro da Custódia que é levado pelo pároco que preside à cerimónia, o padre Lourenço. Ladeado por quatro lanternas de procissão carregadas por escuteiros e seguido pela Banda da Sociedade Recreativa Musical de Carcavelos (fig. 85) que acompanhou a procissão ao som do seu reportório musical. A procissão concluiu-se com a população residente e não residente que a vai integrando ao longo do percurso. Os devotos de cada santo dispunham-se ao longo da procissão e seguiam intercalados entre os andores. As peixeiras e pescadores trajaram neste dia a sua indumentária tradicional com as suas camisas de seda e lenços aos ombros, saias escuras protegidas pelos aventais bordados e o seu calçado típico, a chinela. Os andores são transportados, em regra, por quatro pescadores que são vestidos, pela organização. No ano de 2022 usaram camisolas com a identificação do santo, por decisão da organização. A procissão seguiu pela Avenida D. Carlos I até à praia da Ribeira ou dos Pescadores, como também é conhecida e entrou na plataforma do cais de embarque (fig. 30). Os andores foram colocados cautelosamente nas embarcações (figs. 53 a 63). A população embarcou conforme foi conseguindo, porque todos queriam participar na procissão marítima. A imagem da Nossa Senhora dos Navegantes é atribuída alternadamente a uma embarcação das duas associações de forma a manter a imparcialidade tendo em atenção a devoção de todos. No ano de 2022, a Associação de Profissionais de Pesca decidiu não participar na procissão, enquanto associação. Assim, o andor de Nossa Senhora dos Navegantes seguiu na embarcação «Panta» da Associação de Armadores e Pescadores de Cascais. O andor de S. Sebastião seguiu na embarcação «Severa», o andor de S. Brás na embarcação «Agora Chorem», o andor de Nossa Senhora da Guia na embarcação «SantiGui», o andor de Nossa Senhora das Dores na embarcação «Dragão Azul», o andor de Nossa Senhora Auxiliadora na embarcação «Soupas», o andor de Nossa Senhora da Assunção na embarcação «S. Bartolomeu do Mar», o andor do Sagrado Coração de Jesus na embarcação «Mestre Diogo» e o andor de Nossa Senhora de Fátima na embarcação «Fenda da Muralha». As embarcações «Mestre Diogo» e «Fenda da Muralha», no ano de 2022 não conseguiram sair na procissão marítima por motivo de avaria das embarcações ainda no cais. Os respetivos andores foram colocados junto ao altar para as celebrações que decorreram em terra e aguardaram o regresso da procissão. As embarcações de pesca, tradicionais e de lazer que não transportam imagens participam igualmente na procissão marítima e dispõem-se ao longo da baía expondo uma visão única de uma mistura de cor na calmaria do mar (figs. 67 e 68). Após a saída da procissão marítima o padre Nuno Coelho que permaneceu junto do altar na baía (figs. 65 e 66) realizou um conjunto de orações para a população que aí permanece a aguardar o regresso da procissão, como é usual (fig. 64). A paróquia distribuiu um guia de orientação das celebrações(71) e rezaram-se orações de invocação aos vários santos, o terço, a ladainha a Nossa Senhora, a Consagração a Nossa Senhora dos Navegantes e a celebração da palavra e bênção com o Santo Lenho. Neste ano de 2022 as orações também contemplaram as Jornadas Mundiais da Juventude de 2023. Todas as orações foram acompanhadas de cânticos. Ressalva-se a oração a Nossa Senhora dos Navegantes: “Ó Nossa Senhora dos Navegantes, Mãe de Deus criador do céu, da terra, dos rios, lagos e mares; protegei-me em todas as minhas viagens. Que ventos, tempestades, borrascas, raios e ressacas, não perturbem a minha embarcação e que monstro nenhum, nem incidentes imprevistos causem alteração e atraso à minha viagem, nem me desviem da rota traçada. Virgem Maria, Senhora dos Navegantes, minha vida é a travessia de um mar furioso. As tentações, os fracassos e as desilusões são ondas impetuosas que ameaçam afundar minha frágil embarcação no abismo do desânimo e do desespero. Nossa Senhora dos Navegantes, nas horas de perigo eu penso em vós e o medo desaparece; o ânimo e a disposição de lutar e de vencer tornam a me fortalecer. Com a vossa proteção e a bênção de vosso Filho, a embarcação da minha vida há de ancorar segura e tranquila no porto da eternidade. Nossa Senhora dos Navegantes, rogai por nós.”. Pedro Ricardo que este ano participou ativamente no decurso destas orações manifestou o seu sentimento da seguinte forma: “É um ambiente bastante calmo, as pessoas estão bastante compenetradas, estão a ouvir rezar o terço, ouviram bastante as palavras do senhor padre, ouviram a meditação antes de começarmos a rezar. Quando terço está a acabar os nossos olhos começam-se a virar para o mar à procura dos barcos que estão a vir, que é para ver se correu sempre tudo bem. Mas estamos a rezar a Nossa Senhora a pensar nas famílias dos pescadores.” (Entrevista de 01/09/2022). A procissão marítima saiu da praia da Ribeira em direção à Guia, de forma serena e emotiva, onde se realizou um dos rituais mais simbólicos e marcantes desta devoção mariana. No decurso deste registo marítimo foi possível recolher alguns testemunhos relevantes, como foi o do pescador Carlos Oliveira de 75 anos que afirmou que participa na procissão “(…) desde que ela foi organizada. Há 60 anos atrás.”. Este pescador afirmou convictamente que o sentimento “É uma obrigação acompanhar a Nossa Mãe. (…) é a fé que a gente tem na Nossa Senhora dos Navegantes. Para mim a Santa é o principal.” (Entrevista de 28/08/2022). O momento em que se chegou à Guia, num ato de fé realizou-se uma oração por parte do padre Lourenço que seguia na embarcação Panta com a Nossa Senhora dos Navegantes, prestando a homenagem aos falecidos e invocação das preces profissionais e familiares de todos os presentes no mar. No decurso deste simbolismo as embarcações presentes manifestaram a sua presença com o tocar das buzinas e posteriormente lançaram as flores ao mar, em forma de coroas, ramos ou soltas (figs. 69 a 71). O padre Nuno Coelho afirma que: “Mas o ponto alto dessa procissão marítima, e é mesmo o que dá o tom, o que muda o tom, é quando chegamos normalmente, se o mar permitir, chegamos à Guia, e pronto, e aí sim toda a gente faz silêncio e manda-se uma coroa por barco, mais ou menos, uma coroa de flores recordando todos aqueles que ficaram no mar. E pronto. Isso aí, há anos, estou cá há 14 anos, é pouco, mas já houve anos em que, de facto, naquele ano houve alguém da família que ficou no mar. E por isso é sempre muito impressionante. E todos, todos temos ligação, todos conhecemos alguém, e por isso todos, todos sentimos muito aqui essa, esse silêncio, essa, esse honrar a memória e o legado, sim, já, naquele, como é que se diz, naquele lugar simbólico, em que começa de facto o oceano, em que começa de facto o mar. E pronto. Depois faz-se lá aquelas buzinas e depois vai-se outra vez já mais serenamente para, para, para terra. E pronto, depois no final faz-se ali um pequeno, um pequeno sinal de bênção e de oração. (…) Então há ali uma oração muito simples, muito, muito aberta, muito de lançar a rede ao mar. Como há uma imagem muito bonita, também do evangelho. E pronto, depois vimos cá até acima à igreja e fazemos as despedidas e os agradecimentos e as bênçãos.” (Entrevista 03/03/2022). O responsável pela organização, o pescador António Ramos reforça a fé do pescador com a afirmação: “Nós andamos aqui o ano inteiro por cima de água, de certa maneira, quem vai ao mar todos os dias, tem que haver qualquer coisa que nos faça aguentar estes maus tempos. Porque, agora o Verão e as temperaturas são mais altas e o Verão cada vez é mais cumprido. Só que chegasse a uma situação que de Inverno, aqueles maus momentos que a gente passa, a gente tem que estar, tem que ter fé.” (Entrevista 12/10/2022). Após este ritual as embarcações regressaram (figs. 72 a 75), pela mesma via, à praia da Ribeira onde as imagens e a população foram transferidas novamente para o cais de embarque (figs. 76 a 78) e para junto do altar (figs. 80 e 81). As imagens alinharam-se (fig. 80) e o padre Lourenço realizou a bênção das imagens, das embarcações e do mar. Após estas celebrações a procissão terrestre retomou o seu alinhamento e regressou novamente pela Avenida D. Carlos I ao adro da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção (figs. 82 e 83). O padre Lourenço encerrou as celebrações com a bênção final e o padre Nuno Coelho da paróquia de Cascais apresentou os seus agradecimentos (figs. 84 e 85). Os andores regressaram para junto do Centro Cultural de Cascais e a população concluiu as suas promessas e as suas devoções junto de cada santo e num sentimento de transportar um pouco da procissão para suas casas, retira as flores que enfeitaram os andores durante a procissão para as colocar junto dos seus oratórios particulares (figs. 86 a 90). Pedro Ricardo manifesta este ato da seguinte forma: “É, é verdade os andores estão a ser postos ali em frente ao Centro Cultural e as pessoas estão a correr para retirarem as flores dos andores. Ou por devoção que a pessoa tem com aquele santo, ou porque é um santo que tem em casa. Mas as pessoas querem levar uma lembrança. No dia da festa querem levar um ramo de flores para chegarem a casa e porem num santo que se calhar tenham em casa. Há outras que querem guardá-las para dizer que estiveram naquele dia cá na procissão. Mas penso que será uma recordação do dia festivo que é.” (Entrevista de 01/09/2022). Os andores no dia da procissão regressaram ao sítio onde foram ornamentados e no dia seguinte, as mesmas pessoas que os preparam, retiram as imagens dos andores (figs. 91 a 93). O transporte de tudo aos devidos lugares é realizado pelos serviços municipais no dia seguinte (fig. 94). No dia da procissão toda a cerimónia se reveste de uma religiosidade muito forte e a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes torna-se o centro das atenções, não fosse a ela que os pescadores e todos mareantes pedem auxílio nos seus momentos e prometem a sua participação nesta procissão. Este é o dia em que sentem o cumprimento desse dever. A entrega na realização desta procissão transparece através das emoções que se registam nas imagens e vídeos recolhidos, mas mais do que isso, nos relatos que se ouvem e nas ações de cada um. O sentimento de envolvimento de todos os elementos da família na celebração desta procissão consiste na melhor forma de transmissão às novas gerações a importância da realização desta tradição e de a manter, para agradecer e homenagear todos os familiares que foram partindo, por alguma situação ocorrida no mar, pela vida de trabalho na pesca ou porque recorreram ao mar para as suas atividades profissionais. Independentemente da fé e participação ativa da comunidade piscatória nesta manifestação, ao longo dos tempos a incorporação de outras comunidades relacionadas com o mar se faz sentir. Quer sejam mareantes de embarcações de lazer, desde as tradicionais a veleiros, como surfistas, e outras práticas desportivas náuticas, associados a instituições ou de forma independente participam nesta manifestação. Para além dos registos de vídeo associados ao processo que fundamentam esta participação evolutiva de outras comunidades, também o testemunho, em 2022, do pároco de Cascais, Nuno Coelho, o refere “(…), há já alguns anos atrás, a tentar também evocar esta, esta, esta, este traço dos navegantes, fui propondo àqueles que iam organizando esta procissão, que, que fosse, com certeza estruturada na nossa comunidade piscatória, mas que fosse incluindo também, todos os outros, não é, que vivem, que vivem no mar. (…) Nós ultimamente temos tentado abrir o mais possível esta, esta participação efetiva e visível dos, dos membros lá da procissão a todos aqueles que, que vivem do mar ou vivem no mar, quer seja com atividades lúdicas, quer seja com atividades profissionais. Mas é bom que todos que vivemos no mar possamos também ter este vínculo, esta ligação, e esta, esta proteção, se quisermos, na fé, na nossa mãe de Deus. Isso genericamente, isto é, como é que pode surgir, não é, naturalmente, este, esta evocação de Nossa Senhora dos Navegantes.” (Entrevista 03/03/2022). E regista-se através do testemunho de Fausto Salvador, que colabora e participa na procissão com a embarcação municipal “Estou para Ver” e é também um elemento da organização da regata de barcos tradicionais, que ocorre desde 2003(72), no fim de semana da procissão de Nossa Senhora dos Navegantes: “(…) integrava o ritual, transportava pessoas e participantes que quisessem participar no ritual. Muitas vezes, ou por vezes sempre que a entidade organizadora achava conveniente transportar algum dos santos que são levados durante a procissão, também o faria. Sempre em função do que eles achassem que seria o melhor nesse sentido. (…) são embarcações tradicionais do Tejo em que são denominados da Marinha do Tejo. Isto o nome dessa Associação que é a Associação Marinha do Tejo que é a entidade que representa as embarcações tradicionais do Tejo. Não só do Tejo porque acaba por ser uma Associação que envolveu tudo o que é embarcações tradicionais. E nós com a procissão e com as festas do mar e com toda esta envolvência ligada a esta temática achámos por bem que a nossa regata competitiva seria neste período. (…) Então, nós participávamos com a embarcação, não só com o “Estou para ver” mas também com a “Boneca” que foi onde tudo começou, numa canoa do Tejo, numa embarcação tradicional do Tejo. Tudo começou aí, na, na canoa do Tejo. E, o que é que acontecia? Nós participávamos nessas regatas de embarcações tradicionais e com a “Boneca” também. Além disso eram associados sempre outro tipo de competições noutro tipo de modalidades (…) O processo em si passa por ir buscar, acompanhar a chegada das embarcações. Isto é, temos que vir com a maré a vazar, isto é, maré cheia na zona do rio Tejo e depois vimos com a vazante. (…) Entretanto, quando chegam a Cascais fazemos uma exposição na baía, isto é, vão varar as embarcações na baía, que era aquilo que antigamente fazíamos com as embarcações aqui em Cascais, varávamos, que é colocar a embarcação no areal. É largar um ferro à popa e a embarcação fica no areal. E ficam em exposição para as pessoas poderem ver, poder estar perto. No período da tarde fazemos a nossa regata. A participação de regatas, temos as regatas de embarcações mais pequenas, as canoas e depois embarcações de maior porte, o caso do “Estou para ver”. No entanto fazemos uma largada única e nesse dia é o dia de atividade, isto é, para os, os proprietários dessas embarcações. No dia, domingo e habitualmente de manhã fazemos uma saída com a população em que as pessoas podem realmente deslocar-se nas embarcações tradicionais e fazer um passeio ao longo da nossa costa, nessas embarcações. E, entretanto, no período da tarde, então, participamos e toda a gente participa na procissão.” (Entrevista 24/03/2022). Numa entrevista realizada pela Câmara Municipal ao padre Nuno Coelho percebe-se uma abordagem agregadora “Numa paróquia como a de Cascais, tão diferente, mas tão igual a tantas outras, o Pe Nuno encontra algumas particularidades entre elas a celebração da Procissão da Nossa Senhora dos Navegantes, na altura das Festas do Mar. Diz que “é um momento que celebra a identidade e a história de uma terra ligada ao mar, com os olhos e o coração postos no céu”(73). Reforçando este testemunho apresenta-se o do pescador responsável pela organização, António Ramos, onde declara que: “É, manter esta tradição é manter vivos os pescadores de Cascais. E manter viva a Vila de Cascais. Isto era uma terra de reis e pescadores. Os reis já não há, há os pescadores.” (Entrevista 12/10/2022). A fé desta comunidade em Nossa Senhora dos Navegantes revê-se em todas as tarefas de preparação e realização desta manifestação. A Câmara Municipal através de uma missão fulcral de salvaguarda das manifestações locais contribui para que o registo, a transmissão e a sua apreensão, enquanto símbolo da tradição e da cultura, seja efetivado. Notas de rodapé: (1) A título de exemplo: No ano de 1385, D. João I, a pedido dos pescadores de Cascais, e através da publicação da Carta de Privilégios, permitiu a dispensa dos mesmos de embarcarem nas galés. Mais tarde, em 1426, o mesmo monarca liberta-os da obrigação de possuírem cavalos e armas e de responderem à revista, se pescassem durante pelo menos oito meses. Esta regalia isentava-os igualmente do pagamento de imposto devido. ANDRADE, Ferreira de, Monografia de Cascais, Cascais, Câmara Municipal de Cascais, 1969, p. 90. (2) ARMAS, António, História de la prevision Social en Espana, 1958, apud RODRIGUES, Jorge Manuel, A Confraria das almas do Corpo Santo de Massarelos e suas congéneres de mareantes, Dissertação de Mestrado em História Moderna, Faculdade do Porto, 2002, p.28. (3) Memória Paroquial da Freguesia de Nossa Senhora da Assunção 1758. Cf. HENRIQUES, João Miguel, Cascais em 1755. Do Terramoto à reconstrução, Câmara Municipal de Cascais, Cascais, 2005, p. 146. (4) VIEGAS, João da Cruz, Histórica importância da pescaria e pescadores de Cascais, Boletim da Pesca, 1948, n.º 21, apud COELHO, Teresa de Campos, A Igreja dos Navegantes, um notável exercício de geometria, Revista Monumentos, n.º 31, 2011, p. 76. (5) A Santa Casa da Misericórdia de Cascais foi fundada em 1551, tendo-se instalado na antiga Ermida de Santo André, destruída posteriormente pelo terramoto de 1755. A sua localização seria sensivelmente onde existe hoje a Igreja da Misericórdia, edificada entre 1759 e 1781. Já o hospital referido seria reinstalado num edifício mandado construir pela Misericórdia de Cascais em 1592, junto à Ermida de Santo André. (6) Ibidem, 2005, p.146. (7) Referência aos mareantes. (8) VIEGAS, J. da Cruz, ob. citada, 1948, apud SILVA, Raquel Henriques, Cascais, Lisboa, Ed. Presença, 1988, p. 42. (9) Ibidem, 1988, p. 42; Cf. D´ESAGUY, Eva-Renate. Cascais: Vila de reis e de pescadores. Cascais e seus lugares. Boletim da Junta de Turismo de Cascais 4, 1951, p. 44. (10) Cf. Fundo da Confraria de Nossa Senhora dos Prazeres e São Gonçalves Telmo. PT/CMC-AHMC/AECL/CSPG; ENCARNAÇÃO, José d’, Recantos de Cascais, Lisboa, Colibri, Cascais, Câmara Municipal, 2007, p. 18. (11) Ibidem, 2011, p. 77. (12) São Pedro Gonçalves nasceu em 1185, em Palencia, Espanha, e faleceu em 1246, tendo sido sepultado na Catedral de Tuy. Ingressou na Ordem dos Dominicanos onde foi capelão do rei Fernando III, de Leão e Castela. Pregou aos mareantes e pescadores em meados do século XIII, tendo-se convertido em protetor dos homens do mar. Foi beatificado pelo Papa Inocêncio IV, em 1254. O seu culto foi confirmado em 1714, e canonizado pelo Papa Benedito XIV, em 1741. Em Portugal o culto a Pedro Gonçalves Telmo, ou como era também conhecido, a Pero Gonçalves, ter-se-ia consolidado durante o século XVI, início do século XVII. Lapa, Albino, Compromisso dos pescadores e mareantes do Alto da Confraria, Irmandade do Espírito Sancto, sitta na Igreja de São Miguel d`Alfama reformado, e acrescentado do compromisso velho pellos muito onrados, e devotos officiaes, e irmãos da ditta confraria, em Lixboa no anno de Nosso Sor lesy Christo de M.D.C.VI, Lisboa, Separata Boletim Pesca 38, Lisboa, Irmandade dos pescadores de Alfama (ed.), 1953, p, 7-61. (13) MERSHMAN, Francis, St. Peter Gonzalez. 2014, Disponível em https://nobility.org/2014/04/elmo/ (acedido 02/06/2016 e a 06/10/2022). (14) MARTINS, Mário, S. Pero Gonçalves O.P. o «Corpo Santo» e Gil Vicente, Lusitania Sacra, Tomo VIII, Lisboa, Revista do Centro de Estudos de História Eclesiástica, Universidade Católica Portuguesa, 1967, p.43. Disponível em https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/5045/1/LS_S1_08_Mario%20Martins.pdf (acedido em 24/09/2022). (15) O culto a Nossa Senhora dos Prazeres terá surgido durante o século XIV sendo certo que terá sido a igreja cristã portuguesa a primeira a festejar as alegrias de Maria pela ressurreição de seu filho, dando-lhe este título. O culto terá tido um grande crescimento durante o século XV com o aparecimento de uma imagem, a uma «innocente menina» na quinta dos Condes da Ilha, sobre a ribeira de Alcântara, em Lisboa, e em finais do século XVI. LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno. Diccionario Geographico, Estatístico, Chorographico, Heráldico, Archeologico, Histórico, Biographico e Etymologico de todas as Cidades, Villas e Freguesias de Portugal, Vol. 2, Lisboa, Livraria Editora de Mattos Moreira & C.ª, 1874, p. 110. A devoção vem ainda mencionada no calendário da Sé de Lisboa que o Cardeal D. Afonso mandou imprimir em 1536. (16) Assim referenciada na petição que os homens do mar mandaram para Roma relacionada com questões tributárias. Ibidem, 2011, p. 77. (17) Teresa de Campos alude para uma possível razão da perda de prestígio por parte dos homens do mar da irmandade e que se prende com a reformulação do Compromisso da Misericórdia, datado de 1781, através do qual onde deixava de ser obrigatória a escolha de provedor alternadamente entre os homens da terra e os do mar, alegando que tal condição tinha ocorrido por altura das descobertas da Ásia. Assim, em 1781, os mareantes, classe socialmente superior à dos pescadores, tinham-se tornados escassos, sendo na sua maioria pilotos e pescadores. Ibidem, 2011, p. 77. (18) LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno. Diccionario Geographico, Estatístico, Chorographico, Heráldico, Archeologico, Histórico, Biographico e Etymologico de todas as Cidades, Villas e Freguesias de Portugal, Vol. 2, Lisboa, Livraria Editora de Mattos Moreira & C.ª, 1874, p. 154. (19) Cf. Fundo da Confraria de Nossa Senhora dos Prazeres e São Gonçalves Telmo. PT/CMC-AHMC/AECL/CSPG (20) Ibidem, 1874, p. 154. (21) Ibidem, 1951, p. 43. (22) Ibidem, 1969, p. 195. (23) MECO, José, “Azulejaria de Cascais com temática ou utilização religiosa", Um olhar sobre Cascais através do seu património – fontes documentais e Arte Sacra, Vol. II, Cascais, Edições da Associação Cultural de Cascais/Câmara Municipal de Cascais, 1989, pp. 97-117. (24) Altares com as imagens de Nossa Senhora da Piedade e de Santa Teresa d’Ávila. (25) Ibidem, 1989, p. 112. (26) Ibidem, 1874, p. 154. (27) Em Portugal, e não só, haveria uma devoção à “Virgem dos Navegantes” e que seria uma imagem muito comum no nosso país a partir do século XV. Assim, era a esta imagem que os navegantes pediam proteção. Contudo, em 1967, Jacinto dos Reis, refere desconhecer “qualquer freguesia que tenha por orago “Nossa Senhora dos Navegantes”, embora seja venerada através da realização de uma procissão em várias localidades da costa litoral de Portugal. REIS, Pe. Jacinto dos, Invocações de Nossa Senhora em Portugal d'aquém e d'além-mar e seu padroado, 1967, pp. 392-3, apud MORAIS-ALEXANDRE, Paulo, A invocação de Nossa Senhora dos Navegantes em Cascais. A propósito do escudo-de-armas da Casa dos Pescadores de Cascais. Lisboa. Academia de Letras e Artes, 2002, p. 158. Disponível em http://hdl.handle.net/10400.21/4374 (acesso em 16/02/2022). (28) Ibidem, 1969, p. 166. (29) FALCÃO, Pedro, Cascais Menino. Cascais. Câmara Municipal de Cascais, s.l. 1981, p. 131. (30) Cf. Jornal Costa do Sol, n.º 1237 de 16 de janeiro de 1992. (31) Consulta do periódico O Estoril de 1934 a 1941. (32) Jornal O Estoril, 20 de maio de 1934. (33) Jornal O Estoril, 19 de julho de 1936. (34) Fundo da Sociedade Propaganda de Cascais, AHMC-PT-41. Serie 001 (1937-1939); O Estoril, 31 de agosto de 1941. (35) Lei n.º 1:953, de 11 de março de 1937. (36) Ibidem 1937 (37) Foi ainda à Sociedade Propaganda de Cascais que se ficou a dever a fundação da Secção Náutica Afonso Sanches, atual Clube Naval de Cascais e da Comissão para a Construção da Nova Praça de Touros de Cascais, posteriormente entregue à Santa Casa da Misericórdia de Cascais. Cf. Fundo da Sociedade Propaganda de Cascais. PT/CMCSC-AHMCSC/AASS/SPC. (38) Ofício de 13 de agosto de 1942 do presidente da Sociedade Propaganda de Cascais para várias agências fotográficas solicitando o envio de fotografias da procissão. AHMC/CMC “Correspondência recebida e expedida” Fundo da SPC/b/001/Cx. 5-Pt. 42 (1940-1944). (39) Cf. MACEDO, Joana; LORIGO, Manuel, O regime Alimentar dos Pescadores de Cascais, ed. Colibri, 2008, p. 56-57, apud “Gente do mar. As suas festividades no mês de agosto. Nossa Senhora dos Navegantes – Nossa Senhora do Cais”, Jornal do pescador, n. 44, Ano IV, lisboa, 31 de agosto de 1942. (40) Entrevista a João Parracho. Jornal Magazine, de 1992, p. 14. (41) Jornal A Nossa Terra, 23 de agosto de 1968 e 13 de setembro de 1968. O periódico, fundado em maio de 1915, era propriedade do Grupo Dramático e Sportivo de Cascais. (42) Jornal A Nossa Terra, 13 de setembro de 1968. (43) Jornal A Nossa Terra, 13 de setembro de 1968. (44) Jornal A Nossa Terra, 13 de setembro de 1968. (45) Jornal A Nossa Terra, 19 de setembro de 1969. (46) Jornal A Nossa Terra, 10 de julho de 1970; 17 de julho de 1970, 24 de julho de 1970. (47) Jornal A Nossa Terra, 14 de agosto de 1970, p.5. (48) Conforme notícia presente no Jornal A Nossa Terra de 17 de julho de 1970. (49) A primeira referência à Festa do Mar vem de 1964, por ocasião das Comemorações do VI Centenário da elevação de Cascais a Vila, mas sem qualquer alusão à procissão. (50) Jornal Costa do Sol, 11 de julho de 1970, p. 1. (51) De 1984 a 1991 sofreu novo interregno por decisão do padre da paróquia de Cascais considerar que existiu um desrespeito com a audição de músicas. (52) Jornal Costa do Sol, 15 de agosto de 1985. (53) Jornal Costa do Sol, de 16 de julho de 1992; A Zona, de 15 de julho de 1992. (54) Apesar desta afirmação, os periódicos locais não mencionam quaisquer festejos relacionados com a procissão em honra de Nossa Senhora dos Navegantes, entre 1971 a 1991, apesar da inexistência do Jornal Costa do Sol de 1983. (55) Jornal Costa do Sol, de 16 de julho de 1992. (56) Jornal Magazine, de julho de 1992, p. 14. (57) Jornal Costa do Sol, de 16 de janeiro de 1992. (58) Jornal Costa do Sol, de 30 de janeiro de 1992. (59) Jornal Costa do Sol, de 16 de julho de 1992. (60) Entrevista a João Parracho. Jornal Magazine, de julho de 1992, p. 14. (61) ENCARNAÇÃO, José d´, Cascais: Festas e Tradições do Concelho, Mafra, Elo, 2004, p. 64. (62) Jornal A Zona, de 15 de julho, 1992, p. 12. (63) Anexo 3 - Planificacao_varios_1992_2022. (64) Cascais e as linhas, 13 de agosto. 2002, p.7. (65) Responsável pela organização da procissão, pescador e presidente da Associação de Armadores e Pescadores de Cascais. Jornal Correio da Manhã, 12 de agosto, 2002, p.11. (66) Responsável pela organização da procissão, pescador e presidente da Associação de Armadores e Pescadores de Cascais à data de 2015. (67) Presidente da Associação de Profissionais de Pesca de Cascais à data de 2015. (68) Matilde Firmino, peixeira. Jornal Correio da Manhã, 12 de agosto, 2002, p.11. (69) Acerca destes programas consultar as fontes documentais e de imagens disponíveis no Anexo 3. (70) Jornal Costa do Sol 19 de agosto de 2002, p. 4. (71) PARÓQUIA DE CASCAIS, 2022. Anexo 3 - Planificação de vários anos - Procissão do Mar 2022. alinhamento orações. (72) Embora no ano de 2022 ainda não tenha sido possível retomar esta atividade após a pandemia. (73) Entrevista ao padre Nuno Filipe Fernandes Coelho. Revista C. 27 de agosto 2015, p. 4.
  • Direitos associados :
  • TipoCircunstânciaDetentor
    Direito canónico De carácter público no que respeita ao culto religioso; de carácter privado no que respeita à devoção pessoal. Paróquia de Cascais
    Direito consuetudinárioDireito inferido pelo processo de transmissão passado entre gerações. Comunidade de pescadores de Cascais e população de Cascais
  • Responsável pela documentação :
    Nome: Carmen Sofia Custódio Pereira e Sónia Cristina Rodrigues Lopes de Sousa
    Função: Antropóloga - Câmara Municipal de Cascais; Historiadora - Câmara Municipal de Cascais
    Data: 2022/10/19
  • Fundamentação do Processo : ver fundamentação do processo
Direção-Geral do Património Cultural Secretário de Estado da Cultura
Logo Por Lisboa Logo QREN Logo FEDER