Ficha de Património Imaterial

  • N.º de inventário: INPCI_2022_008
  • Domínio: Práticas sociais, rituais e eventos festivos
  • Categoria: Festividades cíclicas
  • Denominação: Festas Antoninas
  • Outras denominações: Festas de Santo António; Festas de Famalicão; Festas Concelhias a Santo António; Antoninas
  • Contexto tipológico: As “Festas Antoninas” são uma festividade cíclica anual, pública e coletiva, envolvendo todas as faixas etárias, géneros e estratos sociais do concelho de Vila Nova de Famalicão, e que decorre no centro da sede concelhia, entre a primeira semana de junho e o dia 13 de junho, Dia de Santo António. A sua origem está relacionada com o culto e a devoção a Santo António por parte da comunidade que residia nas freguesias circundantes da capela (atuais União de Freguesias de Vila Nova de Famalicão e Calendário; União das Freguesias de Antas e Abade de Vermoim; Brufe e Gavião), embora a participação e envolvência direta e indireta nas festividades seja protagonizada por famalicenses residentes ou não no concelho. Tipologicamente, estas festividades inserem-se no quadro dos rituais de celebração das festas solsticiais de verão onde tradicionalmente a comunidade dava graças pelo sol, pela proliferação de culturas agrícolas, por disporem de mais horas para cumprirem as suas tarefas laborais e, consequentemente, para se entregarem à diversão. Em Portugal, essas festividades encontraram nos santos populares – Santo António, São João e São Pedro – uma via de continuidade dessas práticas pagãs. Estas festividades enquadram-se ainda no conjunto das romarias do Minho, organizadas em torno da memória ou invocação de um santo religioso, com um programa que conjuga a componente religiosa, de devoção e de crença, com uma componente profana, de divertimento e de convívio, possuindo ainda um conjunto alargado de características comuns a todas elas, visíveis na realização e prática de diversas iniciativas presentes nos programas.
  • Contexto social:
    Comunidade(s): População do concelho de Vila Nova de Famalicão
    Grupo(s): Funcionários Públicos; Instituições escolares; Associações Culturais e Recreativas; Comerciantes; Conselho Económico e Social da Paróquia de São Tiago de Antas
    Indivíduo(s): Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão; Membro do Conselho Económico e Social da Paróquia de São Tiago de Antas; Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas; Pároco de São Tiago de Antas; Arcipreste de Vila Nova de Famalicão
  • Contexto territorial:
    Local: Cidade de Vila Nova de Famalicão
    Concelho: Vila Nova de Famalicão
    Distrito: Braga
    País: Portugal
    NUTS: Portugal \ Continente \ Norte \ Ave
  • Contexto temporal:
    Periodicidade: As festividades são realizadas com regularidade anual.
    Data(s): Decorrem entre a primeira semana de junho e o dia 13 de junho, Dia de Santo António, possuindo, atualmente, sempre uma duração nunca inferior a cinco dias.
  • Caracterização síntese:
    As Festas Antoninas são as principais festas do concelho de Vila Nova de Famalicão, constituída por rituais de natureza religiosa e profana, e que decorre todos os anos, entre a primeira semana de junho e o dia 13 de junho, Dia de Santo António, em vários espaços do centro urbano, embora algumas iniciativas extravasem essas fronteiras, sendo disseminadas um pouco por todo o concelho de Vila Nova de Famalicão. A sua organização é da responsabilidade da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, em estreita colaboração com o Conselho Económico e Pastoral da Paróquia de São Tiago de Antas, diversas Associações Culturais e Recreativas e Instituições Escolares do concelho. O Culto a Santo António é o elemento agregador destas festividades, em resultado da crença e devoção que a comunidade famalicense tem por este santo, particularmente visível nos espaços coletivos (igrejas, capelas, alminhas, estabelecimentos comerciais, arte pública) e em ambientes de natureza íntimos e pessoais (oratórios, fachadas de casas, adornos corporais). A capela erguida em sua honra, localizada no centro da cidade, assume-se como o principal local de devoção a este santo e de epicentro destas festividades. Surgida provavelmente em meados do século XVII como uma festividade religiosa cristã, que atualmente ainda contínua a ter o seu espaço bem definido dentro do programa das festas, através da Eucaristia, da Procissão Solene e da Bênção e Distribuição do Pão de Santo António, aos poucos foi adquirindo novas dimensões, através da introdução de alguns rituais de socialização profana, à semelhança do que aconteceu com a maioria das festas e romarias do país, com particular incidência no Minho. Algumas destas manifestações de natureza profana, como o saltar das fogueiras e o lançamento de fogo-de-artificio enquadram-se no conjunto das antigas celebrações solsticiais de verão. Ao longo dos tempos outras manifestações foram adicionadas, revestindo-se atualmente de grande importância dentro do programa das festividades, como são os casos da construção de Cascatas de Santo António; das Marchas Antoninas, com a sua vertente infantil; do Desfile Etnográfico e Alegórico; dos concertos musicais e das inúmeras iniciativas culturais e desportivas. Hoje em dia, as Festas Antoninas são a maior festividade pública e coletiva do concelho de Vila Nova de Famalicão, agregando todas as classes sociais, géneros e faixas etários, que participam nela com alegria, exuberância e espontaneidade. São também as festividades mais identitárias do concelho, demonstrando em todos os dias da festa, as tradições, os rituais, os saberes e os costumes do concelho de Vila Nova de Famalicão, quer aos mais novos, num claro sinal de transmissão geracional de conhecimentos, quer aos forasteiros, que assim levam para a sua terra um pouco do que é a cultura e a identidade famalicense.
  • Caracterização desenvolvida:
    As Festas Antoninas são uma festividade cíclica anual, constituída por manifestações coletivas de natureza religiosa e profana, que envolvem toda a comunidade residente (e não só) do concelho de Vila Nova de Famalicão. Decorrendo ao longo de vários dias, normalmente entre a primeira semana de junho e o dia 13 de junho, Dia de Santo António, a maioria dos rituais associados às festividades decorrem no centro da cidade de Vila Nova de Famalicão, especialmente no quarteirão delimitado entre a Praça Álvaro Marques (a norte), a Praça D. Maria II (a sul), a rua Alves Roçadas (a nascente) e a Praça 9 de abril (a poente). No entanto, várias iniciativas enquadradas no programa das Festas, nomeadamente desportivas e culturais, extravasam estas fronteiras, sendo realizadas nas seguintes freguesias do concelho: Vermoim, Ruivães, Avidos, Lagoa, União das Freguesias de Seide, Ruivães, Abade de Vermoim (atualmente integrada na União das Freguesias de Antas e Abade de Vermoim) e Landim. CULTO A SANTO ANTÓNIO Embora na sua génese estas festividades tivessem surgido para prestar culto a um Santo, a dimensão religiosa das festas vem perdendo relevância ao longo dos tempos, sendo ultrapassada, atualmente, em número de iniciativas e de dias dedicados à sua prática, pelas manifestações de natureza lúdica. Mesmo ao nível da participação da comunidade nestas iniciativas, verifica-se um aumento da sua participação em atividades dentro da dimensão profana e uma diminuição nas de natureza religiosa. Esta alteração de paradigma das festas não é um caso isolado e que atinge só a comunidade famalicense. Ela está a ser verificada um pouco por todo o país, devido, sobretudo, a uma crescente laicização da sociedade que, em último caso, tem levado a uma diminuição ou até extinção de alguns rituais religiosos. Nas Festas Antoninas, embora possa ter havido uma diminuição na participação da comunidade nas manifestações religiosas, a sua extinção nunca foi colocada em causa. A Eucaristia, a Bênção e Distribuição do Pão de Santo António e a Procissão Solene em honra do padroeiro – rituais que são praticados nestas festividades desde pelo menos os inícios do século XX – continuam, devotamente, a ser praticados e participados pela comunidade. É bem no centro da cidade de Vila Nova de Famalicão, na capela de Santo António, localizada na Rua Alves Roçadas, que o culto antonino mais se evidencia. O templo atual foi inaugurado no Dia de Santo António de 1924, embora as suas raízes se situem numa ermida edificada no ano de 1650 [ver Anexo I, ponto 9]. A construção, ao longo dos tempos, na atual cidade, de três diferentes templos religiosos dedicados a Santo António, cada um maior e mais sumptuoso do que o outro, revela, por si só, o aumento do número de crentes e a devoção da comunidade por este Santo. A atual capela possui várias imagens de Santo António, uma ao culto e outras que se encontram guardadas na sacristia. A imagem que se encontra atualmente ao culto, e que no dia 13 de junho percorre as ruas da cidade durante a Procissão Solene, foi oferecida pela comunidade e benzida no decorrer da década de 1960. Encontra-se em cima de uma peanha junto da capela-mor. Aos seus pés é frequente ver-se flores e/ou velas deixadas pelos crentes, após cumprirem os respetivos votos. Todos os dias do ano, este templo é visitado por inúmeros devotos que, em silêncio ou em oração, solicitam a interceção de Santo António, completando essa prática com a realização de um gesto afetuoso na imagem do padroeiro. Esta devoção é ainda mais sentida nas palavras dos praticantes: “Eu frequento muitas vezes esta capela, quase todos os dias, e vejo o Santo António que, para mim, é um dos pilares grandes que me dá forças para eu vir cá dentro” (Nelson Vale, 73 anos, responsável pela capela de Santo António); “Hoje continuo com esta devoção a Santo António e hei-de continuar até ao fim, com certeza, porque acho que ele me ajuda a ser melhor um bocadinho” (Clementina Carneiro, 73 anos, devota de Santo António). A presença de Santo António no dia-a-dia dos famalicenses é visível nas inúmeras referências a ele que se encontram disseminadas pelo concelho. Seja na toponímia de arruamentos ou de lugares das freguesias; em edificações e estruturas religiosas – capelas, alminhas ou oratórios - construídas sob sua invocação; na adoção da sua designação em espaços comerciais, de alojamento e restauração; na colocação de painéis de azulejos (registos) com a sua iconografia nas fachadas de habitações; na atribuição do nome António a muitos rapazes (embora esta prática tenha diminuído gradualmente nas últimas décadas) ou em forma de arte pública escultória, esta apropriação popular é também uma forma de expressão da devoção que a comunidade possui por este Santo. A intervenção de Santo António é evocada pela comunidade sob várias formas e para várias situações. A mais usual é a sua interceção para o achamento de coisas perdidas: “Eu tenho uma devoção especial por Santo António. Tenho uma amizade enorme. Ele nunca recusou nada daquilo que lhe pedi. Às vezes esqueço-me de qualquer coisa, onde pus, porque já tenho uma certa idade, não é? E procuro, procuro, procuro, não encontro. E às vezes deito-me e digo assim: Ó Santo António, amanhã lembra-me onde tenho as coisas. Não rezo o responso, nada, peço apenas, dirijo-me ao Santo António. E não é que eu daí a bocado, estou já meia a dormir, lembro-me onde estão as coisas. Vou lá e não é que estão lá mesmo?” (Clementina Carneiro, 73 anos, devota de Santo António). Nas freguesias mais rurais do concelho, onde a prática da agropecuária ainda é o principal meio de subsistência das comunidades, Santo António é também visto como protetor dos animais. No interior das suas capelas encontram-se habitualmente ex-votos em forma de animais, junto aos pés da imagem, como oferta em troca do cumprimento de uma promessa, embora em tempos recuados essas solicitações fossem revestidas de outras formas: “Em casa dos meus pais quando tínhamos ninhadas de porquinhos, prometíamos ao Santo António, se ele cuidasse dos porquinhos, se não deixasse morrer nenhum nem a porca, que quando vendêssemos os porquinhos, o dinheiro de um deles seria para o Santo António (Clementina Carneiro, 73 anos, devota de Santo António). “Adoecia-nos um porco e então o que é que a gente fazia? Fazíamos assim: se Santo António valesse ao meu porquinho, eu era capaz de lhe dar a língua de porco. Acontece então que o porco nessa mesma altura começava a melhorar, melhorava, melhorava, melhorava, que quando se matava o porco, a língua era-lhe tirada fora e então, depois, era vendida em leilão junto à capela. É pró Santo António, quanto é que dá? Um: cinco escudos; outro: dez; outro: quinze; outro: vinte. Aquele que desse mais é que levava a língua do porco para casa”. (Manuel Carvalho, 72 anos, devoto de Santo António). Um outro ritual que se encontrava (e se encontra) associado à proteção dos animais passava (e passa) pelos seus proprietários ou pastores andarem com eles em volta das capelas erguidas em honra de Santo António. Embora seja um ritual que deixou de ser praticado com regularidade pela população, ainda há quem o observe: “Eu apenas tenho conhecimento do que por vezes aqui se passa. As pessoas andam aqui com os animais à volta da capela (de Santo António de Castelões).” (Francisco Sá, 49 anos, membro da Junta de Freguesia de Castelões). Embora praticado de forma diferente, mas detentor do mesmo significado, este ritual foi recentemente recuperado (ano 2016) por uma associação famalicense (Associação Amigos dos Cavalos) e integrado no programa das Festas Antoninas. É um ritual que inclui missa, bênção dos animais e procissão pelas ruas da cidade, com a passagem em frente à Capela de Santo António, a revestir-se de grande simbolismo para os participantes. Durante a procissão, e em sinal de respeito, honrando ainda uma tradição antiga, na passagem em frente à capela, tanto homens como mulheres retiram os seus chapéus, levando-os ao peito. A procissão percorre ainda outras ruas da cidade, terminando num espaço aberto, onde um padre convidado celebra uma missa campal, seguida da já mencionada bênção aos animais. Ao contrário de tempos idos, onde os gados bovino, caprino e suíno eram os animais a quem se pedia mais proteção. Atualmente, e isso foi observado durante esta iniciativa (ano 2016), são os animais domésticos (cães e gatos) e o gado cavalar os escolhidos pelos proprietários para serem protegidos. Os comerciantes são outro grupo da comunidade que também possuem uma particular devoção a Santo António, ou este não fosse o Santo protetor desta classe profissional. Não é difícil encontrarmos, junto da caixa registadora, ou num lugar de destaque na loja, uma imagem do Santo, normalmente ornamentada com flores e/ou velas. Esta devoção possui ainda alguns rituais ainda praticados pelos comerciantes famalicenses, relacionados com o negócio: “Às vezes dizemos que vamos pôr o Santo António virado para a parede, naqueles dias mais difíceis, mais complicados, dias de menor movimento. Fazemos de conta que estamos zangados com ele. Outras vezes ficamos agradecidos e até tentamos fazer um gesto de carinho na imagem” (José Carvalho, 47 anos, comerciante). Mas, curiosamente, esta prática, em Vila Nova de Famalicão, não é só dos comerciantes portugueses. Relacionado com todo o processo de globalização que atualmente o mundo se encontra, também aqui foram abertos estabelecimentos comerciais por indivíduos oriundos de outros países, mas que adotaram as práticas da comunidade onde se inserem. Será que estes fatores representam a concretização de um processo de miscigenação ou simplesmente uma imitação? “Eu verifico, por exemplo, que há aí estabelecimentos comerciais de origem oriental, as chamadas lojas do chinês, aqui na terra, se pesquisarem vão verificar que perto da caixa registadora existe também uma imagem de Santo António. Como sabemos eles não são cristãos, não são devotos à nossa religião, mas acabam por cometer as mesmas práticas, digamos assim”. (José Carvalho, 47 anos, comerciante). Estas práticas individuais do culto a Santo António, que são realizadas ao longo do ano pela comunidade, atingem o ponto alto de socialização coletiva no mês de junho. Embora as Festas Antoninas sejam a expressão máxima da devoção coletiva da comunidade famalicense a este santo português, em várias freguesias do concelho – Castelões, Cruz, Louro, Nine e Calendário – em volta das capelas e alminhas dedicadas a Santo António, também existem festividades, organizadas pela comunidade residente nesses lugares: “Aqui em Castelões há muita devoção a Santo António, apesar do Santo António não ser o padroeiro da freguesia de Castelões, que é o São Tiago. Mas de facto, Santo António é que predomina nas festas populares, nos arraiais que temos cá em Castelões” (Francisco Sá, 49 anos, membro da Junta de Freguesia de Castelões). Todas estas festividades são realizadas sempre no fim-de-semana seguinte ao dia 13 de junho, de modo a não coincidirem com as Festas Antoninas, permitindo à comunidade destes lugares, participar e assistir às duas festividades. Mas, é durante as Festas Antoninas – elevadas à categoria de principais festas do concelho em 1979 – que a socialização e devoção coletiva é mais sentida e vivida pela comunidade. PREPARATIVOS DAS FESTAS A preparação destas festividades tem início umas semanas após o encerramento das celebrações do ano anterior, com uma reunião entre vários elementos da Comissão de Festas, maioritariamente constituída por técnicos da Divisão de Cultura e Turismo (DCT) da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão (CMVNF). Nesta primeira reunião, o objetivo passa pela realização de um balanço das festividades desse ano, elencando os aspetos positivos e as situações que poderão ser alvo de revisão no ano seguinte. São também apresentadas nestas reuniões as opiniões dos festeiros/entidades que participam nas festividades e que foram chegando à Comissão de Festas, quer através da oralidade, quer através de documentos escritos, de forma a que, no próximo ano, a Comissão de Festas tente ir de encontro ao que os famalicenses querem para as suas principais festividades. O melhoramento contínuo das festas é, deste modo, um dos objetivos que pauta a atuação desta Comissão, que procura sempre ir de encontro aos anseios da comunidade e dos forasteiros, sem descurar as práticas e as manifestações inerentes aos rituais e às tradições que constituem a génese das festividades. Entre os meses seguintes até ao mês anterior ao início das festas (maio), são organizadas várias reuniões entre a Comissão de Festas, outras Divisões da CMVNF e as Forças de Segurança e Proteção Civil, com o intuito de preparar-se toda a logística inerente a uma festividade destas dimensões. Embora haja um conjunto mais alargado de Serviços com responsabilidades na logística das festas (como é o caso do Balcão Único da CMNVNF que recebe os formulários de inscrição dos feirantes e das empresas de diversão), cabe aos seguintes Serviços da CMVNF a principal quota de responsabilidade no planeamento, organização e gestão de todas as vertentes das festividades: Divisão de Cultura e Turismo (responsável pela organização das festividades e elaboração do respetivo programa); Divisão de Educação (responsável pela organização das marchas infantis); Divisão de Desporto e Tempos Livres (responsável pela organização e elaboração do programa das atividades desportivas); Divisão de Ambiente e Serviços Urbanos (responsável pela limpeza dos vários espaços das festas); Serviço Municipal de Proteção Civil, incluindo a Policia Municipal, Policia de Segurança Pública e as duas corporações de bombeiros da cidade (responsáveis pela segurança); Divisão das Vias e Trânsito (responsável pela gestão dos arruamentos e vias publicas); Divisão de Equipamentos (responsável pela construção dos espaços de restauração); Divisão de Gestão Urbanística e Fiscalização (responsável pela fiscalização dos espaços de venda, restauração e de diversão) e Gabinete de Comunicação e Imagem (responsável pela divulgação e promoção das festas). Entrando no ano em que as festas decorrerão, logo no mês de janeiro acontece uma reunião entre a Comissão de Festas e as várias associações culturais e recreativas do concelho que vão participar nas Marchas Antoninas desse ano. Existe já um grupo de associações, chamado de “núcleo duro” das Marchas, que todos os anos participam desde que esta iniciativa foi integrada no programa das festas (ano de 1984). Mas como o convite de participação é formulado a todo o movimento associativo, todos os anos existem novas entidades a participar e outras que optam por nesse ano não participar. Nesta reunião é explicado aos representantes das associações o regulamento, o dossier a entregar com a candidatura, e as eventuais alterações que ele possa ter sofrido, existindo ainda um espaço de diálogo aberto a todos os intervenientes nesta iniciativa, para que possam elencar e/ou discutir os aspetos a melhorar e/ou de apresentação de sugestões à Comissão de Festas. Nos meses seguintes – fevereiro a abril – são sugeridas à Comissão de Festas, por parte do tecido associativo do concelho, a realização de diversas iniciativas no decorrer das festas, maioritariamente de carácter cultural e desportivo. É importante salientar que tanto a componente desportiva como cultural integrada no programa das Festas Antoninas é sugerida pelo tecido associativo do concelho, sendo essas associações responsáveis pela sua organização e dinamização, cabendo apenas à Câmara Municipal ajudar na componente logística. Como forma de salvaguardar e valorizar as tradições ligadas às Festas Antoninas, nos últimos anos a Comissão de Festas tem procurado incentivar o tecido associaivo a recuperar alguns rituais que tiveram num determinado período uma ligação às festividades, do que a introdução de novas iniciativas. É ainda durante estes meses que a Comissão de Festas reúne com os representantes do Conselho Económico e Social da Paróquia de São Tiago de Antas e/ou do Arciprestado de Vila Nova de Famalicão para ultimarem os pormenores respeitantes à componente religiosa das festas, realizada no dia 13 de junho, centradas na Eucaristia, na Bênção e Distribuição do Pão de Santo António e na Procissão Solene. Com o programa fechado, o Gabinete de Comunicação e Imagem da CMNVF inicia todo um processo de divulgação e promoção das festas nas redes sociais, no sítio de internet do Município e nos periódicos locais e regionais. A estratégia de divulgação passa ainda pela criação de cartazes, desdobráveis e “livros” das festas, diferentes de ano para ano, os quais se revelam de grande importância para a documentação destas festividades [Ver Anexos – Documentação Gráfica]. Nos dias que antecedem a abertura das Festas Antoninas, a cidade entra num clima festivo. Os arruamentos e espaços centrais onde são desenroladas as festividades começam a ser ornamentados com arcos festivos e iluminações elétricas, reminiscências das antigas decorações populares minhotas, que, à noite, proporcionam um espetáculo de luz e cor. É frequente, durante o período noturno, encontrar-se a passear pelas ruas ornamentadas, visitantes que vêm de propósito à cidade só para ver as iluminações elétricas ligadas. A Capela de Santo António, o edifício dos Paços do Concelho, a Rua Alves Roçadas, a Praça D. Maria II, a Rua de Santo António, a Praça 9 de Abril, a Rua Adriano Pinto Basto, a Rua Júlio de Araújo, a Rua Vasconcelos e Castro, a que se juntam as quatro rotundas de entrada na cidade (rotunda de Santo António, do Bernardino Machado, do Rotary e da Paz) são os locais habituais onde essas iluminações se encontram instaladas. É também por estes dias que os responsáveis pelos divertimentos, pelos espaços de venda e de restauração montam o seu negócio. Por altura dos períodos de almoço e jantar, o fumo e o cheiro produzido pelos tradicionais fogareiros enche o ar da cidade. A gastronomia típica destas festividades (que é transversal às outras duas festividades populares do mês de junho, São João e São Pedro) são sardinhas assadas acompanhadas com batatas cozidas, caldo verde, broa de milho, pimentos e vinho tinto, embora diversas carnes grelhadas, no pão ou no prato, começam a ter uma presença assídua. Uma venda típica destas festividades são os manjericos. Essencialmente são mulheres que os vendem, em bancas pequenas, instaladas nos passeios das Praças 9 de Abril e D. Maria II, onde os dispõem juntos uns aos outros, dentro de vasos cerâmicos de diversos tamanhos, ornamentados com uma bandeirola contendo quadras alusivas às festividades, que por sua vez encontram-se montadas num arame que se espeta na terra dos vasos. Se em tempos recuados estes vasos eram oferecidos pelos homens ou mulheres às pessoas amadas, hoje são adquiridos mais por indivíduos, de ambos os géneros, para decorarem as casas ou para oferecem a pessoas amigas e/ou familiares. ANÚNCIO DAS FESTAS Estas festividades começam a ser anunciadas à comunidade durante o mês de maio, com o lançamento de notícias no sítio de internet do Municipio e nos diversos periódicos locais e regionais, contendo o programa completo. No primeiro dia das Festas Antoninas, pelas 09h00m da manhã, é anunciado à cidade o seu início, através de uma salva de 21 morteiros. Esta abertura das festas já é uma tradição que se encontra documentada desde pelo menos 1906 e que, à época, se chamava “Alvorada Festiva”. CASCATAS DE SANTO ANTÓNIO Ainda no primeiro dia das festividades, normalmente pela manhã, é inaugurada, pelo presidente da CMVNF ou por alguém em sua representação, a primeira manifestação popular, de caráter coletivo das Festas Antoninas: as cascatas de Santo António. Montadas na Praça 9 de Abril, assumem-se como um dos rituais mais antigos das festas, praticado desde os finais do século XIX, de forma individual ou em grupo, por crianças ou adultos, embora o primeiro grupo – crianças – tivesse tido sempre maior representatividade: “No meu tempo de catraio nós fazíamos umas cascatas. Juntávamos meia dúzia de rapazes ou raparigas, todos juntos púnhamos umas pedritas encostadas a um morro de terra ou a uma parede (…) e ao mesmo tempo púnhamos lá o Santo António. Muitas vezes arranjávamos um regador para fazer de chafariz, ao mesmo tempo também fazíamos os caminhos com serradura, púnhamos lá uns bonequitos… era a cascata do Santo António”. (Manuel Carvalho, 72 anos, devoto de Santo António). Hoje em dia são ainda maioritariamente as crianças que se dedicam à arte de construir cascatas, embora as façam em ambiente escolar e por iniciativa dos professores. A participação é feita através de convite endereçado pela Comissão de Festas a instituições escolares e associações culturais e recreativas do concelho, previamente selecionadas (instituições que mostraram interesse em participar e/ou que já tenham participado em anos anteriores), embora haja intenção de alargar o convite à população em geral. Segundo os membros desta Comissão, este alargamento ainda não foi posto em prática por motivos de segurança destas estruturas. Sendo expostas ao ar livre, sem medidas de proteção, e o facto de um dos rituais associados ser o lançamento/depósito por parte dos festeiros/devotos de moedas num recipiente chamado de “moedeiro”, pode levar a que haja um furto dessas moedas ou de elementos figurativos e, consequentemente, destruição parcial ou total da cascata. As instituições que aceitarem o convite começam a pensar no planeamento da cascata entre os meses de janeiro e março. Como a maioria são instituições escolares, a construção é realizada nas disciplinas de Trabalhos Manuais ou de Educação Visual, envolvendo não só os professores dessas áreas, mas de outras que possam contribuir para a construção da estrutura da cascata, cabendo aos alunos a tarefa de construir os elementos figurativos que a vão decorar. O primeiro passo começa com uma explicação por parte dos professores do que é a cascata de Santo António. “Começamos por fazer uma pesquisa, teórica, no computador, para eles terem uma ideia do que era a cascata. Para eles a cascata era a queda de água. Não a representação em miniatura da vida, da obra do Santo António” (Sílvia Torre, 41 anos, professora da Escola Básica de Pedome). Para muitas dessas crianças, este é o primeiro contacto que têm, com mais profundidade, sobre o percurso de vida do Santo mais acarinhado pela sua comunidade. Esta espécie de introdução ao percurso efetuado por Santo António é fundamental, não só para a construção da cascata, mas para o entendimento do que são as Festas Antoninas e os rituais nela praticados. Após a aquisição de um conhecimento geral sobre Santo António, o passo seguinte passa pela seleção de um tema. Por norma, ele é escolhido após uma troca de ideias e de opiniões entre todos os intervenientes nesta iniciativa, devendo estar obrigatoriamente relacionado com aspetos da vida e/ou da obra de Santo António ou com alguma temática relacionada com as Festas Antoninas e a vida quotidiana dos famalicenses. Independentemente do tema, existem três elementos que, normalmente, encontram-se presentes nas cascatas: 1) Água. Seja dentro de um recipiente (onde as moedas são depositadas) ou “dentro” da estrutura em constante movimento, a água é um dos elementos fundamentais numa cascata; 2) Imagem de Santo António. Normalmente ela é colocada em lugar de destaque, de maiores dimensões que as restantes figuras; 3) Recipiente ou seleção de um espaço para que os festeiros ou simples devotos possam deixar o chamado “Tostãozinho pró Santo António”. Esta moeda, antes pedida por pregão pelas crianças, junto da cascata ou com uma imagem de barro do santo na mão às pessoas que passavam nas redondezas, é agora deixada nesse recipiente ou respetivo “moedeiro”. Tendo o tema escolhido, alunos e professores começam a elaborar um esboço e/ou uma lista dos vários elementos figurativos que vão integrar a cascata. Os típicos bonecos em barro produzidos pelos oleiros nortenhos – o moleiro, a banda de música, os vendedores, a lavadeira, o padre, entre outras figuras que retratavam a via quotidiana – que eram utilizados para ornamentarem as cascatas durante décadas, foram substituídos por figuras produzidas pelos próprios alunos em tecido, cartão ou outro material reciclável. É comum à maioria dos participantes utilizarem materiais recicláveis ou elementos da natureza como matéria-prima para a produção de figuras ou ornamentação da estrutura: “Nós começamos as cascatas com os tubos de tecelagem das linhas. Depois fomos para os iogurtes. De seguida, metemos-lhes as rolhas de cortiça. É a segunda vez que metemos este estilo de trabalho em esferovite (…) E houve um ano em que fizemos os bonecos, foram costurados mesmo por nós aqui, cortados, costurados, em tecido, e cheios de espuma” (Alice Leitão, 58 anos, professora da Escola Básica 2/3 Júlio Brandão). “Para as noivas nós usamos cones de linha e os papéis dos bolos. Para as cabeças umas bolas de esferovite. Depois, para os noivos usamos um saco de sarapilheira” (Ana Rita, 15 anos, aluna da Escola Básica de Pedome). A construção dos elementos que vão constituir a cascata é depois realizada manualmente pelos alunos, com a ajuda dos professores, em contexto de aula prática. A montagem da cascata é feita na véspera ou nas horas anteriores à inauguração. Cada cascata fica dentro de uma tenda, em cima de uma mesa. É durante a montagem que os seus construtores vão idealizar a disposição dos vários elementos. Após a cascata estar montada, a última ação passa pelo embelezamento do espaço envolvente, com a colocação de bandeirolas, balões, manjericos e festões, recriando um ambiente festivo e próprio dos santos populares. A comunidade e os forasteiros aderem com entusiasmo, que é sentido na voz de quem os frequenta “Quase todos os anos, uma das primeiras coisas que eu procuro logo são as cascatas porque eu acho muito giro ver aquela água a correr, aquilo tudo, cada ano assim diferente. É uma coisa que eu gosto mesmo muito. Acho bonito. Pronto, aprecio”. (Maria Alexandrina Costa, 53 anos, costureira da A.C.D.S.M. de Brufe). Embora a sua localização fique um pouco afastada do epicentro das festas, é comum ver-se famílias inteiras e indivíduos mais velhos, acompanhados de crianças, deslocarem-se de propósito à Praça 9 de Abril para verem as cascatas e lançar o “tostãozinho” para o “moedeiro”, após pedirem um desejo a Santo António. É uma iniciativa que envolve várias gerações da comunidade, proporcionando uma efetiva transmissão de conhecimentos dos indivíduos mais velhos aos mais novos, através da explicação de como eram as cascatas nos seus tempos de criança, qual o processo de produção e as diferenças para as atuais. Essa transmissão é facilmente observável nas conversas entre esses visitantes quando estão junto das cascatas. No final das festividades, é praticado um ritual de grande significado, não só para quem os pratica, mas também porque se mantém viva na comunidade uma tradição secular: “No final das festividades, após o desmantelamento da cascata, as moedas recolhidas são depositadas, pelos alunos, na caixa de esmolas existentes na capela de Santo António.” (Rosário Ferreira, 50 anos, professora da Escola Básica 2/3 Júlio Brandão). MARCHAS ANTONINAS INFANTIS Durante a tarde do primeiro dia das Festas Antoninas acontece uma outra manifestação popular coletiva exclusivamente praticada por crianças: as Marchas Antoninas Infantis. Assim, o primeiro dia das festividades, embora tenha normalmente outras iniciativas, nomeadamente de caracter musical e desportivo, é dedicado às crianças. Há uma preocupação da Comissão de Festas de envolver as crianças em quase todas as iniciativas praticadas nestas festividades, seja em iniciativas exclusivas para elas, seja integrada noutras onde possam desempenhar um papel ativo ou simplesmente de observação. As Marchas Antoninas Infantis assumem também uma outra característica, o de aliar o espírito de festa, tão característico das festas populares minhotas, com uma componente eminentemente pedagógica e didática: “Nós falamos um bocadinho sobre quem foi Santo António e o que são as Festas Antoninas, mas são eles mais até que nos dizem a nós. Porque todos andam na catequese, e como eles já desde pequenos vão falando, são eles que até nos falam a nós, o que são as marchas e quem é Santo António porque vão trabalhando isso na catequese e mesmo no seio familiar” (Marta Carvalho, 37 anos, professora da Escola Básica do 1º ciclo de Seide São Miguel). Por outro lado, fruto da tenra idade das crianças, que oscilam entre os 3 e os 10 anos, a participação nesta iniciativa funciona, tal como na construção de cascatas, como uma espécie de ritual introdutório às festividades. Esta experiência pode até permitir a que, no futuro, a participação destas crianças nas festas seja efetiva e que tenham, desde pequenos, a preocupação de defender a sua continuidade: “Ao longo dos tempos vão passando por diferentes fases. A fase de observar, a fase de participar nas marchas, mais tarde podem voltar a observar e depois quem sabe mais tarde até a integrar mais fortemente as marchas ou até a organização do evento” (Marta Carvalho, 37 anos, professora da Escola Básica do 1º ciclo de Seide São Miguel). A organização desta iniciativa é da responsabilidade dos técnicos do gabinete dos Serviços Educativos da Divisão de Educação da CMVNF, que endereçam o convite de participação a todas as instituições escolares do 1º Ciclo do Ensino Básico, IPSS e jardins-de-infância do concelho, pertencentes à rede pública e privada. A sua participação encontra-se de tal forma enraizada na comunidade educativa que muitas instituições têm o cuidado de incluir no seu plano anual de atividades a participação nas Marchas Antoninas Infantis. Os procedimentos são de alguma forma idênticos aos das Marchas Antoninas (adultos), existindo um regulamento, que é público, onde estão explicados todos os pormenores de participação. As instituições escolares que participam nesta iniciativa têm que construir a sua marcha relacionada com o tema desse ano. A marcha pode ser constituída por uma ou mais turmas, não havendo número limite de elementos. Isto permite a que todas as instituições escolares participantes consigam juntar crianças de várias turmas, de diferentes idades, a trabalharem para um único objetivo. Esta socialização é importante para reforçar os laços de amizade e o sentido de identidade e de pertença à comunidade. Não existe a obrigatoriedade de desfilar com trajes e arcos, embora todas as instituições o façam, não só porque uma “verdadeira” marcha assim o exige, mas também porque desse modo concorrem aos seguintes prémios atribuídos por um júri: melhor marcha; melhor guarda-roupa e melhores arcos. A coreografia, por seu lado, embora também não seja obrigatória, é apenas realizada por um terço das instituições participantes. O tema, diferente de ano para ano, é sugerido pela organização. Tal como na iniciativa das Cascatas, também aqui a temática encontra-se sempre relacionada com a vida e obra de Santo António, com as Festas Antoninas ou com os Usos e Costumes famalicenses. Lançado o tema, toda a comunidade escolar, incluindo os pais das crianças, metem “mãos à obra” e com vários meses de antecedência fazem todo um trabalho de pesquisa, execução de materiais e preparação da coreografia, com base no regulamento existente. A primeira etapa inicia-se por volta do mês de março e passa pela pesquisa de informação sobre o respetivo tema: “Algumas ideias nós vamos ver à internet. E outras a professora também vê noutros sítios e pergunta se nós gostamos. Se não gostamos não fazemos, se gostamos fazemos” (Juliana Figueiredo, 9 anos, aluna da Escola Básica do 1º ciclo de Seide São Miguel). “Foi um bocadinho de cada um, dos meninos, e de trabalhos que já vamos fazendo”. (Marta Carvalho, 37 anos, professora da Escola Básica do 1º ciclo de Seide São Miguel). Nesta etapa toda a comunidade escolar é convidada a dar as suas sugestões. São apontadas todas as ideias apresentadas e, normalmente, vence a que teve mais concordância entre os alunos e os professores/educadores. É também nesta fase que cada instituição escolar decide se vai ou não realizar a componente coreográfica. Os arcos e os trajes são produzidos em simultâneo, dentro das salas de aula ou no recinto do recreio da instituição. As crianças do pré-escolar, devido à tenra idade, têm a ajuda dos professores e dos educadores na construção dos arcos, ficando com a tarefa de ajudar na construção dos adereços que vão decorar os trajes. São tarefas rotineiras, como as de pintar ou moldar, mas que para elas têm grande significado porque o resultado final vai ser apresentado à comunidade. As crianças mais velhas, do ensino básico, já ajudam tanto na confeção dos trajes como dos arcos. “Estão todos os alunos envolvidos, todos fazem de tudo, e os professores também. Todos fazem um bocadinho de tudo, todos participam, onde querem, onde podem, e no fim o trabalho final é de todos” (Marta Carvalho, 37 anos, professora da Escola Básica do 1º ciclo de Seide São Miguel). Na sua confeção e construção, tal como verificado nas cascatas, são utilizados materiais recicláveis, como sacos de papel e de plástico, garrafas de plástico, cartolinas, papel crepe, arames, cordas, entre outros. Muitas instituições escolares optam também por apresentarem uma coreografia, com letra escrita pelos professores / educadores, utilizando uma música não original, e que é cantada ao vivo pelas crianças. Normalmente, os ensaios da coreografia e decoração da letra são realizados após os trajes e os arcos estarem prontos, o que acontece durante o mês de maio. Até às vésperas do desfile, as crianças ensaiam pelo menos uma vez por semana no recinto da instituição. No dia do desfile, as instituições escolares chegam ao local de concentração – Em 2016 foi na Avenida 25 de Abril – com alguma antecedência. A posição de cada grupo no desfile é feita por ordem de chegada, com exceção das instituições escolares que vão apresentar coreografia. Essas são posicionadas no final do desfile para diminuir o tempo de espera durante o percurso, entre os grupos que não apresentam coreografia e os grupos que apresentam. Mais de 2000 crianças de três dezenas de estabelecimentos de ensino desfilam pelas ruas do centro da cidade [[Ver Anexos – Documentação Cartográfica – Mapa 004]. E enquanto os mais novos desfilam orgulhosos, nos passeios centenas de populares, entre os quais se destacam os familiares das crianças, acotovelam-se em busca de um espaço para ver o espetáculo. “Parece que naquele dia ninguém trabalha em Famalicão. Os pais devem todos pôr um dia de férias. Só vejo que é tanta gente na rua, tanta, tanta gente na rua, é os fotógrafos, é os pais, é os familiares, tudo a tirar fotografias… É um dia muito bonito” (Jorge Faria, 63 anos, presidente da Associação de Moradores das Lameiras). Nas imediações do edifício da Fundação Cupertino de Miranda, na Praça D. Maria II, que coincide com o final do desfile, é montado uma tribuna para albergar o presidente da CMVNF, respetivos vereadores, representantes dos agrupamentos escolares, da Comissão de Festas e elementos do júri. Constituído por três elementos, o júri tem a responsabilidade de eleger a melhor marcha, o melhor guarda-roupa e os melhores arcos. As instituições escolares que optaram por não realizar coreografia terminam o desfile após passarem à frente da tribuna. As que ensaiaram coreografia fazem a sua atuação, que não deverá ser superior a três minutos, em frente à tribuna, dando por terminado aí a sua participação nesta iniciativa. No final de todas as marchas desfilarem, é anunciado pelo júri os vencedores das três categorias a concurso e atribuição dos respetivos prémios. DESFILE ETNOGRÁFICO O desfile etnográfico é dos rituais mais antigos praticados nas Festas Antoninas. Sucessor das antigas Paradas Agrícolas, esta iniciativa teve ao longo dos tempos várias designações e diferentes modos de atuação, embora o objetivo tivesse sido sempre o mesmo: mostrar aos festeiros (de dentro e fora da comunidade) aspetos da identidade cultural famalicense. Esta iniciativa assume-se de extrema importância para a sua divulgação porque pretende relembrar aos mais velhos e/ou transmitir às gerações mais novas como era o trajar e a vida quotidiana de quem residia no concelho de Vila Nova de Famalicão nos finais do século XIX / inícios do século XX, através da apresentação e encenação de um conjunto de quadros protagonizados por elementos de vários ranchos folclóricos e grupos de cantares e dançares do concelho. Deste modo, todos os anos, a Comissão de Festas convida vários grupos/ranchos folclóricos do concelho para participarem nesta iniciativa, atribuindo-lhes um determinado papel no desfile, que passa por irem trajados com um único tipo de roupa – por exemplo: traje do dia-a-dia, traje domingueiro, traje de ir às festas – ou por ornamentarem um carro alegórico com um tema específico, ficando ainda responsáveis pela teatralização das personagens. A participação nesta iniciativa é também aproveitada por esses grupos para apresentarem à comunidade o trabalho que têm vindo a fazer ao longo das décadas (sendo considerados os principais agentes recuperadores das tradições famalicenses): “Esta iniciativa é sempre uma maneira de mostrar o que Famalicão tem e o que faz. E no nosso caso mostrar aos mais pequenos o gosto que alguns já têm pelo folclore e pelas tradições do concelho de Famalicão” (Bruno Silva, 31 anos, membro do Grupo Infantil e Juvenil de Danças e Cantares de Joane). “Isto é bom para as pessoas verem a riqueza que temos no nosso concelho a nível de grupos folclóricos que são bastantes. Para as pessoas reviver, muitas delas aquilo que já passaram e para os mais novos verem aquilo que os seus avós os seus antepassados usavam e como se comportavam nesses tempos” (Vânia Mendes, 32 anos, membro do Grupo Etnográfico “Rusga de Joane”). Para haver uma efetiva transmissão intergeracional de conhecimentos é necessário que também haja uma renovação/cativação de novos membros, principalmente dos mais jovens. Em todos os grupos/ranchos folclóricos participantes neste desfile, isso está a ser feito, sendo um aspeto positivo para a salvaguarda destas práticas: “Nós tentamos cativar os mais novos. Eu própria comecei com um ano e meio. Já tenho trinta e dois, portanto, nunca mais larguei isto. Também começou com os meus avós, os meus pais e agora estou cá eu” (Vânia Mendes, 32 anos, membro do Grupo Etnográfico “Rusga de Joane”). O desfile integrado nas festividades do ano de 2016 apresentou-se constituído pelas seguintes personagens e quadros alegóricos: Dois grupos de Bombos Cascatas a Santo António: Padiolas com cascatas em cima Grupo de miúdos a pedir o tostão para Santo António Os Trajes Traje de Domingo e Traje de Festa Trajes Ricos As Marchas a Santo António Marchantes Arcos Dois Grupos de Bombos O Arraial A Capela O fogueteiro As Mordomas e Mordomos Dois Grupos de Bombos As Figuras Populares da Festa: O Aguadeiro A Doceira O Vendedor da Banha da Cobra O Amolador de Facas O Tamanqueiro A Galinheira O Vendedor da Loiça Os brinquedos de Pau O Lavrador vendedor de Gado Fogueiras de Santo António Moços a saltar à fogueira e Quadras de Santo António Dois Grupos de Bombos A Missa e a Procissão Padre Distribuição do Pão de Santo António Estandartes das Irmandades Andores e Figuras Romeiros Promessas A Estúrdia Tunas e Tocatas A Taberna Mesas e Bancos Pancadaria (Jogo do Pau) A concentração e posicionamento dos vários participantes no desfile é feita na Rua Manuel Pinto de Sousa. O trajeto tem sido sempre o mesmo desde á vários anos. Do arruamento mencionado, o desfile segue para a Rua Adriano Pinto Basto, vira para a Rua de Santo António e termina na Praça 9 de Abril. Ao longo do desfile, dezenas de festeiros posicionam-se nos passeios dos vários arruamentos para assistirem à passagem dos grupos. Pontualmente, vai existindo alguma interação entre os participantes e os espetadores, principalmente através dos indivíduos que personificam as várias figuras populares das festas e os que seguem nos carros alegóricos. Nas conversas de quem assiste é comum ouvir-se “quando era criança também andava assim vestida”, “quando vinha à feira a Famalicão ia comprar coisas a vendedores iguais a estes”, “quando ia à missa ia assim vestida”. No final, a concentração faz-se na Praça 9 de Abril, onde os vários tocadores de bombos que, no meio do desfile, iam fazendo barulho com os seus instrumentos, terminam a sua atuação com um espetáculo que só quem percebe da arte de tocar bombo o consegue produzir e reproduzir. NOITADA DE SANTO ANTÓNIO O dia 12 de junho é o último dia das festividades dedicado à componente profana. A chamada noite ou noitada de Santo António é também o dia da atuação das Marchas Antoninas, do saltar das fogueiras e do típico arraial que inclui o manjar cerimonial dos santos populares. É a principal noite das festas em que o povo liberta toda a folia, socializa, rompe com o quotidiano. Estas características, embora verificáveis nos dias anteriores, atinge o seu ponto alto ao longo desta noite. Ao final da tarde, após a saída dos empregos ou das escolas, grupos de amigos ou de família começam a juntar-se nas imediações das tasquinhas (espaços de venda de comida e bebida construídos especificamente para as festas, normalmente constituídos por zona de confeção dos alimentos, mesas e cadeiras) ou dos restaurantes. O cheiro do carvão queimado dos fogareiros acesos começa a inundar o ar da cidade. Sardinhas, pimentos, entremeadas, fêveras… são confecionadas, para se juntarem na mesa à tradicional broa de milho e ao caldo verde, constituindo a gastronomia típica destas festividades. O jantar é realizado em família ou em grupos de amigos, na rua ou em espaços abertos, decorados com as típicas bandeirolas, balões e festões, ao som de música popular portuguesa. MARCHAS ANTONINAS O desfile e atuação das Marchas Antoninas, na noite de Santo António é, atualmente, vista pela comunidade, como a principal manifestação coletiva, de natureza profana, das Festas Antoninas: “As festas antoninas para mim resumem-se às marchas” (Mariana Silva, 34 anos, coreografa da marcha da A.R.C.A.); “Particularmente, as marchas são o acontecimento que eu mais gosto de ver” (José Carvalho, 47 anos, comerciante); “Para mim o que me chama a atenção é as marchas” (Liliana Faria, 38 anos, coreografa da marcha da A.C.D.S.M. de Brufe); “Principalmente gosto quando eles marcham” (Ana Rita, 15 anos, aluna da Escola Básica de Pedome); “Também gosto de ver as pessoas a se divertir nas marchas”. (Mafalda Faria, 5 anos, aluna do Centro Social e Cultural Dr. Nuno Simões); “Não vale a pena eu estar a dizer que realmente é o ex-libris, que é o ponto mais alto, não vale a pena até nós estarmos a dizer isso, porque o povo sabe, o povo está lá, e as marchas são o que são, estão como estão, graças ao povo que acredita nas marchas de Vila Nova de Famalicão” (José Carlos Santos, 57 anos, responsável pela marcha da A.C.D.S.M. de Brufe). A organização desta iniciativa é da responsabilidade da Comissão de Festas, que endereça o convite de participação a todo o movimento associativo do concelho. Existem já várias coletividades que todos os anos inscrevem no seu plano de atividades a participação nas Marchas Antoninas (algumas reconhecem mesmo que esta participação é o principal acontecimento anual da coletividade) e outras que surgem exclusivamente para a participação nesta iniciativa. Os grupos participantes têm uma planificação própria que pode diferenciar de uns para os outros. No entanto, a construção de uma Marcha obedece sempre às seguintes etapas: reuniões preparatórias, escolha do tema, seleção da roupa, produção dos arcos, composição da música, redação da letra e ensaios da coreografia. O planeamento de uma Marcha começa normalmente no último trimestre do ano precedente com uma reunião entre o núcleo duro da direção da coletividade/movimento participante, com o objetivo de discutir possíveis temas. Nestas reuniões preparatórias, os indivíduos tendem a permanecer fixos de ano para ano. No entanto, como a idade de alguns vai avançando, outros vão sendo integrados com dois objetivos: I) Adquirirem os conhecimentos necessários ao planeamento de uma Marcha, que são transmitidos de forma oral pelos indivíduos mais velhos aos mais novos, de modo a salvaguardar a sua reprodução futura; Esta convivência e/ou renovação geracional é constante em todas as Marchas. Além de integrarem elementos de uma faixa etária que vai, por exemplo, dos 4 aos 80 anos, facilmente encontramos elementos que já estão dentro das marchas há várias décadas e que, além de si, outros elementos familiares os acompanham: “Nós temos aqui na nossa marcha avôs, pais e netos. Nós temos aqui três gerações. E isso para nós é muito bom. Porque é sinal que os pequenos, por arrasto do avô, da avó ou do pai e da mãe, vão participar. Daqui por 4, 5, 6, 10 anos, já são esses pequenitos que estarão com o arco na mão ou a marchar na rua.” (José Carlos Santos, 57 anos, responsável pela marcha da A.C.D.S.M. de Brufe). “Gostam de participar, de ajudar o pai. Tanto o meu filho como a filha ajudam o pai naquilo que for preciso e gostam. Têm as nossas raízes, desde pequenos que os trouxemos para aqui” (Ana Oliveira, 54 anos, membro dos músicos da marcha da A.C.D.S.M. de Brufe); “A minha filha já faz parte da marcha há três ou quatro anos. Todos os anos diz-me: Ó pai eu quero ir na marcha, ó pai eu quero ir na marcha. Então, é sempre assim. É uma alegria para ela” (Carlos do Carmo, 42 anos, marchante da A.R.C.A.); “Já em criança fui sempre. Era o sonho de levar a bandeira, era o sonho de já poder ir só fazer alguns passos à frente dos adultos” (Ricardo Nuno Ribeiro, 33 anos, marchante da A.R.C.A.). II) Transmitirem a todos os elementos do grupo conhecimentos que já possuem, porque muitos destes novos elementos têm formação académica e experiência profissional diferente dos elementos mais antigos da direção, proporcionando uma comunhão de conhecimentos e experiências que serão aplicadas nas várias etapas inerentes à construção de uma marcha. Os indivíduos são na sua maioria residentes ou ex-moradores da freguesia a que a coletividade pertence. Para integrarem uma determinada marcha têm que possuir uma ligação à freguesia (embora não seja obrigatória), quer seja por via familiar, profissional, de residência ou sentimental. E é em volta destas questões que surge o chamado bairrismo: a defesa da freguesia, da coletividade, da comunidade. Ao longo do desfile pelas ruas da cidade e durante a atuação em cima do estrado, os marchantes sentem que não estão apenas a representar a sua Marcha, mas também a defender e representar a sua própria comunidade. Mais do que famalicenses, a população de Vila Nova de Famalicão sente-se pertencente a uma freguesia, a uma comunidade. Como é comum dizer-se por esta terra: “primeiro sou da freguesia e depois do concelho”: “Nós aqui temos essa questão da rivalidade, saudável sempre, mas nós temos aqui um núcleo duro que transmite aquilo que é o bairrismo daqui da ARCA e de Antas. Portanto, fica bem incutido. Quem cá vem no primeiro ano, no segundo ano mantém-se e já leva isso enraizado e chega à rua e defende com unhas e dentes a camisola da ARCA, até ao limite mesmo” (Ricardo Nuno Ribeiro, 33 anos, marchante da A.R.C.A). “É de salutar esse empenho de todas as marchas. Cada uma a defender a sua dama e eu acho que não defendem só a sua freguesia. Acho que defendem o nosso concelho. Claro, cada um à sua maneira. Dentro da sua terra” (José Carlos Santos, 57 anos, responsável pela Marcha da A.C.D.S.M. de Brufe). Esta fase preparatória normalmente é demorada porque não é fácil encontrar um tema que agrade a todos membros da direção. Tal como nas Cascatas e nas Marchas Antoninas Infantis, nesta manifestação é também o tema que vai influenciar todos os outros componentes: a letra, a música, a coreografia, a roupa e os arcos. O comum é haver várias reuniões até todos os membros da direção optarem por um tema, entre os vários que, entretanto, vão sendo lançados. Santo António, as Festas Antoninas, as Fogueiras, as Cascatas, o Pão de Santo António… é à volta destas temáticas que os temas vão surgindo, embora algumas marchas comecem a optar por temas inovadores, onde estas temáticas, embora presentes, são relegadas para segundo plano. Com o tema escolhido, começa-se a pensar na história que a marcha vai querer passar para o público, porque a sua atuação não é mais do que a teatralização de uma narrativa. Por norma, a história é escrita entre os membros da direção e outros que venham a ter alguma preponderância na construção da marcha, caso do coreografo e do músico. É nesta altura que os membros da direção começam a pensar na roupa e nos arcos, como a escolha de tecidos, materiais, cores, entre outros adereços. A decisão sobre a roupa (tecidos, padrões, cores) recai entre os membros da direção e as costureiras que as vão produzir: “Depois de sabermos o tema, tentamos, eu e as pessoas que fazem parte da associação, dar ideias. Cada um dá uma opinião. E então, a partir daí vamos criando conforme o tema. Se é sobre as fogueiras vamos procurar coisas que têm a ver com as fogueiras e assim. Depois, fazemos um croqui, fazemos um modelo. Vamos aperfeiçoando, conforme vamos vestindo. Há coisas que a gente não gosta. Um dá uma opinião, outro dá outra, até que chegamos a um acordo. E fazemos isso. Depois vamos procurar tecidos. Procuramos encontrar tecidos, às vezes estampados, outras vezes pintados, conforme. Tendo os tecidos, começamos a fazer. Tiramos é por medida, é tudo por medida. Fazemos a primeira prova, as pessoas provam. Depois, claro, às vezes estamos quase no fim e até temos que mudar alguma coisa. Mas, sempre em função da história” (Maria Alexandrina Costa, 53 anos, costureira da marcha da A.C.D.S.M. de Brufe). Esta escolha está sempre envolta de discussões porque além de ser a parte mais visível de uma Marcha e a que tem que causar mais impacto nos festeiros, é a que pesa mais no orçamento geral. E a questão do orçamento está sempre presente em todas as etapas da construção da Marcha porque, além dos valores monetários entregues pela CMVNF pelo ato de inscrição na iniciativa (como ajuda para subsidiar os custos), que é igual para todas as Marchas, a coletividade, se quiser ter um orçamento superior, terá que tentar angariar verbas pelos seus próprios meios. Na década de 1980, nos inícios desta iniciativa, a roupa utilizada pertencia à coletividade ou era comprada em lojas da especialidade: “Antigamente quando nós começamos íamos com a roupa do rancho. Depois fizemos. Depois já alugamos. A partir daí fizemos sempre. Todos os anos fazemos uma roupa para ir às Marchas. Todas vão contentes, vamos todas alegres nas marchas.” (Ana Oliveira, 54 anos, membro dos músicos da marcha da A.C.D.S.M. de Brufe). Eram os trajes consoante nós podíamos. Eram nossos. Nas Marchas uns iam com a roupa que podiam. Depois fomos fazendo melhor” (Maria Santos, 63 anos, membro dos músicos da marcha da A.C.D.S.M. de Brufe). Atualmente, todas as Marchas confecionam a sua roupa, que é diferente todos os anos. A roupa é produzida por costureiras que pertencem à coletividade ou que são contratadas, em instalações próprias, muitas delas em anexos de casas particulares, em horário pós-laboral. O facto de o concelho de Vila Nova de Famalicão ser (e ter sido) abonado em indústrias têxteis, proporciona a existência de uma grande oferta de indivíduos que dominam a arte da costura, conseguindo transformar simples tecidos em trajes de uma grandeza monumental. Os procedimentos são comuns a todos os grupos. Depois da escolha do modelo e dos tecidos que vão utilizar, as costureiras fazem os moldes que utilizarão para o corte dos tecidos. O passo seguinte passa pela tiragem de medidas a todos os membros da marcha, para entrar no modo de produção do traje. Ao longo de vários meses, os fins de tarde e fins-de-semana são dedicados à produção de mais de uma centena de trajes. Embora idênticos, cada marcha produz dez trajes diferentes: os trajes dos marchantes (homem e mulher), dos músicos (homem e mulher), do coro (homem e mulher), das mascotes (rapaz e rapariga) e dos padrinhos (homem e mulher). Com a história escrita, o músico, que pode ser alguém de dentro da marcha e/ou da coletividade, ou alguém contratado, começa por escrever a letra e compor a parte instrumental. A letra tem sempre por base a história que a coletividade quer transmitir na sua marcha. Segundo o regulamento [Ver Anexos – Outra Documentação Escrita – Regulamento das Marchas Antoninas 2016], a música apresentada pode não ser inédita, embora se incentive a que seja, e o acompanhamento musical deverá ser feito preferencialmente por instrumentos de sopro. A componente musical é ainda constituída por um coro, com um número de elementos indefinido, e um conjunto de músicos que, durante a atuação, tocarão e cantarão ao vivo. Com a história, a letra e a música elaboradas, entra-se na fase da preparação da coreografia. Mais uma vez, o coreografo pode ser alguém de dentro da coletividade, da freguesia ou contratado. No mês de fevereiro/março, quando os ensaios começam a ser realizados, todas estas etapas da construção de uma marcha, com exceção da roupa e dos arcos, têm que estar finalizados. Realizados em recintos cobertos ou ao relento, normalmente num pavilhão ou campo de jogos, os ensaios são das etapas que constituem a construção de uma marcha a que mais tempo é praticada e a que envolve um maior número de indivíduos. Desde os inícios de fevereiro/março até finais de maio, os ensaios são realizados uma vez por semana, por norma durante as noites de sexta-feira, sábado ou domingo. Em junho, os dias de ensaio aumentam para dois, havendo marchas que, durante as primeiras semanas deste mês, ensaiam três vezes por semana. A última etapa da “construção” de uma marcha a arrancar é a construção dos arcos. Por norma, é executada durante os meses de abril, maio e junho, e envolve o chamado “núcleo duro da marcha”, constituída por elementos da direção e de alguns indivíduos, cuja experiência profissional, seja relevante na construção do arco: “Temos ajudantes. Três, quatro, mas da associação, não temos cá forasteiros, digamos. Nós somos gente trabalhadora e agarramos isto com garra (Carlos do Carmo, 42 anos, marchante da A.R.C.A.). “Duas pessoas montam o primeiro, definem quais são os passos e a partir daí qualquer pessoa, até os marchantes vêm cá ajudar quando é necessário. Normalmente são marchantes e diretores e amigos da ARCA que o fazem” (Ricardo Nuno Ribeiro, 33 anos, marchante da A.R.C.A.). Segundo o regulamento, cada marcha pode levar 10 arcos duplos ou 20 individuais, e a decoração terá que incluir, obrigatoriamente, um dos seguintes elementos tradicionais das festas populares: festão, balão e/ou manjerico. A construção é realizada na sede da coletividade ou num espaço transformado de apoio à marcha, durante o período pós-laboral e/ou fins-de-semana, por marchantes. Os materiais utilizados diferem de Marcha para Marcha, embora para o suporte seja utilizado preferencialmente a madeira, o metal e o plástico, e para a decoração/ornamentação, utilizem toda uma panóplia de materiais, condizente com a imaginação dos seus construtores. De forma a assegurar a autenticidade dos vários componentes que integram a construção da Marcha e o cumprimento do seu regulamento, é constituída anualmente uma comissão de jurados, cujos membros pertencem à Comissão de Festas, com a finalidade de vistoriar o trabalho de preparação das marchas. Esta comissão, entre outros, assiste aos ensaios e visita os ateliers de costura. No dia da atuação, 12 de junho, ao início da tarde os marchantes começam a concentrar-se na sede da coletividade ou noutro local da sua freguesia (caso se trate de movimentos), para se vestirem, maquilharem-se e ultimarem todos os pormenores, havendo sempre a necessidade de se efetuar alguns ajustes nas roupas e nos arcos. Ao final do dia partem para a Avenida de França (local de concentração nas festividades de 2016), na cidade de Vila Nova de Famalicão, ficando aí concentrados, junto ao Estádio Municipal. A ordem de posicionamento no desfile e de atuação, que é a mesma, é definida por sorteio umas semanas antes. Mesmo o posicionamento dos vários marchantes dentro da marcha é previamente definido, sendo constituído, normalmente, da seguinte forma: porta-estandarte, mascotes, padrinhos, pares de marchantes, marchantes que transportam os arcos, músicos e coro, embora, durante o percurso, o envolvimento com quem está a assistir faça com que esse ordenamento não seja totalmente respeitado. O início do desfile pelos vários arruamentos da cidade de Vila Nova de Famalicão começa entre as 21h00m e as 21h30m. Ao longo das ruas, as Marchas são acompanhadas por milhares de pessoas que se juntam para aplaudir, dar vivas, dançar, cantar e entrar no ambiente festivo e de divertimento desta manifestação. A interação entre os marchantes e os festeiros é total. Ao longo do percurso, os marchantes fazem diversas paragens, entoando a música da marcha e dançando, ora coreograficamente, ora com espontaneidade, chamando, muitas vezes, indivíduos do público para participarem e integrarem as danças e os cantares de cada marcha. Para a maioria dos marchantes é esta interação com a comunidade, constante ao longo das várias centenas de metros que as Marchas têm que percorrer entre o local de concentração e de atuação, que todo o trabalho e esforço realizado ao longo de vários meses do ano é compensado: “Quando se vive as associações e se sente no coração, aquele dia é o dia da euforia, é o dia de não pensar em nada. Desfilar, gritar pela marcha, tentar brilhar, tentar trazer a marcha para um bairrismo, motivar o público. São duas ou três horas contínuas de não se pensar em nada, mas só pensar em desfilar, em entoar a marcha, fazer o nosso melhor. São momentos que, só sentindo mesmo, só vivendo mesmo é que não há palavras concretas para explicar o que se sente” (Laurindo Carneiro, 49 anos, marchante da A.R.CA.). “Nós sentimos uma alegria muito grande ao ir, ao passar pela rua abaixo, pelas ruas da cidade, e ver aquela multidão. Não vale a pena eu estar a dizer que realmente é o ex-libris, que é o ponto mais alto, não vale a pena até nós estarmos a dizer isso, porque o povo sabe, o povo está lá, e as marchas são o que são, estão como estão, graças ao povo que acredita nas marchas de Vila Nova de Famalicão. Portanto, nós ao vermos aquela romaria de gente por lá abaixo, nós dizemos: vale a pena continuar. O povo apoia o nosso trabalho. Portanto, é para aquele povo, de fora, de casa, da terra, que nós temos que estar preparados e é com eles que nós nos sentimos sempre muito motivados” (José Carlos Santos, 57 anos, responsável pela marcha da A.C.D.S.M. de Brufe). “O que é que eu sinto? Isto é um bocadinho difícil de explicar porque só quem cá está e quem vive, dizer que é muito emocionante, que é uma alegria enorme não chega porque existem muitos mais adjetivos para qualificar aquilo que sentimos” (Ricardo Nuno Ribeiro, 33 anos, marchante da A.R.C.A.). “Na rua, ao ver a nossa marcha desfilar, ao ver a nossa gente, ao ver aquelas nossas cores, ao ver aquelas nossas gentes, a gente esqueceu-se que trabalhou, que perdeu horas, que perdeu noites, que teve às vezes chatices, às vezes até chorou porque não atingiu o objetivo ou porque falhou alguma coisa, naquele dia, o facto de eles estarem felizes e as pessoas aplaudirem e verem… pronto, aquilo é uma alegria que não tem explicação” (Maria Alexandrina Costa, 53 anos, costureira da marcha da A.C.D.S.M. de Brufe). A atuação é realizada, desde as festividades de 2016, num palco previamente instalado nos jardins fronteiro ao edifício da Câmara Municipal (antes era no interior do Estádio Municipal, sendo o percurso efetuado pelas marchas no sentido inverso ao atual). A entrada de cada marcha no palco é acompanhada por um rufar de caixas/tambores. Depois de todos os elementos estarem devidamente posicionados, cada Marcha aguarda a ordem de início, que é dada por um sinal sonoro emitido por elementos da Comissão de Festas. A exibição faz-se de frente para a tribuna principal, tendo um tempo de duração definido: não poderá ser inferior a 4 minutos, nem superior a 8 minutos. Terminado os 8 minutos, um membro da Comissão de Festas toca uma sineta a anunciar o final da sua exibição. Após a atuação, todos os elementos da Marcha saem pelo lado oposto ao que entraram, dirigindo-se para o Centro Cívico de Vila Nova de Famalicão onde têm comida e bebida à sua espera para retemperarem as forças, de modo a continuarem a celebrar a noite de Santo António até ao amanhecer. Tal como nas Marchas Antoninas Infantis, também existem diversos prémios atribuídos por um júri composto por elementos convidados pela Comissão de Festas, que passa pela Melhor Música, Melhor Letra, Melhor Coreografia, Melhor Guarda-roupa, Melhores Arcos e a Marcha mais Popular. Este último prémio é atribuído por dois elementos da Comissão de Festas que pontuam cada Marcha perante a reação e a interatividade entre ela e o público durante o desfile. Todos estes prémios são atribuídos na sessão de encerramento das festividades, na noite do dia 13 de junho. FOGUEIRAS DE SANTO ANTÓNIO Após a última marcha passar no cruzamento da rua Adriano Pinto Basto com a rua de Santo António e Praça D. Maria, os técnicos do Serviço de Jardins da CMVNF começam a preparar uma outra manifestação secular associada às Festas Antoninas: as Fogueiras de Santo António. Resquícios das antigas celebrações pagãs, diz a tradição que o ritual de saltar as fogueiras possui virtudes profiláticas para quem as salta, estando associadas também a pedidos de casamento, saúde e felicidade, embora atualmente se salte mais por adrenalina ou por sistema de apostas entre amigos: “Às vezes até se vê casais jovens, casais a saltar até de braço dado um com o outro, pronto, é o normal. Todos os anos é quase sempre a mesma coisa” (José Carlos Costa, 56 anos, responsável pelas “fogueiras”); “Eu gostava de saltar, sentir a sensação e foi o que eu fiz” (Ricardo Costa, 11 anos, participante nas “fogueiras”); “É adrenalina, principalmente (Rui, 21 anos, participante nas “fogueiras”); “O meu pai acho que saltava por gosto. Mas eu conhecia na altura jovens que ao saltar pediam desejos ao Santo António. Não diziam o quê, mas tinham aquele gosto. Outros, claro, é mesmo para se mostrarem, para se exibirem, é mesmo assim, entrar na festa” (Maria Alexandrina Costa, 53 anos, costureira da marcha da A.C.D.S.M. de Brufe); “Eles tinham àquela hora aquela tradição, as pessoas reuniam-se à volta da fogueira, saltavam às fogueiras quem queria, quem não queria ficava a ver” (Ana Oliveira, 54 anos, membro dos músicos da marcha da A.C.D.S.M. de Brufe); “Eu gosto de ver as fogueiras de Santo António. Não salto as fogueiras de Santo António, por amor de Deus. Mas acho bonito. Aquilo é mais para os rapazes embora haja raparigas” (Teresa Ribeiro, 70 anos, membro dos músicos da marcha de A.C.D.S.M. de Brufe); “Acho que era um bocadinho às vezes por ver os outros e aquele espírito de Santo António e que era da praxe digamos assim o saltar à fogueira” (Ricardo Nuno Ribeiro, 33 anos, marchante da A.R.C.A.). “Eu cheguei a saltar muitas vezes. Agora não salto nada, agora não” (Maria Santos, 63 anos, membro dos músicos da marcha da A.C.D.S.M. de Brufe). “Eu acho que agora que é mais, estes rapazes saltam mais por… sei lá… como é que eu hei-de explicar… sem timidez eles saltam” (Teresa Ribeiro, 70 anos, membro dos músicos da marcha de A.C.D.S.M. de Brufe). A preparação desta iniciativa é realizada ao longo do ano, através da seleção de árvores que caíram ou foram derrubadas por diversos motivos pelos técnicos do Serviço de Jardins da CMVNF. Durante o mês de maio, é feita a preparação da madeira, que envolve o corte e a limpeza de folhas, realizada com motosserras. A madeira mais grossa é cortada em formato de toros, enquanto a madeira mais fina, os chamados galhos, é cortada em pedaços com sensivelmente 50 centímetros de comprimento, embora não haja medidas exatas de corte. A madeira utilizada para as fogueiras é a que estiver disponível na altura, embora haja preferências para a madeira de pinheiro por, segundo os técnicos, arder melhor. Ao início da noite do dia 12 de junho, a madeira é transportada para o local (topo norte da Praça D. Maria II) onde será montada pelos respetivos técnicos. Ao todo são montadas três fogueiras, alinhadas, com um espaçamento de vários metros entre si. O sistema de montagem é simples. A primeira madeira a colocar-se diretamente no chão são os galhos, em forma de molhos. Em seguida, são colocados os toros em sistema de tenda ou pirâmide. Para que o acendimento seja mais rápido, é colocado ainda papel de jornal e acendalhas no meio dos galhos. Com o tempo húmido, recorre-se também a gasolina. Após a madeira ser acesa, espera-se uns minutos para que as chamas diminuam, e logo que estejam reunidas todas as questões de segurança, os festeiros começam logo a movimentarem-se para começarem a saltar. Os casais, de mão dada, não são exceção, demonstrando que os antigos rituais ainda estão vivos dentro da comunidade. O salto, embora espontâneo, possui algumas regras, impostas pelos participantes, de modo a garantir a sua segurança. Só quando um ou vários indivíduos acabam de saltar as três fogueiras, vindo, por exemplo, de Este para Oeste, é que os outros indivíduos podem saltar de Oeste para Este. No entanto, às vezes essa regra não é cumprida, e algumas quedas ou choques entre saltadores acontece. Ao longo da noite, e para a fogueira continuar acesa, os técnicos dos Serviços de Jardins da CMVNF vão lançando mais toros para as fogueiras. A duração desta atividade não tem um tempo definido, terminando quando a madeira acabar ou mais ninguém quiser saltar. Muitos são os festeiros que cumprem anualmente o ritual de na noite de Santo António saltar as fogueiras. O facto de existirem crianças e adolescentes a saltar, é um sinal positivo para a salvaguarda desta prática, ainda para mais, quando esses mesmos indivíduos defendem a sua continuidade: “É uma tradição. Acho que isto não pode acabar.” (Rafael, 21 anos, participante); “Eu acho que se algum dia as fogueiras não existirem, Santo António não vai ser igual, pelo menos cá em Famalicão. As pessoas gostam. Não é porque é uma fogueira normal, aquilo é só lenha, lume, não é? Mas porque é uma tradição, faz parte da história, são as fogueiras de Santo António. Já é característico. É daqui. E as pessoas já sabem que existe. Todos os anos â mesma hora, as pessoas reúnem-se aqui. Umas vezes mais outras vezes menos, mas já sabem que existem, no mesmo local” (Sara Teixeira, 26 anos, participante); “Se não existisse as fogueiras, eu penso que as Antoninas não eram as mesmas” (José Carlos Costa, 56 anos, responsável pelas “fogueiras”). O dia 13 de junho, Dia de Santo António e último dia das festividades, é o dia dedicado exclusivamente às manifestações coletivas, de expressão religiosa das festas, já que as devoções individuais, praticadas pelos indivíduos da comunidade, em espaços coletivos (igrejas, capelas, alminhas) e/ou em espaços de natureza mais privada (oratórios ou outros altares particulares) são praticadas ao longo do ano. É o dia em que se vive mais esta devoção coletiva por Santo António, presentes nas várias manifestações associadas: Eucaristia, Bênção e Distribuição do Pão e Procissão Solene. É também o dia onde o pagamento, renovação ou pedido de novas promessas mais se faz sentir, facilmente verificável pelo elevado número de devotos que vão à Capela e pelas ofertas monetárias deixadas na caixa de esmolas do Santo venerado. BÊNÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DO PÃO DE SANTO ANTÓNIO Na manhã do dia 13 de junho acontece um dos rituais mais marcantes e porventura um dos mais esperados destas festividades: a Bênção e Distribuição do Pão de Santo António. Esta ação é realizada em dois momentos: antes e depois da Eucaristia, pelo facto de o pão que é benzido, o ser para duas entidades distintas e distribuídos em dois locais diferentes. No primeiro momento, antes da Eucaristia, o pão que é benzido é patrocinado pela ALM - Associação de Moradores das Lameiras e a sua distribuição destina-se especificamente aos indivíduos residentes nesse complexo habitacional. No segundo momento, depois da Eucaristia, o pão benzido, oferecido pela Comissão de Festas, é para ser distribuído pela comunidade em geral, com particular incidência para aquela que assistiu à eucaristia. A distribuição do Pão de Santo António no complexo habitacional das Lameiras remonta ao ano de 1986, dois anos depois da fundação da sua promotora, a Associação de Moradores das Lameiras. Desde essa data que todos os anos é realizada a Bênção e Distribuição do Pão pelos residentes nesse complexo habitacional. O pão distribuído é oferecido por uma padaria famalicense (Padaria Madrugada). O modelo e o peso do pão é definido pelo padeiro. Por isso, ao longo dos anos, o Pão de Santo António possuiu pesos e formatos diferentes. Durante as festividades de 2016, o Pão de Santo António distribuído nas Lameiras, segundo o que o senhor Miguel Mendes, padeiro da Padaria Madrugada transmitiu, a sua produção obedeceu às seguintes fases/etapas: “A massa é constituída por farinha e por uma percentagem de farinha de trigo de setenta tipo flor. Por exemplo, em cinco quilos de farinha é acrescentado 1,5% de farinha de trigo, que vai permitir dar mais consistência e outro sabor à massa. Em seguida, é acrescentado um pouco de uma vitamina, que é para segurar a massa, além de sal e água. Para um quilo de massa é acrescentado 6,5% de água, que vai sempre depender do estado climatérico. Se o dia for de chuva, talvez a percentagem seja menos, se for de calor, a percentagem é superior. Com humidade o pão não fica seco e não precisa dessa quantidade de água. A massa é trabalhada até ganhar liga e consistência durante uns minutos. Em seguida é deitado 1% de fermento, que vai também sempre depender do estado climatérico. Depois da massa estar feita, é atirada para cima de uma mesa, cortando-se a massa aos bocados, possuindo cada bocado um peso semelhante. Após a massa estar cortada, é deixada a fermentar durante meia hora em cima da mesa. Depois de fermentada, é enrolada, fazendo nesta fase uma reza interior, pedindo a quem comer este pão saúde, paz e amor. Após este processo é levada ao frio para levedar e ganhar consistência, para ao cozinhar abrir como uma flor” (Miguel Mendes, 39 anos, padeiro). A quantidade de Pão de Santo António produzido para o Complexo Habitacional das Lameiras ronda os 900 pães. Na manhã do dia 13 de junho, o pão chega à capela de Santo António dentro de um veículo automóvel da referida padaria. No meio do arruamento, em frente à capela, o motorista abre a porta do veículo deixando o pão à mostra. O pároco da freguesia de São Tiago de Antas, juntamente com um acólito, procede à bênção do pão: Senhor, Pai Santo Deus eterno e todo-poderoso, abençoai este pão, pela interceção de Santo António, que por sua pregação e exemplo distribuiu o pão da vossa Palavra aos vossos fiéis. Este pão recorde aos que o comerem ou distribuírem com devoção, o pão que o vosso Filho multiplicou no deserto para a multidão faminta, o Pão Eucarístico que nos dais todos os dias no mistério da Eucaristia; E fazei que este pão nos lembre o compromisso para com todos os nossos irmãos necessitados de alimento corporal e espiritual. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, Pão vivo que desceu do céu, e dá vida e salvação ao mundo, Na unidade do Espírito Santo. Ámen. Após a bênção, a carrinha segue para o interior do Complexo habitacional das Lameiras, localizada na freguesia de São Tiago de Antas. A distribuição do pão é feita por alguns moradores. A quantidade distribuída por apartamento varia consoante a sua tipologia. Nos apartamentos T0 e T1 é oferecido 1 pão; T2 é oferecido dois pães; T3 são 3 pães oferecidos e T4 são oferecidos 4 pães. Se o morador não estiver presente em casa, mas deixar um saco dependurado na porta, o pão é deixado dentro do saco. Se não estiver ninguém em casa e/ou ninguém abrir a porta, o pão não é oferecido. Se no final da distribuição sobrar pães, os mesmos são redistribuídos pelos moradores que solicitarem mais quantidade. Ainda na manhã do dia 13 de junho, na Capela de Santo António é realizada a Eucaristia em honra deste Santo português, promovida pelo Conselho Económico e Social da Paróquia de São Tiago de Antas. Devido à forte afluência de devotos, os que não conseguem lugar no interior da Capela, que são às centenas, distribuem-se pelo Adro e pelo arruamento próximo, que se encontra preparado com cadeiras de plástico para os devotos mais idosos ou com dificuldades de locomoção. Um altifalante colocado no exterior da capela transmite em direto a homilia para estes devotos que não conseguiram lugar no interior da capela. No final, o clérigo que preside à cerimónia, juntamente com o Pároco de São Tiago de Antas, saem da Capela e dirigem-se à tenda, instalada no meio da Rua Alves Roçadas, fronteira ao templo, onde se encontra guardado o Pão de Santo António, promovido pela Comissão de Festas. O pão distribuído é adquirido pela CMVNF uma padaria famalicense (no ano de 2016 foi a PANORTE). O modelo e o peso do pão, tal como o da Padaria Madrugada, é definido pelo padeiro, embora ambos os pães não possuam muitas diferenças. A bênção é feita com a mesma oração acima mencionada. Em seguida, um grupo de escuteiros forma duas filas, em cada uma das laterais das tendas, entregando a cada individuo um pão que segue dentro de um saco, que possui gravado um texto evocativo da sua história. Ao todo, são distribuídos habitualmente mais de três mil pães. Associado ao Pão existe um ritual que, ainda nos dias de hoje, é praticado pela comunidade famalicense. O congelamento do pão desse ano, que deverá ser comido no Dia de Santo António do ano seguinte é o mais comum, evocando a abundância de alimentos para a casa; para outros, o comer do pão no dia de Santo António, benzido, é o bastante para trazer sorte ao longo do ano: “Temos bastantes pessoas que, umas guardam, congelam de um ano para o outro. E no outro ano descongelam e comem o pão que está descongelado e congelam o outro. Mas há pessoas que têm pães há quinze, vinte, trinta anos mais ou menos normais (…) Faz-se pela devoção ao Santo António que eles guardam o pão, não é? Isso é mesmo uma devoção. O pão guardado de um ano para o outro. Não sei qual a intenção das pessoas fazerem isso, mas que eles fazem isso por devoção ao Santo António, não é por outra coisa qualquer, não é? Não é por fome. É por ter muita devoção ao Santo António que fazem essa coisa do pão” (Nelson Vale, 73 anos, responsável pela capela de Santo António); “Muitos dizem que o guardam e que até que aguenta um ano, um ano e tal e que esse pão, está duro e tal, mas que está intacto, direitinho na mesma. Não ganha bolor” (Manuel Ferreira, 72 anos, comerciante de panificação); “Há muitos que até o guardam em casa só para ter efeito, por estar benzido, vai dar sorte, é uma espécie de amuleto, mas eu como bem o pão todo de uma vez só. É tão bom que eu não consigo guardá-lo” (Miguel Mendes, 39 anos, padeiro); “Venho muitas vezes à capela de Santo António, aqui, buscar o pão, mas nem sempre venho. Mas, quando eu não venho, há sempre gente que me leva o pãozinho de Santo António”. (Clementina Carneiro, 73 anos, devota de Santo António); “Dizem que aquilo não ganha aquele bolor, e eu guardo de um ano para o outro e é verdade que ele não ganha mesmo bolor” (Carlos do Carmo, 42 anos, marchante da A.R.C.A.); “Eu conheço pessoas que têm por hábito de ir à missa e que gostam do pão de Santo António porque pronto, dizem que aquilo é uma lenda, não é? Que o pão que é bom, que as vai satisfazer para o ano todo. É esta a história que as pessoas antigas dizem” (Maria Alexandrina Costa, 53 anos, costureira da marcha da A.C.D.S.M. de Brufe); “Do que me recorde, eu acho que nós comíamos o pão. Falava-se na tradição de até o guardar, que ele não ganhava bolor, nem algo do género. Eu nunca o vi com bolor, sinceramente. Não sei se ele durou mais do que uma semana lá em casa para testar esse efeito” (Ricardo Nuno Ribeiro, 33 anos, marchante da A.R.C.A.); PROCISSÃO SOLENE EM HONRA DE SANTO ANTÓNIO A Procissão Solene em honra de Santo António, organizada pelo Conselho Económico e Social de São Tiago de Antas, é a última manifestação coletiva de devoção a Santo António das Festas Antoninas. Cumprindo uma prática secular, a comunidade venera o Santo, percorrendo a pé um percurso previamente delineado, pelas principais ruas da cidade. A sua realização acontece no dia 13 de junho, Dia de Santo António, pelas 17h00m, mas a preparação inicia-se no dia anterior, com a ornamentação, por parte da comunidade religiosa da Paróquia de São Tiago de Antas, dos andores que levarão na procissão as imagens de São Tiago e de Nossa Senhora da Conceição (imagens essas que estão ao culto na Igreja Paroquial da freguesia) e da imagem de Santo António (que se encontra ao culto na capela da qual é padroeiro). Ao início da tarde do dia 13 de junho começam a chegar ao Externato particular do Barreiro, situado a poucas dezenas de metros da Capela de Santo António, os figurantes que vão integrar a procissão, formada por crianças, adolescentes e adultos, a sua maioria do sexo feminino. No recreio desta instituição, a empresa de aluguer de trajes, dispõe previamente, penduradas em cabides, dezenas de vestes. Na entrada do recinto encontram-se afixadas várias folhas de papel com o nome dos figurantes e a respetiva personagem religiosa que vão representar. A azáfama é total, com pais a ajudarem os filhos a vestirem-se e as funcionárias da empresa a fazerem arranjos finais, para que tudo esteja pronto e digno de honrar a imagem e a memória do Santo. Entretanto, chegam ao arruamento (Rua Alves Roçadas) situado em frente da Capela de Santo António, um carro dos bombeiros voluntários famalicenses com o andor que carrega a imagem de Nossa Senhora da Conceição em cima do tejadilho, e um carro dos bombeiros voluntários de Vila Nova de Famalicão, carregado com o andor de São Tiago, também em cima do tejadilho. Ambas as imagens vêm da Igreja paroquial de São Tiago de Antas para se juntar ao andor de Santo António que sairá desta capela. Desde o início do século XX que as corporações dos bombeiros possuem uma estreita ligação às Festas Antoninas, efetivada através da integração das comemorações do aniversário dos voluntários de Famalicão (Década de 1900) ou do Dia do Bombeiro (Décadas de 1980 e 1990) no programa das festas. O interior da capela enche-se de devotos que aproveitam estes instantes antes do início da procissão para cumprirem os últimos votos junto da imagem sagrada do Santo. Ao aproximar da hora anunciada, os fiéis juntam-se no adro e no arruamento envolvente, transformando a paisagem num autêntico mar de gente. O andor que transporta a imagem de Santo António, embelezado com flores, sai da capela aos ombros de vários elementos masculinos das corporações de bombeiros da cidade, e é colocado em cima de um carro dos bombeiros voluntários de Vila Nova de Famalicão, juntando-se, em seguida, aos outros dois veículos que transportam as imagens de São Tiago e de Nossa Senhora da Conceição. A procissão segue, deste modo, a seguinte ordem: - Fanfarra dos escuteiros de São Tiago de Antas, devidamente trajados, constituída por homens e mulheres de diferentes idades, dispostos em três filas indianas paralelas, tocando tambores e instrumentos de sopro – trompetes – e seguidos por outros escuteiros de menor idade (crianças) sem instrumentos musicais; - Estandartes das Confrarias de Santo António, da freguesia do Louro; do Sagrado Coração de Maria e de Nossa Senhora da Conceição e Almas, ambos da freguesia de São Tiago de Antas, por esta ordem, erguidos pelos seus irmãos que envergam as respetivas opas; - Conjunto de crianças e adultos, a maioria do sexo feminino, desfilando em fila indiana, vestidas com túnicas coloridas, segurando dísticos com mensagens religiosas, terminando com mulheres adultas trajando algumas personagens bíblicas e outras ligadas à história da Igreja Católica; - Carro dos bombeiros voluntários famalicenses transportando a imagem de Nossa Senhora da Conceição. - Conjunto de crianças e adultos, a maioria do sexo feminino, vestidas com túnicas coloridas e segurando dísticos e mensagens religiosas. Alguns adultos seguem trajados de personagens bíblicas e outras ligadas à história da Igreja Católica; - Carro dos bombeiros voluntários de Famalicão transportando a imagem de São Tiago; - Conjunto de crianças e adultos, a maioria do sexo feminino, vestidas com túnicas coloridas e segurando dísticos e mensagens religiosas. Alguns adultos seguem trajados de personagens bíblicas e outras ligadas à história da Igreja Católica; - Adulto personificando a imagem de Santo António, com uma cesta de pão numa mão e segurando um pão com a outra mão, imitindo a iconografia da imagem de Santo António que se encontra ao culto na respetiva capela; - Carro dos bombeiros voluntários de Famalicão transportando a imagem de Santo António, ladeado por quatro bombeiros, fazendo uma espécie de guarda de honra; - Conjunto de mulheres, constituídas por crianças e adultos, vestidas com túnicas coloridas; - Homem segurando uma Cruz com Cristo Crucificado, ladeado por outros dois homens transportando cada um uma lanterna. Todos usam uma opa branca; - Acótilos vestidos de branco antecedem o arcipreste de Vila Nova de Famalicão que, debaixo do pálio, transporta um relicário. Encontra-se ladeado pelo pároco de São Tiago de Antas e pelo sacristão da mesma paróquia. A ladear o pálio seguem quatro homens com lanternas, vestidos com opas vermelhas. O pálio também é envergado por quatro homens ostentando com opas vermelhas; - Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Presidente da Assembleia Municipal de Vila Nova de Famalicão e representantes da União de Freguesias de Antas e Calendário, acompanhados das respetivas esposas; - Comandante da Polícia de Segurança Pública de Vila Nova de Famalicão, Comandante da Polícia Municipal, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Famalicão e Comandante dos Bombeiros Voluntários Famalicenses; - Banda de Música de Famalicão, constituída por porta-estandarte, maestro e membros da direção e vários músicos com instrumentos de sopro e de precursão tocando músicas fúnebres; - Comunidade constituída por fies e devotos de Santo António; O itinerário é previamente definido, mantendo-se igual durante as últimas décadas: Rua Alves Roçadas (Capela de Santo António), Rotunda da Água, Rua São João de Deus, Rua Adriano Pinto Basto, Praça D. Maria II (contorna todo o seu perímetro) e Rua Alves Roçadas (Capela de Santo António). A chegada da procissão à capela é assinalada com um repique dos sinos. Vários bombeiros fazem o trajeto contrário ao do início da procissão. Após retirarem o andor de Santo António do tejadilho do carro de bombeiros, transportam-no aos ombros até ao interior da capela. A multidão de pessoas, que no espaço envolvente, espera a entrada do Santo na capela, só começa a dispersar quando sabe que ele já se encontra no seu devido lugar. O destino é o espaço dos divertimentos e das tasquinhas porque enquanto as festividades não terminarem há que dar vivas e alegrias à folia. INICIATIVAS MUSICAIS, CULTURAIS E DESPORTIVAS Em todos os dias das festividades decorrem vários eventos que podem ser enquadrados em três grandes categorias: atuações musicais, provas desportivas e atividades culturais. A componente musical possui uma dimensão própria dentro das festividades, com atuação de artistas e bandas de música escolhidos pela Comissão de Festas para agradar a todo o tipo de público. As atuações decorrem em três espaços diferentes: Praceta Cupertino de Miranda, Praça D. Maria II e Anfiteatro do Parque da Devesa. O primeiro espaço (Praceta Cupertino de Miranda) é dedicado à música popular. Aí atuam grupos de música popular portuguesa; realiza-se o encontro de tocadores de concertina e cantares ao desafio e o concerto de uma banda regimental de música. O segundo espaço (Praça D. Maria II) está reservado para atuações musicais mais direcionadas para o público jovem. Os “Toninhos” são a atração principal deste espaço. No palco, vários Disco Jokers são convidados a animar as noites quentes de junho, transformando a praça numa autêntica discoteca ao ar livre. O terceiro espaço (Anfiteatro do Parque da Devesa) é o palco principal das atuações musicais. Aí atuam os chamados “cabeças de cartaz”, fenómenos musicais, efémeros ou não, mas que são do agrado da maioria dos festeiros. Ao contrário dos restantes espaços, mais vocacionados para um determino tipo de público, neste existe uma certa convivência familiar e intergeracional, facilmente observável em todos os concertos que aí decorrem. A componente desportiva é um elemento dentro das festividades com forte presença no programa das festas, através da realização de várias provas que atraem à cidade e às freguesias onde elas são praticadas centenas de visitantes, para serem participantes ativos ou simplesmente meros espetadores. Desde 1895 que o programa já comportava corridas de bicicletas na pista do Campo da Feira [Ver Anexo I, ponto 9]. Com o tempo, outras se foram associando, havendo atualmente um conjunto de provas desportivas que possuem até um grande relevo no panorama nacional. A responsabilidade pela inclusão destas provas no programa é da Comissão de Festas, mas a sua organização e execução compete a várias associações do concelho. As mais relevantes, não só pela antiguidade e consistência, e que decorreram no ano de 2016 foram o Raide Todo o Terreno (organizado pelo Clube Aventura de Famalicão e realizado em terrenos rurais da freguesia de Calendário); Grande Prémio de Ciclismo (organizado pelo Centro Ciclista de Avidos e realizado por arruamentos das freguesias de Avidos, Abade de Vermoim, Lagoa, Ruivães, Landim e União das Freguesias de Seide); Corrida de Galgos (organizada pela Associação Galgueira e Lebreira do Norte e realizada na Quinta dos Queimados, na freguesia de Esmeriz); Grande Prémio de Atletismo (organizado pela Divisão de Desporto e Tempos Livres e realizado pelas principais ruas da cidade de Vila Nova de Famalicão e perímetro urbano); Open Taça de Portugal Alex Ryu Jitsu (organizada pela Associação Alex Ryu Jitsu e realizada no Pavilhão Municipal das Lameiras, na freguesia de Antas); Torneios de Futebol (organizado pelo Ruivanense Atlético Clube e realizado no Estádio do Ruivanense A.C., na freguesia de Ruivães e pelo Operário Futebol Clube, no Campo de Jogos do Operário F.C., da freguesia de Calendário); Torneio de Basquetebol (Organizado pela Associação Teatro Construção e realizado no Pavilhão Municipal Terras de Vermoim, da freguesia de Vermoim); Torneio de Rugby (organizado pelo Clube de Rugby e realizado no Estádio Municipal de Famalicão, da freguesia de Calendário) e “Descida mais Louca” (organizado pela Associação Cultural e Recreativa de Antas e realizado na Alameda Caminhos de Santiago, na freguesia de Antas). Como atividade desportiva, mas também cultural, existe ainda integrado no programa a denominada “Caminhada Camiliana”. Organizada pela Casa de Camilo em colaboração com a GRUTACA – Grupo de Teatro Amador Camiliano, GRUCAMO – Grupo Caminheiros de Montanha, GRUCULEME – Grupo Recreativo e Cultural de Lemenhe e Associação Projeto AmarCultura, os festeiros são convidados a realizar uma caminhada entre a Praceta Cupertino de Miranda (freguesia de Vila Nova de Famalicão) e a Casa de Camilo. A acompanhar o grupo, seguem alguns atores, personificando, entre outros, Camilo Castelo Branco e Ana Plácido e que ao longo do caminho vão interpretando vários trechos da obra camiliana. ENCERRAMENTO DAS FESTIVIDADES O encerramento das festividades acontece na noite do dia 13 de junho. No anfiteatro do Parque da Devesa, localizado na freguesia de Antas, os festeiros são brindados com uma última atuação musical. É uma espécie de “aquecimento” para os dois momentos mais esperados do encerramento das Festas Antoninas: a divulgação do resultado do concurso das Marchas Antoninas e, como última iniciativa das festividades, o fogo-de-artificio.
  • Manifestações associadas:
    As Festas Antoninas inserem-se no calendário festivo do mês de junho, dedicado à celebração dos santos populares: Santo António, São João e São Pedro, coincidindo ainda com o designado Ciclo de Verão. São festividades celebradas por todo o território português e não raras vezes encontramos uma mesma comunidade a festejar os três santos. A devoção pelos santos populares manifesta-se, deste modo, de uma forma coletiva, na celebração de festividades em sua honra, com duração de vários dias, constituída por iniciativas de natureza religiosa e profana. No concelho de Vila Nova de Famalicão, esta devoção a Santo António é ainda praticada, de um modo particular, por comunidades de algumas freguesias. No fim-de-semana seguinte ao dia 13 de junho, último dia das Festas Antoninas, a comunidade de alguns lugares das freguesias de Castelões, do Louro e de Nine celebram na capela onde Santo António é venerado, festividades em sua honra. Em algumas, caso de Castelões, a devoção da comunidade por este Santo possui uma expressão de tal forma que, apesar de não ser o padroeiro da freguesia, a comunidade tornou estas festividades nas principais festas da freguesia. Estas festividades possuem algumas características das Festas Antoninas, nomeadamente uma componente religiosa, constituída por missa e procissão e uma componente profana, com espaços de venda de produtos, de espaços de restauração, concertos de música e fogo-de-artifício. Esta duplicidade de festas em honra de Santo António no concelho de Vila Nova de Famalicão – realizadas na cidade e em algumas freguesias – encontra-se bem articulada entre as várias Comissões de Festas, permitindo à comunidade presenciar e/ou praticar as celebrações e os rituais tanto na cidade como na sua freguesia. São ainda conhecidas inúmeras festividades em honra de Santo António por todo o território português (sendo a de Lisboa a mais antiga e a que mais duração e número de iniciativas possui), onde em todas elas se cumprem celebrações e rituais estabelecidos pelas respetivas Comissões de Festas. No Minho e próximas do concelho de Vila Nova de Famalicão podemos destacar as Festas em honra de Santo António dos concelhos de Amares e de Vila Verde, ambas do distrito de Braga. Além de também serem as principais festas do concelho, são constituídas por um conjunto de iniciativas, de natureza religiosa e profana, com semelhanças às iniciativas integradas nas Festas Antoninas de Vila Nova de Famalicão. Nos rituais religiosos, o cumprimento da devoção pelas comunidades destes concelhos é feito em moldes idênticos, com a assistência à missa e à procissão solene. Não existe nas festividades em honra de Santo António de Amares e de Vila Verde a tradição da bênção e distribuição do pão de Santo António, ritual que em Vila Nova de Famalicão se encontra profundamente enraizado na comunidade. A própria imagem de Santo António que é venerada na capela reflete esta manifestação, através da presença de um pão numa das mãos do santo, simulando a sua oferta ao povo. Este ritual encontra-se ainda ativo nalgumas paróquias do país que, por iniciativa dos seus membros, no final da missa do dia 13 de junho é distribuído pão aos presentes. Nas iniciativas de natureza profana, as semelhanças são maiores. Além do tradicional manjar cerimonial da noite de Santo António, das iluminações elétricas, do fogo-de-artifício a encerrar as festividades, das alvoradas festivas e do clima de folia popular presente nos vários dias em que a ação se desenrola, existem algumas manifestações cuja matriz se assemelham entre si: marchas populares, concertos musicais, provas desportivas, desfiles etnográficos, atuação de ranchos folclóricos e descantes populares. Destas iniciativas, as marchas populares destacam-se, não só por terem sido “importadas” das festas de Santo António de Lisboa, mas pela crescente participação e importância dada pelas comunidades. Surgidas na década de 1930 em Lisboa, rapidamente disseminaram-se pelo país, não havendo festividades dos santos populares onde esta iniciativa não esteja presente. O ritual das fogueiras, além das Antoninas de Vila Nova de Famalicão, só é praticado nas festividades de Vila Verde, mas em moldes diferentes. Nestas só é acesa uma fogueira e já não se pratica o ritual do salto sobre ela. Por outro lado, as Festas Antoninas de Vila Nova de Famalicão possuem algumas iniciativas que não são praticadas nestas outras festividades mencionadas, como por exemplo, as Cascatas de Santo António. Aqui, as semelhanças com os Tronos de Santo António, característicos da cidade de Lisboa são evidentes. Ambos prestam tributo a Santo António, são construídos maioritariamente por crianças (embora os adultos e o movimento associativo também o façam), colocados junto das portas de casas, com o objetivo de “angariar” dinheiro para “ajudar” o Santo António. Contudo, existem diferenças, e elas residem no modo como são construídas as estruturas e a composição das imagens que as integram. Enquanto os Tronos possuem uma estrutura em escadaria onde, no topo, é colocado uma imagem de Santo António, as Cascatas são uma espécie de representação, com adereços e figuras, do quotidiano da comunidade em que a devoção ao Santo é apenas uma parte dela.
  • Contexto transmissão:
    Estado de transmissão activo
    Descrição: A realização das Festas Antoninas é realizada, desde 1979, unicamente pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, cabendo aos técnicos da Divisão de Cultura e Turismo a sua organização formal. A comunidade residente e os forasteiros associam-se às festividades, quer na organização e participação de diversas iniciativas, inseridos em associações e instituições locais, quer na simples assistência a outras, funcionando como meros espetadores, de uma forma livre e espontânea. O acesso e pertença às associações do concelho que participam de uma forma organizada nas Festas Antoninas são abertas a todos os indivíduos, quer sejam ou não residentes na comunidade. No entanto, os membros pertencentes a cada associação são, na sua grande maioria, residentes na freguesia onde ela se insere, ou indivíduos que possuam uma relação familiar, afetuosa ou profissional com elementos que já pertençam a essa associação. Estas características são importantes para que haja uma transmissão dos valores da associação e de conhecimentos sobre as atividades por si organizadas e participadas. Por outro lado, é através destas relações, muitas vezes familiares, que vê nascer, dentro da cada associação, os sentimentos de “bairrismo” e de “pertença a algo”. Para muitos, a participação nas Festas Antoninas não é realizada em seu nome, mas em representação da associação e da freguesia a que pertencem. Os elementos mais novos da comunidade são integrados nas festividades através de duas modalidades: na participação direta em iniciativas realizadas em exclusivo para eles, nomeadamente na construção de cascatas e nas marchas infantis; e na participação em outras iniciativas que, não sendo exclusivas para crianças, elas desempenham um papel importante, como é o caso da procissão e do desfile etnográfico (como figurantes), na bênção e distribuição do pão de Santo António (responsáveis pela entrega do pão aos devotos) e no desempenho de provas desportivas (participantes nos torneios de futebol, basquetebol, artes marciais e nas provas de ciclismo). Além da comunidade residente no concelho, as Festas Antoninas chamam cada vez mais forasteiros que, nos dias da realização das festas, se juntam à comunidade residente, quer na assistência das iniciativas integradas nas festividades, quer na participação ativa, como frequentadores dos espaços de diversão, de restauração e de venda. Entre esses forasteiros encontram-se pessoas que têm uma ligação pessoal, familiar ou profissional ao concelho ou que simplesmente vêm “às festas” por ser “tradição” ou porque “os pais vinham sempre” e não querem quebrar essa tradição.
    Data: 2019/06/13
    Modo de transmissão oral e escrita
    Idioma(s): Português
  • Origem / Historial:
    As Festas Antoninas são o expoente máximo da devoção e da fé coletiva que o povo do concelho de Vila Nova de Famalicão possui por Santo António. É impossível dissociarmos as festividades do Culto, tanto mais que as Festas Antoninas, como as conhecemos atualmente, surgiram com uma manifestação espontânea, coletiva e popular, de celebração e devoção a este santo português. Mas quem foi Santo António e como e quando é que o seu culto foi introduzido em Vila Nova de Famalicão e adotado pelos famalicenses? Se a resposta à primeira questão encontra-se facilmente numa qualquer bibliografia produzida sobre santos populares ou sobre o culto antonino, para se responder à segunda questão é preciso recuarmos às origens dos vários templos religiosos dedicados a Santo António que se encontram disseminados pelo concelho de Vila Nova de Famalicão. Nascido em Lisboa por volta do ano de 1191, no seio de uma família da pequena nobreza, com o nome de Fernando de Bulhões, Santo António fez os seus estudos com os cónegos da Sé de Lisboa, tendo aos 18 anos ingressado como noviço na Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, no Mosteiro de São Vicente de Fora. Dois anos mais tarde transitou para o Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, onde realizou os estudos em Direito Canónico, Filosofia e Teologia. O martírio de cinco franciscanos, decapitados em Marrocos, e a vinda dos seus restos mortais em 1220 para Coimbra fizeram Fernando de Bulhões abraçar o espirito da evangelização e trocar a regra de Santo Agostinho pela Ordem de São Francisco, ingressando no convento de Santo Antão dos Olivais, passando a adotar o nome de António. Nesse ano de 1220 parte para Marrocos numa missão evangelizadora. Por motivos de doença regressa a Portugal, mas uma tempestade arrasta-o para Itália, onde se virá a distinguir como exímio orador e pregador. A fama da sua santidade, sabedoria, eloquência e caridade para com os pobres depressa se espalhou, atraindo multidões ao seu encontro. Morre em Arcela (Pádua) a 13 de junho de 1231, sendo canonizado nos meses seguintes. (ANDRADE, 1980, pp. 340-348). Esta devoção a Santo António foi trazida para Portugal após a sua morte pelos Frades Franciscanos, que influenciaram a sua implantação e divulgação. Ao contrário dos outros santos, que mantêm um certo distanciamento com o crente, Santo António foi rapidamente apropriado pelo povo, especialmente pelo de Lisboa, tornando-se um santo popular, com devoção em todo o país e nas terras além-mar por onde os portugueses andaram durante os séculos seguintes. Esta apropriação popular de Santo António é, atualmente, visível em vários contextos. Nas fachadas de casas particulares, através da colocação de um painel de azulejos com a sua imagem (os designados registos); como protetor das famílias, aparecendo dentro das casas, sobre pequenos altares, acompanhado de velas e flores; no comércio, sendo frequente encontrarmos o Santo, em lugar de destaque, dentro dos mercados, das lojas, das farmácias, das padarias, das drogarias, entre outros estabelecimentos, velando pelos bons negócios dos seus proprietários; é o santo mais concorrido para proteção dos animais; muitas são também as pessoas que adotam o seu nome para batizarem os filhos, confiando-os à sua proteção durante toda a vida; a imagem de Santo António encontra-se ainda presente em quase todas as igrejas portuguesas, as quais, quando o não têm como patrono, lhe dedicam um altar. De facto, a devoção antoniana (pela continuidade no tempo, difusão e profundo envolvimento existencial) é uma das expressões mais significativas da piedade popular existentes em Portugal (PACHECO, 1999, pág. 21). O concelho de Vila Nova de Famalicão não foi exceção nesta devoção coletiva e individual que aos poucos começou a disseminar-se pelo país. A primeira referência documentada respeitante ao Culto e à Devoção a Santo António no território famalicense é o da fundação de uma Confraria de Santo António em 1589, na capela em que é o padroeiro, localizada na freguesia de São Tiago da Cruz (VIEIRA, 2000, p. 45). Em 1613 existem referências a uma doação que um particular fez para uma ermida de Santo António, na freguesia de Nine (A.D.B., R.G., L.13, fls.211-213v). Em 1632 foi passada uma licença para se dizer missa na ermida de Santo António, em Santiago da Cruz (A.D.B., R.G., L.14, fl.118). Em 1648 há referências a uma capela particular dedicada a Santo António, na freguesia de Ruivães (A.D.B., R.G., L.21, fls.121-121v). Em 1650 é inaugurada a capela de Santo António, na Devesa da Feira, em Vila Nova de Famalicão (A.D.B., R.G., L.23, fls.182v-184). Em 1679 é feita uma obrigação à capela de Santo António, na freguesia de São Tiago de Castelões (A.D.B., R.G., L.17, fls.300-301). Em 1704 existe também uma obrigação à fábrica da Capela de Santo António, na freguesia de Delães (A.D.B., R.G., L.19, fls.49v-50). Em 1712 há referências a uma capela particular dedicada a Santo António, na freguesia de Lemenhe (A.D.B., R.G., L.67, fls.307). Em 1727 há uma provisão a favor de um particular para se fazer uma procissão com a imagem de Santo António, na freguesia de Requião (A.D.B., R.G., L.76, fls.284-285). Em 1732 há também uma provisão a favor do pároco da freguesia de Oliveira São Mateus para edificar uma capela com a invocação de Santo António (A.D.B., R.G., L.117, fls.279-280). Em 1744 há uma licença a um particular para o pároco benzer uma imagem de Santo António (A.D.B., R.G., L.162, fls.552v-523). Em 1751 foi realizado um registo de confirmação de estatutos da confraria de Santo António, da freguesia do Louro (A.D.B., R.G., L.132, fls.137-139). Em 1764 há referência a uma capela particular dedicada a Santo António, na freguesia de Requião (A.D.B., R.G., L.184, fl.45). Em 1785 há um registo de confirmação de reforma dos estatutos da Irmandade de Santo António, em Joane (A.D.B., R.G., L.218, fl.71). Não é assim de estranhar que já no século XVIII, através das Memórias Paroquiais, verifica-se que o Culto a Santo António é o segundo com maior volume de referências no concelho de Vila Nova de Famalicão, atrás de São Sebastião. (CAPELA e SILVA, 2001, pp. 86-89) Além destes templos, existem ainda outros espaços devocionais no concelho de Vila Nova de Famalicão, coletivos e individuais, onde o culto a Santo António é praticado com alguma regularidade. É o caso das Alminhas de Santo António do Matagal, na freguesia de Vale de São Cosme; das Alminhas de Santo António, na União das Freguesias de Vila Nova de Famalicão e Calendário; em representações artísticas na cidade de Vila Nova de Famalicão (Monumento e Memória a “Santo António”); nas inúmeras imagens de Santo António presente nos estabelecimentos comerciais do concelho e nos painéis azulejares com iconografia deste santo português existente nas fachadas de casas particulares. Ainda hoje, em alguns dos templos religiosos acima enumerados, no dia 13 de junho ou no fim-de-semana seguinte, a comunidade do lugar ou da freguesia, organiza-se para planearem e realizarem uma festividade em honra de Santo António. Em 2016, houve festividades na Capela de Santo António de Nine (17 a 19 de junho), na Capela de Santo António do Louro (17 a 19 de junho), na Capela de Santo António de Castelões (18 e 19 de junho), na Capela de Santo António de São Tiago da Cruz (18 e 19 de junho) e nas Alminhas de Santo António de Calendário (13 de junho) (Agenda Cultural do Municipio de Vila Nova de Famalicão, junho de 2016, pág.30). A circunstância das festividades realizarem-se, principalmente, após o dia 13 de junho pode estar relacionado com a intenção de não coincidirem com as Festas Antoninas. É assim indesmentível a devoção que os famalicenses possuem por Santo António. É uma devoção coletiva, presente nas grandes celebrações do dia 13 de junho, e uma devoção particular, verificada através da edificação de pequenos oratórios no interior de habitações; na instalação de um painel de azulejos com iconografia do santo na fachada da habitação ou na colocação de uma imagem deste santo português no interior de um estabelecimento comercial. Talvez por se localizar no espaço mais central do principal povoado do concelho de Vila Nova de Famalicão, a Capela de Santo António, à época instalada na Devesa da Feira, tornou-se no principal local de Culto e de Devoção a Santo António por parte dos famalicenses. Diz a tradição que esta capela era, nos seus primórdios, dedicada a São Ivo e que nos finais do século XVII, após a colocação de uma imagem de Santo António num dos seus altares pela Ordem Terceira de São Francisco, o povo alterou-lhe o padroeiro (Noticias de Famalicão, 1950-10-09, pág. 2). Tradição ou não, documentalmente o que se sabe é que em 1650 a Ermida de Santo António, localizada na Devesa da Feira, foi inaugurada a pedido dos Oficiais da Confraria de Santo António, provavelmente a 13 de junho, dia do padroeiro (A.D.B., R.G., L.23, fls.182v-184). Assim, não é descabido afirmar que data já desse ano as primeiras festividades em honra de São António, embora muito diferentes das que hoje são realizadas (CORREIA, 2002, p.217). As referências às festividades nos dois séculos seguintes são escassas, excetuando a menção à reedificação da Capela de Santo António no ano de 1775 (A.D.B., R.G., L.150, fls.131-131v e CASTRO, 1996, pág.104), que lhe deu o traço arquitetónico com o qual chegou à década de 1920. Em 1867, o Abade do Louro, Domingos Joaquim Pereira, na sua obra “Memória Histórica da Villa de Barcellos, Barcellinhos e Villa Nova de Famalicão”, refere que a “capela erecta no lugar da Granja, tem sido festejada por muitos devotos desde a sua função” (PEREIRA, 1867, pp. 235-238). Em 1887, José Augusto Vieira na obra “Minho Pitoresco” refere que na “parochia de São Tiago de Antas existe uma capela de Santo António com grande festividade a 13 de junho” (VIEIRA, 1887, p. 90) Mas foi só em 1895, durante as celebrações comemorativas do sétimo centenário de nascimento de Santo António, que as Festas Antoninas tiveram já alguns dos traços que as iriam marcar até à atualidade. As festividades deixavam de ser uma manifestação exclusivamente religiosa, de piedade popular, para adquirirem uma componente profana, de divertimento e libertação das amarras laborais. Neste ano de 1895, as festividades duraram dois dias (12 e 13 de Junho) e do programa destacam-se a atuação de bandas filarmónicas civis, nacionais e estrangeiras, “fogo do ar feito por abalisados pyrotéchinos, sobresahindo os aeróstatos iluminados” e corridas de bicicletas na pista do Campo da feira (a componente desportiva, hoje em dia com forte presença no programa das festividades, já eram uma realidade desde o final do século XIX). A iluminação da vila era um dos pontos altos das festas, sendo cada rua “illuminada em estylos diferentes tais como: balões, venezianos, jogos de bengala, lumes a giorno e o apreciado sistema à moda do Minho”. A componente religiosa foi constituída por missa e sermão. (O Porvir, 1895-06-19, pág. 02). De 1895 até 1905 as Festas Antoninas não fugiam muito do programa acima anunciado. Com a duração de um ou dois dias, as atividades de natureza religiosa e profana marcavam as festividades. A organização estava a cargo de uma comissão constituída por “distinctos cavalheiros” (Estrela do Minho, 1900-04-29, pág.02) ou por “proprietários de estabelecimentos comerciais da Vila” (Estrela do Minho, 1903-06-07, pág.01), enquanto a componente religiosa era organizada pela Venerável Ordem Terceira de São Francisco (Estrela do Minho, 1904-06-04, pág.01). A construção de cascatas passou também a ser um número com presença assídua nas festividades e eram descritas, pela imprensa da época, da seguinte forma: “não faltaram cascatas, com que os rapazes festejaram o milagroso santo” (Estrela do Minho, 1901-06-23, pág.02); “a rua que lhe tomou o nome embandeirou e iluminou, tendo ao centro grande cascata farfalhante de verdura, de bonecos e de água accidental” (Estrela do Minho, 1902-06-15, pág.03) e “também a pequenada em diversos pontos da villa erigiu as suas cascatas e pequeninos altares de verdura a Santo António” (Estrela do Minho, 1903-06-14, pág.02). No ano de 1900, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Famalicão começou a integrar no programa das Festas Antoninas as comemorações do seu aniversário. Uma das iniciativas promovidas nessa data por esta instituição famalicense passava pela distribuição de boroas aos pobres do concelho (Estrela do Minho, 1900-06-03, pág.03), ato que foi repetido nos anos seguintes. Nas festividades de 1905 a distribuição de boroas ou pão aos pobres continuou integrado nas festas, passando, no entanto, a ser promovida pela instituição “O Pão de Santo António”, fundada pela Conferência de São Vicente de Paulo que, desde logo, estabeleceu uma relação umbilical com a Capela de Santo António. O aparecimento desta instituição, vocacionada exclusivamente para a oferta de pão aos pobres do concelho, está relacionado com vários milagres praticados por Santo António. Entre eles, aquele que talvez tenha sido mais divulgado e marcado a sociedade europeia da época, terá sido o que envolveu uma comerciante, de nome Luísa Bouffier, na cidade de Toulon (França), a 12 de março de 1890. Segundo o que foi narrado por esta comerciante, nesse dia, como não conseguia abrir a porta do seu estabelecimento, chamou um serralheiro. Este, após várias tentativas, também não conseguiu desbloquear a fechadura, indicando que a porta teria que ser derrubada. Nos entretantos, Luísa Bouffier prometeu a Santo António que se a ajudasse a abrir a porta que daria uma certa quantidade de pão aos pobres. Depois do serralheiro ter voltado com o intuito de derrubar a porta, esta abriu sem dificuldade alguma, deixando os intervenientes em estupefação total, atribuindo-se tal feito a Santo António. Luísa Bouffier cumpriu a sua promessa, colocando ainda uma imagem do Santo na sua loja com uma caixa onde recolhia esmolas para voltar a comprar pão para os pobres. A notícia deste milagre e deste ato espalhou-se por toda a Europa, originando a que nas igrejas, junto da imagem do Santo, fosse colocada uma caixa de esmolas destinada, precisamente, à compra de pão para os pobres. A introdução desta prática em Portugal acorreu em 1895, pelo padre Frei João da Santíssima Trindade e Sousa, franciscano do convento de Montariol (Braga), na Igreja dos Terceiros de Braga, tendo a primeira distribuição de pão ocorrido a 28 de abril do mesmo ano. A forte adesão do povo a esta iniciativa levou a que a mesma fosse introduzida noutras cidades de Portugal e do Brasil, levada pelos inúmeros emigrantes que partiram para este país (a maioria da região minhota) entre os finais do século XIX e os inícios do século XX. Em Vila Nova de Famalicão, como já foi referido, a introdução desta prática ocorreu no ano de 1905, através da instituição “O Pão de Santo António” (Livro das Contas da Conferência de São Vicente de Paulo de Vila Nova de Famalicão, 1905, pág. 21) que, desde a primeira hora, colocou na capela de Santo António uma caixa de esmolas para a compra de pão para os pobres do concelho. A distribuição e, posteriormente, bênção do pão foi integrada já nesse ano nas festividades, embora a distribuição também se fizesse fora desta época. Desde essa data até ao presente que no dia 13 de junho, dia de Santo António, é feita a bênção e distribuição do pão à comunidade. Foi um ato que marcou profundamente a devoção dos famalicenses por este Santo, ficando refletida na iconografia da imagem que passaram a venerar na capela. São vários os rituais associados ao Pão de Santo António praticados pela comunidade. O congelamento do pão desse ano, que será posteriormente comido no dia de Santo António do ano seguinte é o mais comum, evocando a abundância de alimentos para a casa; para outros, o comer do pão no dia de Santo António, benzido, é o bastante para trazer sorte ao longo do ano. Entre 1906 e 1912, as Festas Antoninas são celebradas com todo o esplendor pelos famalicenses. Durante esses sete anos, as festividades foram organizadas por uma comissão constituída por 29 homens pertencentes à elite da sociedade famalicense, que adotou a designação de “Grupo dos 29”. Com os anos, o número de elementos foi aumentando, chegando a 38 nomes que, devido à importância dentro das festividades, passamos a anunciar: “Luís da Silva Carneiro, Higino Veloso de Macedo, José Gomes da Costa Carvalho, Francisco Correia de Mesquita Guimarães, Adolfo Pereira de Lima, António Correia de Mesquita Guimarães, Padre Manuel da Costa Freitas Reis, António Augusto Fiúza de Melo, Francisco Dias Saraiva, Armindo José da Costa, Artur Garcia de Carvalho, Carlos Fernandes Carreira, António Dias Costa, António Ângelo Pinheiro da Gama, Álvaro Abílio de Barros Moreira, António Lopes da Fonseca, João António Lopes, Eduardo Azevedo Cardoso, Dr. António Ferreira de Matos, Manuel Pinto de Sousa, Joaquim António Xavier de Faria, José Ferreira Ramos, Dr. Adelino Adélio dos Santos, Camilo Rodrigues de Freitas, Plácido Ferreira de Carvalho, Joaquim Gomes Loureiro, António Fernando Malheiro, António Martinho de Andrade, Miguel Gomes Miranda, João Marques Loureiro, Alberto Leal, Dr. Avelino Cândido Ferreira de Carvalho, Álvaro Carneiro Bezerra, António Gonçalves Pinto Júnior, Jaime de Vasconcelos, José da Costa Teixeira, José Marinho Carneiro e Urias Dias Marques” (SILVA, 2009, pp.59-79). Durante este período áureo das festividades, que tinham uma duração de dois dias, o programa ganhou uma certa uniformização no que diz respeito às atividades de natureza religiosa e profana e ao período do dia em que eram praticadas. No primeiro dia, dedicado em exclusivo a números profanos, as festas eram anunciadas com “uma alvorada de 21 tiros, percorrendo as ruas da villa tres bandas de musica” (Estrela do Minho, 1906-05-20, pág.02). “Durante a tarde tocarão alternadamente no Campo Mousinho a referida banda de infantaria 3 e a dos Bombeiros Voluntarios, d’esta villa” (Estrela do Minho, 1907-05-25, pág.02). “Á noite as illuminações, preparadas a capricho, e com um bom gosto dificilmente igualado em qualquer parte, constituirão, como nos annos anteriores, o melhor numero d’estas festas. O conjuncto deve resultar admiravel e surpreendente!” (Estrela do Minho, 1908-05-24, pág.02). “Depois das 10 horas começará o fogo de artificio, que será queimado pelos dois afamados pyrotechnicos – Miguel da Silva, vulgarmente conhecido por – Chavão, e o Braziella, de S. Thiago d’Antas” (Estrela do Minho, 1909-05-30, pág.02). O segundo dia, que comportava números de natureza religiosa, começava da mesma forma que o primeiro: “Ao romper d’alva será dada uma descarga de morteiros e salva de 21 tiros, percorrendo a banda dos Voluntarios as ruas da villa” (Estrela do Minho, 1910-06-05, pág.02). “Ás 11 horas principia a festividade religiosa ao Santo Thaumaturgo, a qual constará de missa cantada a instrumental, com exposição do Santissimo e sermão pelo rev. Abade de Brufe” (Estrela do Minho, 1911-05-21, pág.02). “Findo o acto religioso, pela humanitaria instituição O Pão de Santo António será distribuído a um crescido número de pobres do concelho borôas de pão” (Estrela do Minho, 1908-05-24, pág.02). “Ás 4 horas da tarde e á noite a banda da Guarda Republicana far-se-ha ouvir em concerto no Campo Mousinho, d’harmonia com o programa que será distribuído” (Estrela do Minho, 1912-09-06, pág.02). “Á noite, pelas 9 horas accender-se-há a illuminação, no Campo Mousinho, onde se concentrarão mais de 6000 lumes. A illuminação nas ruas de Santo Antonio e Pinto Basto, será feita com luz electrica em grandes arcosvoltaicos e lampadas de grande intensidade, o que poduzirá effeito deslumbrante e feerico” (Estrela do Minho, 1909-05-30, pág.02). “Ás 10 horas, brilhantíssimas sessões de pyrotecnia, pelos afamados profissionais – Manoel Baptista Teixeira, de Moreira de Rey, que fechará a sua collecção por um grande Bouquet, e o conhecidíssimo e admirado Joaquim José Deveza, do Porto – terminando assim os interessantes festejos antoninos” (Estrela do Minho, 1909-05-30, pág.02). A este programa das Festas Antoninas de 1906 a 1912, juntou-se nos anos de 1910, 1911 e 1912 a Parada Agrícola: “Ás 3 horas da tarde, desfilará pelas ruas da villa, dando entrada pela Rua de Santo Antonio a Parada Agricola, composta d’um grande numero de carros, artisticamente adornados, expondo differentes trabalhos e utensílios de lavoura, produtos da industria concelhia, além de quadros allegoricos de lindo effeito” (Estrela do Minho, 1910-06-05, pág.02) e nos anos de 1908 a 1912 os descantes populares: “Pareceu á commissão dever introduzir este numero no programma da festa, em homenagem ás velhas tradicções do povo minhoto (…) terá logar a exhibição de grupos compostos de rapazes e moças desta villa, e da aldeia, em esturdias e tocatas, que não terão mais de 12 nem menos de 6 figuras” (Estrela do Minho, 1908-05-24, pág.02). Nesta altura já havia a preocupação de envolver e fazer participar a comunidade, estimulando-a, por exemplo, a “iluminar as janelas”, premiando a “mais caprichosamente iluminada”, ou o carro de cavalos melhor “engalanado” (COSTA, 2002, pág.5). Em 1913, a celebração das Festas Antoninas começaram a perder a exuberância dos anos anteriores, principalmente na componente profana. No entanto, a componente religiosa, constituída pela missa, pelo sermão, pela procissão e pela bênção e distribuição do pão de Santo António sempre ocorreu, mesmo nos anos de menor celebração. Não se conseguiu apurar as razões para a não realização da componente profana, embora tal possa estar relacionada com a integração de Portugal na Primeira Guerra Mundial. Em 17 de junho de 1917, o jornal “Estrela do Minho” dá à estampa a seguinte notícias “Realizou-se sexta-feira a festa a Santo António na sua capela do Campo Mousinho, conforme os anos anteriores. As vésperas antoninas não deram sinal de si este ano, e razão tem o povo em não fazer festas, quando estamos envolvidos na guerra e na França e em África os nossos soldados estão batalhando pelo engrandecimento da pátria” (Estrela do Minho, 1917-06-17, pág.02). Na década de 1920 voltamos a ter notícias da celebração das Festas Antoninas em Vila Nova de Famalicão com uma componente mais profana. Organizada por uma comissão constituída por moradores de uma rua da Vila (rua da Liberdade), foram o foco das festas nesta década. Em 23 de junho de 1923 a “Estrela do Minho” refere que “Principiaram ontem com todo o brilhantismo as grandiosas festas a Santo António na rua da Liberdade até à Estação do Caminho de ferro. / As iluminações são de belo efeito e o desafio das duas músicas, ambas excelentes, atraiu ao local alguns milhares de pessoas (…) / Hoje continua o arraial, musica e foguetes. Agradaram também as ornamentações das ruas, que são de belo gosto e muito efeito” (Estrela do Minho, 1923-06-23, pág.02). As décadas de 1930, 1940 e 1950 foram de esquecimento quase total das Festas Antoninas. As notícias da realização das iniciativas religiosas no dia de Santo António, organizadas pela Venerável Ordem Terceira de São Francisco, continuam a sair nos diversos jornais da Vila, mas sem fazerem menção à romaria como a que o concelho viveu desde a última década do século XIX. Esta decadência das Festas Antoninas está também relacionada com a importância que o Municipio começou a dar às Festas de Setembro, por altura do São Miguel, tentando transformá-las nas festas do concelho. Foi uma imposição que não agradou à comunidade. Nos jornais houve uma disputa de ideias, levando mesmo à promoção de um inquérito publico em 1936 no “Estrela do Minho” que pretendia saber qual é que seriam as festas do concelho. Vasco de Carvalho, um exímio historiador do concelho de Vila Nova de Famalicão não tinha dúvidas “As Antoninas devem continuar a ser as nossas grandes festas” (Estrela do Minho, 1936-10-18, pp.1-2). Mas a sugestão da comunidade não foi aceite pela comissão organizadora das principais festas de Vila Nova de Famalicão. Contudo, a vontade do povo ultrapassou as politicas culturais seguidas pelo Municipio e pelas principais instituições da Vila e, pelo menos a noite e o dia de Santo António continuou a ser festejada pela comunidade, por iniciativa da Sara “Barroca”, proprietária de um dos mais famosos restaurantes de Vila Nova de Famalicão, localizada na Praça D. Maria II, durante as décadas de 1940 e 1950. Segundo o que se recorda David Dias, filho da impulsionadora das festas neste período, “ela [Sara “Barracoa”] resolveu convidar a rapaziada, raparigas e rapazes (…) para prepararem os enfeites e as iluminações, que eram colocadas na zona envolvente do restaurante, com incidência particular no antigo campo da feira, onde era exposta também uma enorme cascata”. A noite era passada com “música com concertinas, violas, cavaquinhos, cantares ao desafio, eram as cantigas populares em grupo, acompanhas por copos, sardinhas, caldo verde. Era uma festarola”. (Vila Nova, 2002-06-12, pp.02-03). A manhã do dia 13 de junho ficava reservado à veneração do Santo, com a tradicional missa, sermão e distribuição do Pão de Santo António. Á noite, a música e o convívio continuava, transformando o local adjacente ao restaurante num típico arraial minhoto. As Festas Antoninas das décadas de 1940 e 1950 tinham assim um cariz muito popular, que assentava na vivacidade e vontade própria do povo. Em 1959 as Festas Antoninas ressurgem de novo no panorama festivo da cidade, com a categoria de festas do concelho, por proposta do vereador da cultura Dr. Machado Ruivo, sob a presidência de José Pinto de Oliveira. Foi criada uma comissão de festas constituída por representantes da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, do Grémio do Comércio, presidido por António Joaquim de Carvalho, e do Ateneu Comercial e Industrial, liderado por Clemente Sousa Lopes, que foram as entidades responsáveis pela organização das Festas Antoninas entre os anos de 1959 e 1966 (Estrela do Minho, 1959-04-19, pág.01 e 04). Durante estes sete anos (em 1965 só se realizaram as manifestações de cariz religioso) houve uma evolução na organização, na duração e nas manifestações integradas nas festividades. A comissão organizadora, antes constituída por indivíduos da sociedade, passou a ser formada por algumas instituições da cidade, liderada pelo Municipio. É o início da municipalização das festas, que ocorrerá em 1979. A própria duração das festividades, que oscilava entre um a dois dias, passou a celebrar-se durante três a seis dias. Naturalmente, este aumento do número de dias das festas levou a que o programa sofresse um acrescento no número de atividades, de natureza profana e religiosa. Contudo, a maioria das manifestações que já integravam o programa desde o início do século XX manteve-se, caso dos concertos das bandas de música regimentais e filarmónicas, a construção de cascatas, o saltar das fogueiras, os descantes populares, as rusgas, as provas desportivas, as decorações da capela e dos espaços adjacentes, iluminações noturnas e sessões de fogo-de-artifício (componente profana); missa, cantada e instrumental, sermão, bênção e distribuição do Pão de Santo António e procissão solene (componente religiosa). Os números novos que aos poucos integraram as festividades durante estes anos (alguns ainda hoje são parte ativa do programa) passaram por recitais de música, peças de teatro, inauguração de exposições, inauguração de Arte Pública, feiras e mercados, carrosséis e divertimentos, atuação de grupos folclóricos, concursos de pecuária e num aumento do número de provas desportivas (festival hípico, corrida de cavalos, gincana de automóveis, festivais de ginástica, provas de atletismo, torneios de voleibol e de futebol). (Estrela do Minho, 1959-05-24, pp.1-2; Estrela da Manhã, 1960-05-29, pág. 01; Estrela da Manhã, 1961-06-04, pág. 02; Estrela da Manhã, 1962-05-20, pág. 01 e 07; Estrela da Manhã, 1963-06-09, pág. 03; Estrela da Manhã, 1964-06-07, pág. 01 e 07; Estrela da Manhã, 1965-06-13, pág. 01 e 03 e Estrela da Manhã, 1966-05-15, pág. 05). O programa de 1959 foi contemplado com um desfile pelas ruas e exibição em palco de uma Marcha de Lisboa (Estrela do Minho, 1959-05-24, pp.1-2). O objetivo seria o de implementar nas festividades esta manifestação, o que apenas acontecerá no ano de 1984. Decorrendo desde esse ano até ao presente, as Marchas tornaram-se numa das manifestações públicas coletivas, protagonizadas pelas associações recreativas e culturais, onde o sentimento identitário, o bairrismo e a convivência geracional mais se faz sentir dentro das festividades. Mas a atividade que mais marcou as festas da década de 1960 foi a Batalha das Flores, protagonizada por indivíduos do tecido associativo do concelho (Estrela do Minho, 1960-05-29, pág. 01). Atualmente, esta atividade ainda é executada nos mesmos moldes, embora esteja integrada numa outra festividade do concelho, a Festa da Flor. Em 1967, o Municipio de Vila Nova de Famalicão, por razões desconhecidas, não inscreveu no orçamento anual qualquer subsídio para as Festas Antoninas. Este facto, juntamente com o falecimento de um dos principais impulsionadores das festas - Clemente Lopes, Presidente do Grémio do Comércio – levou a um novo interregno, pelo menos nas celebrações profanas associadas às festividades, que durou 13 anos. Em 1979 as Festas Antoninas renascem, por iniciativa da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão ao aprovar uma proposta em 30 de janeiro desse ano, onde defende que seja ela própria a promover sozinha a realização das festas, considerando-as de interesse concelhio. Assim aconteceu logo nesse ano, o que se vem mantendo sem interrupção até aos nossos dias, passando a ser este o maior período da vida das Antoninas. Coube aos vereadores Artur Lopes, Fernando Moniz e Alberto Aragão, na presidência de José Carlos Marinho, defender publicamente esta iniciativa (COSTA, 2002, pág.9). Uma vez mais, a Câmara Municipal toma a iniciativa. Os apelos à participação popular foram escutados, sobretudo pelas associações recreativas e culturais, aos quais se juntaram as juntas de freguesia, a Venerável Ordem Terceira de São Francisco e a paróquia de São Tiago de Antas. Desde este período o programa sofreu uma evolução, própria das políticas culturais e das conjunturas económicas da entidade que organiza as festividades (Municipio de Vila Nova de Famalicão). Mesmo a comunidade, mais móvel, literada e com uma mentalidade mais propícia a novas “experiências”, fruto das novas tecnologias e de tudo o que ela proporciona, vai exigir novos números e/ou impor, por exemplo, a presença dos artistas musicais em “alta” na época. A comissão organizadora das festas soube, no entanto, preservar a sua identidade, aliando no programa os números profanos e religiosos praticados desde a década de 1890 e outros que a própria comunidade “impôs” que se realizassem. É na década de 1980 que vão sendo introduzidos no programa os concertos de música pop/rock, os concertos de música popular portuguesa, os concertos de fado, os festivais de ranchos folclóricos e os desfiles etnográficos. Em 1984 é introduzido as Marchas Antoninas, evento que tornou-se na principal manifestação coletiva profana das festividades, vivida com exuberância e bairrismo pelas coletividades culturais e recreativas das freguesias. As crianças começam a ganhar protagonismo nas festas, através de números exclusivos delas, centradas nas exposições de desenhos, cartazes e estatuetas sobre as Festas Antoninas e Santo António e na manifestação que ainda hoje é marcante no programa das festividades: as marchas antoninas infantis, que envolvem anualmente mais de 2000 crianças dos estabelecimentos escolares do concelho, numa espécie de ritual introdutório dessas crianças nas festividades. A década de 1990 trouxe novidades ao programa das festas, com a introdução dos cortejos alegórico e histórico, que foram saindo do programa ao longo da década de 2000. Hoje, é indesmentível a importância que as Festas Antoninas possuem no panorama festivo do concelho e a relação umbilical que mantem com a comunidade. O próprio Municipio, sabendo desta importância, encetou a candidatura à inscrição destas festividades no inventário nacional do património cultural imaterial, como forma de reconhecimento de algo que a comunidade já desde finais do século XIX sentia: que a Festas Antoninas são as festas do povo, as festas de Vila Nova de Famalicão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Monografias ANDRADE, António Alberto Banha de (Dir.), 1980, Dicionário de História da Igreja em Portugal, Lisboa: Editorial Resistência, Vol I. 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SILVA, António Joaquim Pinto da, 2009, O Boletim do Grupo dos 29, Boletim Cultural de Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Famalicão, Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, III Série, N.º 5 VIEIRA, A. Martins, 2000, As Capelas no concelho de Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Famalicão, Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão. VIEIRA, José Augusto, 1887, O Minho Pittoresco, Lisboa, Livraria de António Maria Pereira. Manuscritos Licença a favor de José Gonçalves, da freguesia de Santa Maria de Telhado, para o seu Reverendo pároco benzer a imagem de Santo António, na forma do Ritual Romano, como declara na sua petição, 1744, Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 162, fls. 552v-523 Licença para se dizer missa na ermida de Santo António de Santiago da Cruz, 1632, Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 14, fl.118. Livro das Contas da Conferência de São Vicente de Paulo de Vila Nova de Famalicão, 1905, pág. 21 Obrigação à fábrica da capela de Santo António, sita na freguesia de São Tiago de Castelões, 1679, Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 17, fls.300-301. Obrigação à fábrica da capela de Santo António, sita na freguesia de São Salvador de Delães, 1704, Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 19, fls.49v-50. Obrigação e doação que fizeram os moradores e devotos a confraria de Santo António, sita na devesa da feira de Vila Nova de Famalicão, da freguesia de Santa Maria Madalena de Vila Nova de Famalicão, da freguesia de São Martinho de Brufe, da freguesia de Requião, da freguesia de Mouquim e da freguesia de São Tiago de Antas, 1650, Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 23, fls.182v-184. Provisão a favor de Simão Correia Gomes, cidadão do Porto e assistente na freguesia de São Silvestre de Requião, para se fazer uma procissão com a imagem de Santo António, 1727, Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 76, fls.284-285. Provisão de confirmação de reforma de estatutos da Irmandade de Santo António, da freguesia do Salvador de Joane, a favor dos Irmãos da dita Irmandade, 1785, Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 218, fl.71. Registo de papéis para a fábrica da capela em louvor de Santo António, que de novo quer erigir António Gomes de Abreu, vigário de São Mateus de Oliveira, termo da vila de Barcelos, e oriundo da freguesia de Santa Maria de Oliveira, 1732, Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 117, fls.279-280. Registo de provisão de confirmação de estatutos da confraria de Santo António, da freguesia de Santa Lucrécia de Louro, termo de Barcelos, a favor do juiz e mais oficiais da dita confraria, 1751, Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 132, fls.137-139. Registo de provisão de licença a favor do juiz e mais devotos do Glorioso Santo António, de Vila Nova de Famalicão, para o Reverendo Pároco da mesma freguesia benzer a capela de Santo António, 1775, Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 150, fls. 131-131v Requerimentos de Manuel Félix Salgado de Araújo Chaves e sua mulher Dona Antónia Joana de Encarnação Carneiro, moradores na sua quinta de Fafião, freguesia de São Silvestre de Requião, a respeito de pretender edificar uma capela com o título de Santo António, 1764, Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 184, fls.45. Título das doações que se fizeram novamente para a ermida de Santo António, sita na freguesia de Santa Maria de Nine, 1613, Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 13, fls.211-213v. Treslado dos papéis da capela de Nossa Senhora e Santo António, sita na freguesia do Salvador de Lemenhe, 1718, Arquivo Distrital de Braga, Registo Geral, Livro 66, fls. 307-311 Periódicos Agenda Cultural do Município de Vila Nova de Famalicão, 2016-06, Programa das Festas Antoninas, pág.30. Estrela da Manhã, 1960-05-29, As Festas “Antoninas” de V.N. de Famalicão. Programa Geral, pág. 01 Estrela da Manhã, 1961-06-04, Festas Antoninas. Programa Geral, pág. 02 Estrela da Manhã, 1962-05-20, Festas Antoninas, pág. 01 e 07 Estrela da Manhã, 1963-06-09, Festas Antoninas, pág. 03 Estrela da Manhã, 1964-06-07, Festas Antoninas ou edição estropeada das Antoninas?, pp. 01-02 Estrela da Manhã, 1965-06-13, Das “Antoninas” cumpre-se a parte religiosa, pág. 01 e 03 Estrela da Manhã, 1966-05-15, “Antoninas”. Festas do concelho de V.N. de Famalicão, pág. 05 Estrela do Minho, 1900-04-29, Santo António, pág.02 Estrela do Minho, 1900-06-03, Festas a Santo António, pág.03 Estrela do Minho, 1901-06-23, O Santo António, pág.02 Estrela do Minho, 1902-06-15, Santo António, pág.03 Estrela do Minho, 1903-06-07, Santo António, pág.01 Estrela do Minho, 1903-06-14, Santo António, pág.02 Estrela do Minho, 1904-06-19, Santo António, pág.01 Estrela do Minho, 1906-05-20, Festas Antoninas, pág. 02 Estrela do Minho, 1907-05-25, Festas Antoninas, pág. 02 Estrela do Minho, 1908-05-24, Festas Antoninas, pág. 02 Estrela do Minho, 1909-05-30, Festas Antoninas, pág. 02 Estrela do Minho, 1910-06-05, Festas Antoninas, pág. 02 Estrela do Minho, 1911-05-21, Festas Antoninas, pág. 02 Estrela do Minho, 1912-06-09, Festas de Famalicão, pág. 02 Estrela do Minho, 1917-06-17, Santo António, pág. 02 Estrela do Minho, 1923-06-23, Santo António na Estação, pág. 02 Estrela do Minho, 1936-18-10, Devem mudar-se as Festas?, pp.01-02 Estrela do Minho, 1959-04-19, As Festas Antoninas vão ressurgir e serão as festas do concelho, pág. 01 e 04 Estrela do Minho, 1959-05-24, Festas Antoninas, pp. 01-02 Notícias de Famalicão, 09-10-1950, Para os Anais do Municipio de Vila Nova de Famalicão – Capela de Santo António, pág. 2 Vila Nova, 2002-06-12, As “saudades” das Antoninas dos longínquos anos 40, pp. 02-03
  • Direitos associados :
  • TipoCircunstânciaDetentor
    Direito consetudinário São detentores dos direitos relativos às Festas Antoninas a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão (entidade organizadora), o Conselho Económico e Social da Paróquia de São Tiago de Antas (entidade organizadora da componente religiosa), diversas associações e instituições escolares do concelho de Vila Nova de Famalicão (entidades dinamizadoras de algumas das principais iniciativas desta manifestação) e toda a comunidade residente, ex-residente ou que tenham alguma ligação com o concelho e/ou com as festividades, enquanto elementos detentores e transmissores das várias práticas e rituais da manifestação. Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
  • Responsável pela documentação :
    Nome: Paulo Alexandre Campos Sampaio Correia
    Função: Técnico Superior de História e Património do mapa de pessoal do Município de Vila Nova de Famalicão
    Data: 2021/06/13
  • Fundamentação do Processo : ver fundamentação do processo
Direção-Geral do Património Cultural Secretário de Estado da Cultura
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