Ficha de Património Imaterial

  • N.º de inventário: INPCI_SU_2022_001
  • Domínio: Competências no âmbito de processos e técnicas tradicionais
  • Categoria: Atividades transformadoras
  • Denominação: Construção de Bombos e Caixas no Concelho do Fundão
  • Outras denominações: Construção de Bombos
  • Contexto tipológico: As caixas e os bombos são instrumentos musicais primitivos, que são fabricados com materiais diretamente fornecidos pela natureza: peles de animais, madeiras e cordas (desde há alguns decénios, o tambor ou fuste, que é o cilindro que constitui a parte central do instrumento, tem vindo a ser feito a partir de bidões cortados, ou de tabopan, ou de fórmica ou de chapas de zinco, em substituição da madeira, outrora prevalecente ou exclusiva). São, pois, instrumentos pertencentes às sociedades do ciclo pastoril. Na Cova da Beira e particularmente no concelho do Fundão, ocorrem associados a um outro instrumento, este de sopro, igualmente do ciclo pastoril: o pífaro, feito em madeira, que exerce a função melódica deste conjunto instrumental.
    A construção de bombos e caixas é hoje assegurada, como sempre foi, por homens dotados de engenho e perícia, utilizando técnicas e materiais idênticos aos de seus ancestros, de quem receberam os ensinamentos básicos para essa construção. Os artesãos que a tal se dedicam encontram-se disseminados por várias localidades do concelho.
    O âmbito temporal desta atividade construtiva é imemorial.
    Do ponto de vista social, é importante esta atividade na medida em que suporta os referidos conjuntos instrumentais populares, hoje genericamente designados por “bombos”, os quais exercem, como adiante se desenvolverá, funções de relevo nas comunidades onde estão inseridos, quer como anunciadores das festividades locais, quer como animadores dos arraiais populares, quer ainda como representantes e símbolos de cada uma dessas comunidades quando estas se dirigem em peregrinação às romarias e aí se exibem encabeçando o povo devoto.
    Territorialmente, tanto a atividade musical destes agrupamentos, como a atividade construtiva que lhes subjaz, são particularmente representativas da tradição popular da Cova da Beira, mas hoje sobretudo das localidades do aro concelhio fundanense. Desde tempos recuados que estes grupos de bombos são fornecidos pelos instrumentos fabricados por artesãos sedeados no concelho, pois a escassa mobilidade desses tempos não permitia deslocações para fora desse âmbito territorial por motivos de tão reduzida expressão económica.
    Os bombos e caixas estão classificados na organária como instrumentos musicais membranofones, visto que o seu princípio sonoro é a vibração de uma membrana percutida por objeto estranho, neste caso as peles tangidas pelas massetas. A construção destes instrumentos, os materiais aplicados, a técnica artesanal adotada, tudo representa um património que as gentes do Fundão trouxeram do passado e souberam manter e cultivar nos dias de hoje, através da transmissão oral (sem aprendizagem livresca), de geração em geração.
    Constituem, por isso, uma manifestação espiritual tradicional do povo fundanense, integrada no seu folk-lore, no sentido originário do conceito, tal como William Thoms o consagrou em 1846, id est, significando o conjunto dos hábitos, usos e costumes de um povo, ou grupo étnico.
    É este o conceito etnológico de cultura: tudo o que o Homem, aqui estudado como ser cultural, portador dessa cultura, recebe do passado e mantém no seio da comunidade em que está inserido, desde o idioma à forma de vestir, de trabalhar, de se divertir, de namorar, de amar, de casar, de expressar a alegria e a dor, de celebrar os mortos, de rezar à sua divindade.
    O Homem e a Terra onde vive, geram a Cultura e esta, repetida e transmitida às gerações seguintes, representa a Tradição. A Cultura de um povo tem uma componente material e outra espiritual. Esta última, a cultura imaterial do povo, constitui o objeto do estudo folclórico, o acervo dos usos e costumes, das expressões orais e artísticas desse povo: crenças e superstições, literatura popular (contos, lendas, poesia popular, teatro popular, romanceiro tradicional), adivinhas, provérbios e anexins, festas e romarias, música de tradição oral e instrumentos musicais populares, artesanato tradicional, medicina popular, gastronomia tradicional, danças e jogos populares, trajos populares, manifestações relativas ao nascimento, ao casamento e à morte, o culto às almas dos falecidos, etc.
    É nesta perspetiva cultural, relativa à sociedade tradicional de onde procede também a forma de construir bombos e caixas, que esta atividade artesanal deve ser valorizada, estudada e salvaguardada.
  • Contexto social:
    Indivíduo(s): Álvaro Pires Gonçalves; Américo José Barroca Simão; António Joaquim Estêvão; António Nunes dos Santos; Domingos Afonso Atalaia Fernandes; Emílio Abrantes Figueira; Fernando Geraldes Brasinha; Fernando Laranjo Brasinha; João Faísca Barreiros; Paulo Piçarra Bernardino
  • Contexto territorial:
    Local: Alcaide, Alcaria, Alcongosta, Aldeia Nova do Cabo, Lavacolhos, Salgueiro e Silvares
    Concelho: Fundão
    Distrito: Castelo Branco
    País: Portugal
    NUTS: Portugal \ Continente \ Centro \ Cova da Beira
  • Contexto temporal:
    Periodicidade: A construção de caixas e bombos não obedece a critérios estritos de periodicidade, atenta a sua natureza circunstancial, episódica, economicamente secundária, artesanal e quase sempre por encomenda.
    Data(s): Sem data, mas com especial incidência no período Primavera/Verão.
  • Caracterização síntese:
    A construção e os conhecimentos associados ao fabrico de bombos e caixas no aro concelhio do Fundão é hoje assegurada por dez artesãos nas seguintes localidades: Alcaide, Alcaria, Alcongosta, Aldeia Nova do Cabo, Lavacolhos, Salgueiro e Silvares. Essa construção é artesanal e baseia-se em métodos tradicionais, que são transmitidos, por observação e aprendizagem, de geração em geração.
    As caixas e bombos construídos neste contexto integram, no concelho do Fundão, especificidades próprias quanto à técnica de construção, aos materiais utilizados e ao som que deles se extrai. Deverá também salientar-se a originalidade da constituição instrumental dos conjuntos musicais que os bombos e caixas integram, bem como do seu reportório e da forma de o interpretar.
    Contexto social: a construção de bombos e caixas ocorre nas pequenas comunidades rurais do concelho do Fundão, relacionada com a prática musical dos chamados “bombos”, grupos de bombos, caixas e pífaro que são presença ativa nas romarias do concelho, máxime a da Santa Luzia, no lugar do Castelejo, aonde acorrem gentes de toda a Cova da Beira e também das abas das serras da Gardunha, Estrela e Açor, bem como nas pequenas festas locais.
    Contexto territorial: os construtores de caixas e bombos estão sedeados nas aldeias do aro concelhio do Fundão suprarreferidas.
    Contexto temporal: a construção de caixas e bombos não tem data nem época específica ou fixa. É uma atividade ocasional e irregular, embora constante, com especial incidência no período da Primavera/Verão, quando ocorre mais atividade performativa dos grupos musicais populares constituídos por bombos, caixas e pífaros.
  • Caracterização desenvolvida:

    a) – Os instrumentos
    Segundo a classificação de Hornbostel, consagrada em 1914 através dos contributos fundamentais de Curt Sachs e Erich von Hornbostel, os bombos e as caixas são instrumentos musicais pertencentes à família dos membranofones, na medida em que o seu princípio de produção do som resulta da vibração de uma membrana, neste caso peles de animais.
    Possuem caixa de ressonância cilíndrica, a que, pela sua forma, se chama tambor, revestido nos dois topos por peles retesadas, as quais são percutidas com baquetas (nas caixas) ou massetas (nos bombos), estas popularmente designadas por “mocas” ou por “maçanetas”.
    O som é produzido por esta percussão sobre as peles.
    Uma vez que cada instrumento possui duas peles, uma em cada topo da caixa de ressonância, a classificação organológica das caixas e bombos em apreço, situa-os como instrumentos bi-membranofones de percussão indireta.
    A caixa tem um bordão ao rés da superfície de uma das peles, a qual leva, por isso, o nome de berdoeira. Esse bordão é uma fina corda de tripa (hoje preferencialmente de outros materiais, como nylon) que ressoa com a vibração originada pelos batimentos das duas baquetas na outra pele. O bombo não apresenta nenhum bordão, pelo que pode ser percutido nas duas peles, que vibram livremente.
    Dadas as respetivas dimensões do tambor ou caixa de ressonância, quer no diâmetro, quer na altura, um bombo produz um som mais grave, cavo e ribombante, ao passo que a caixa tem uma sonoridade mais aguda e reverberante, também por força do dito bordão, fornecida também pelos batimentos repetidos e de curta duração musical, a que se dá o nome de rufar. Daí que a sua denominação resulte da antiga designação militar “caixa de rufo”, por simplificação apenas caixa.

    b) – Características gerais e modo de uso dos bombos e caixas
    No concelho do Fundão, os bombos são do tipo largo, com diâmetro até 75 cm. e as caixas até 45 cm. de diâmetro. A maior parte dos bombos tem cerca de 25 cm. de altura, ao passo que as caixas apresentam cerca de 20 cm. As dimensões da largura e da altura variam com a preferência dos construtores. Ambos os instrumentos têm peles retesadas por corda corrida.
    No território de influência do presente pedido, os bombos transportam-se a tiracolo, que normalmente é uma correia/cinto que passa sobre o ombro direito e sob o braço esquerdo, prendendo aos arcos de ambos os lados e ficando em regra um pouco inclinados, com as peles na vertical, a do lado direito – a batedeira – voltada para cima, a outra – a berdoeira – ligeiramente inclinada para baixo. Esta atribuição da designação de “berdoeira” à pele menos percutida do bombo resulta de uma generalização popular errónea (e só por alguns dos tocadores), por simpatia com a denominação da pele inferior das caixas, esta sim verdadeiramente berdoeira porque possui um bordão.
    As caixas transportam-se de forma idêntica, mas menos inclinadas, ou seja, as peles ficam numa posição quase horizontal. A caixa é tangida na pele superior com recurso a duas baquetas. A pele inferior, ou berdoeira, nunca é tangida. Chama-se berdoeira porque, como explicado supra, possui um bordão, um fio de tripa, aplicado rente à superfície dessa pele, para a fazer retinir com a vibração produzida pela percussão da outra pele.

    c) Funções
    A principal função musical das caixas e bombos é o acompanhamento rítmico de outros instrumentos, estes melódicos, no caso do Fundão os pífaros. Sem embargo, no Entre Douro e Minho ocorrem por vezes desacompanhados de instrumentos melódicos, circunstância que o povo designa por (só) “pancadaria”.
    As caixas e os bombos, pela força e vibração sonora que deles se desprende, estão intimamente associados a ocasiões festivas: arruadas, alvoradas (anúncio matinal do dia de festa), acompanhamento das comunidades às romarias beirãs, nomeadamente, no caso do Fundão, à romaria de Santa Luzia, nas imediações do lugar de Castelejo, a 15 de Setembro, data e romaria que, pela sua importância na vida das gentes, é feriado municipal.
    Mas, como salientou Ernesto Veiga de Oliveira no seu monumental estudo sobre os “Instrumentos Musicais Populares Portugueses”, os tambores assumem também, por vezes, “funções cerimoniais, frequentemente de grande relevo, em inúmeras solenidades públicas e são mesmo, em alguns casos, de natureza cerimonial qualificada”.
    No caso do aro concelhio em apreço, uma das funções mais importantes que os tambores chegaram a desempenhar foi a sua presença imprescindível nas chamadas “folias do Espírito Santo”, conjuntos instrumentais que, desde o Domingo de Páscoa até ao Pentecostes, percorriam as aldeias, assim como a vila do Fundão, fazendo peditório para a respectiva festividade.
    Tocavam pelas ruas acompanhando os mordomos do Espírito Santo, que transportavam a bandeira com a pomba bordada, símbolo do Paracleto, e o saco para receber as oferendas. Tocavam e cantavam também em casa dos mesmos mordomos e do imperador, aquando das refeições por estes oferecidas ao longo dos cerimoniais de todo o peditório e da festa.
    Os instrumentos musicais dessas folias eram variáveis, mas o conjunto integrava obrigatoriamente um tambor, ao parecer porque o seu toque conferia mais solenidade ao trecho musical. Por vezes, ele era mesmo o único instrumento que acompanhava, no domínio rítmico, o canto dessas folias.
    Deliu-se por completo todo o aparato destes festejos ao Espírito Santo. As últimas presenças das folias nestas ocasiões terão ocorrido, segundo testemunhos orais, por volta dos anos 1930/40, tanto no aro concelhio do Fundão como em geral na Cova da Beira. Sem embargo, foi ainda possível gravar o notável canto de uma dessas folias com acompanhamento de tambor em simulacro – recolha de José Alberto Sardinha, em Alcongosta, 1981, que se reproduz na documentação sonora desta candidatura. E reproduz-se também uma fotografia da Folia de Vale de Prazeres tirada em 1935 durante o espetáculo de música regional da Beira Baixa que teve lugar em Castelo Branco em 21/11/1935 por iniciativa da Emissora Nacional, onde é visível a respetiva composição instrumental: violinos, banjolim, pífaro, violão, chim-chins (pandeireta sem pele, ou seja, um arco ou acincho – e daí a corruptela popular para tchim-tchim) e tambor, rectius uma caixa de rufo – A Beira Baixa ao microfone da Emissora Nacional de Radiodifusão, de Jaime Lopes Dias, p. 90.
    Mantêm-se, contudo, duas funções cerimoniais de relevo a cargo dos bombos e caixas do Fundão:
    - uma, é o toque que executam na cerimónia solene do feriado municipal, na manhã do dia 15 de Setembro, à entrada do edifício dos Paços do Concelho;
    - outra, é o acompanhamento grave e soturno de algumas procissões da Semana Santa (verbi gratia Donas e Alcongosta), em que, desacompanhados do instrumento melódico, executam o toque compassado e solene que nos cortejos mais importantes (como é o caso da Procissão do Enterro do Senhor na cidade) está a cargo da fanfarra dos Bombeiros Voluntários, ou noutros casos (Peroviseu), do naipe de percussão das bandas filarmónicas.

    d) – Significado social dos grupos de bombos e caixas do Fundão
    Os Grupos de Bombos constituem hoje um elemento musical de grande originalidade e de saliente relevância cultural no território da Cova da Beira e particularmente no aro concelhio fundanense. Eles assumiram-se, ao longo do último século, não só como um elemento potenciador e estruturador da identidade local, afirmada a partir da conjugação de sons, ritmos e contextos muito próprios, mas também como possuidor de uma dimensão e afirmação icónica de expressão regional.
    Há grupos de bombos em diversas localidades de todo o concelho do Fundão e a utilização destes instrumentos perde-se temporalmente na memória e na história popular das comunidades.
    É certo que também noutras províncias e regiões do país existem grupos instrumentais compostos por bombos e caixas, em geral como acompanhantes rítmicos de um outro instrumento melódico, a gaita-de-foles (por vezes sem ele, “só pancadaria”, como já referido). Esses grupos levam o nome de Zés-Pereiras ou Zabumbas, sobretudo no Entre Douro e Minho, onde são particularmente abundantes. Também no território fundanense eram assim denominados ainda nos princípios do séc. XX.
    Todavia, a pouco e pouco, a sua denominação popular transitou para grupos de pífaros ou só “pífaros” (alusão ao instrumento melódico cuja sonoridade sobressai no conjunto instrumental) ou, seguidamente, de “bombos”, vindo esta última a consagrar-se definitivamente na nomenclatura popular fundanense. Exs.: os bombos de Silvares, os bombos de Lavacolhos, os bombos do Souto da Casa, etc.
    A sonoridade obtida pela conjugação dos referidos pífaros com a componente percutiva a cargo dos bombos e caixas é verdadeiramente surpreendente e original. A maior parte dos trechos interpretados por estes agrupamentos fundanenses tem natureza meramente instrumental, mas por vezes junta-se-lhes a voz humana entoando cantigas populares. Em qualquer dos casos, o reportório é o que corre na tradição popular, assumindo portanto, também por esta razão, carácter regional.
    Este conjunto instrumental, assim constituído por pífaro(s), caixas e bombos, acompanha desde tempos imemoriais as respetivas comunidades às romarias da região – e aqui desempenha função de representatividade social que não se evidencia em nenhuma outra região do país.
    A chegada à capela ou ao santuário venerado é momento de grande vibração popular. Os peregrinos de cada aldeia irrompem pelo arraial em cortejo encabeçado pelo grupo de bombos da sua terra, em frenesim de orgulho bairrista e de exibição, perante a curiosidade, o entusiasmo e o aplauso de todo o povo que aí se aglomera.
    Esta afirmação musical das comunidades é ainda hoje visível nas romarias da região, particularmente na Santa Luzia, centro de peregrinação religiosa do mais alto significado para todos os fundanenses. Lembre-se que Amália Rodrigues, já lançada no estrelato nacional, acorreu por vezes, como todos os que possuíam e possuem raízes no Fundão, a esta romaria.
    É remarcável, por todo o exposto, o carácter identitário que estes grupos de bombos assumem para cada uma das localidades onde estão radicados e de que são representantes. E é também assinalável a sua contribuição, através desse valor representativo, para a coesão social das respetivas comunidades.

    e) – Construção
    e. 1. – Composição morfológica dos bombos e caixas
    Os instrumentos em estudo são constituídos pelas seguintes partes e materiais:
    - fuste: corpo central de forma cilíndrica, a que por isso se chama tambor.
    Função: caixa de ressonância.
    Materiais: chapa de zinco (Álvaro Pires Gonçalves, Américo Simão, António Joaquim Estêvão, Fernando Geraldes Brasinha, Fernando Laranjo Brasinha e Paulo Piçarra Bernardino), bidões cortados (Emílio Figueira); fórmica (Emílio Figueira e João Faísca Barreiros), tabopan (António Nunes dos Santos) e chapa aproveitada de frigoríficos e arcas de congelação (Domingos Afonso Atalaia Fernandes).
    - peles: peles de cabra, que constituem as membranas a percutir, colocadas nos dois topos do fuste – quase todos os artesãos. Apenas Emílio Figueira e João Faísca Barreiros referem também a utilização de pele de chibo.
    - aros ou arquilho: varas delgadas, torcidas em redondo, às quais são cosidas as peles para serem ajustadas nos topos do fuste. Materiais: de silva (Álvaro Pires Gonçalves, Américo Simão, António Joaquim Estêvão, José Faísca Fernandes, Fernando Geraldes Brasinha, Fernando Laranjo Brasinha e Paulo Piçarra Bernardino); de madeira de castanheiro em rebentos novos e por isso muito delgados (António Nunes dos Santos); cabo elétrico (Domingos Afonso Atalaia Fernandes, Emílio Figueira e José Faísca Barreiros), barras de alumínio (Domingos Afonso Atalaia Fernandes) e varas de ar condicionado (Domingos Afonso Atalaia Fernandes).
    - arcos exteriores ou de vista: ripas finas de madeira de castanho, vergadas em redondo para servirem de remate e de sustentação às peles (depois de cosidas e colocadas nos topos do fuste) e de suporte aos ganchos ou grampos, tanto no topo superior do tambor, como no inferior – todos os artesãos, exceto Domingos Inverno (alumínio) e Emílio Figueira (madeira de negrilho).
    - grampos ou ganchos: em metal, geralmente zinco (todos os artesãos), em forma de “S”, colocados nos arcos de vista, pelos quais passam as cordas que, percorrendo a superfície externa do fuste do topo superior para o inferior e vice-versa, dão robustez ao instrumento, contribuem para o retesamento das peles e respectiva afinação e unem todos os outros elementos do instrumento. Apenas Emílio Figueira e José Faísca Barreiros compram estas peças já feitas. Fernando Geraldes Brasinha utiliza pregos para fazer os grampos para as caixas.
    - as baquetas e as massetas ou mocas: são de madeira, as primeiras com cerca de 40 cms. destinadas à percussão das caixas e as segundas com cerca de 30 cms. destinadas aos bombos. Estes têm uma cabeça volumosa em cortiça, que é revestida com pele de cabra.

    e. 2. – Ferramentas: navalha, tesoura, alicate, alicate de corte, martelo, torno, fieira, calandra, agulha de sapateiro, linha de sapateiro, cola, maçarico. Saliente-se a “mula”, aparelho longo em madeira, com assento para o artesão, onde este corta e aplaina as ripas de castanho.

    e. 3. – Construção dos instrumentos
    O fabrico de um bombo inicia-se com a construção do fuste, que é a caixa cilíndrica que constitui o corpo central do instrumento. Para tal, é utilizada folha de zinco, ou tabopan, fórmica, chapa de bidão ou chapa de frigoríficos ou de arcas congeladoras.
    No caso do fuste de folha de zinco, os bordos da chapa são dobrados com recurso a uma fieira, onde é colocado arame na bainha, por forma a conferir mais resistência ao fuste. A chapa é posteriormente formatada em arco, com recurso a uma calandra ou manualmente e soldados ou grampeados para ficar com o formato circular.
    Os de chapa de bidão são cortados à medida e os de frigoríficos são cortados, dobrados nas suas partes laterais e formatados em arco manualmente e soldados ou grampeados para ficar com o formato circular.
    Os fustes em tabopan ou fórmica são formatados em redondo depois de submersos em água. O fuste de tabopan é reforçado no seu interior com duas ripas de madeira de castanheiro pregadas e o de fórmica com ripas de madeira colada no seu interior.
    É efetuado um pequeno furo a meia largura, normalmente na posição oposta ao local da união do fuste. Esse orifício, conhecido por alguns construtores por “ouvido”, mantém em equilíbrio a pressão interior deste instrumento de percussão quando está a ser tangido. Se não existisse o ouvido, as peles poderiam romper-se com muita facilidade, atenta a pressão a que são sujeitas com os fortes batimentos. Além disso, o ouvido ajuda à projeção do som, ao ressoar do bombo.
    O aro obedece ao diâmetro que se quer do instrumento, sendo posteriormente soldado nos casos dos de metal; colado no caso de madeira de castanheiro ou unido com recurso a fio zincado ou fio de algodão no caso do caule de silva.
    Para as membranas de percussão é utilizada pele de cabra seca, que é preferível à de chibo por ter um cheiro menos intenso. A pele deve ficar submersa em água durante algumas horas até ficar mais macia e maleável.
    A pele molhada é esticada, cortada e cosida sobre um arquilho e conformada em círculo. A pele é cosida com um fio, em volta do arquilho, envolvendo todo o redondo do bordo na parte exterior e com o pêlo da pele para fora. O arquilho é então colocado sobre o fuste. António Nunes dos Santos utiliza cola para fixar a pele ao arquilho.
    Posteriormente são efetuados os arcos exteriores que ficam à vista. As ripas para esses arcos têm o comprimento de acordo com o diâmetro do instrumento que se está a construir e com cerca de 5 cms. de largura. As ripas em madeira são submersas em água por forma a ficarem mais macias, a fim de serem com mais facilidade vergadas em redondo, de acordo com o diâmetro do fuste. As pontas são presas com recurso a fio zincado, excetuando João Faísca Barreiros e Emílio Figueira que também utilizam cola. As ripas de madeira de castanheiro não podem ter nós, para não quebrarem durante o processo de modelação, de verga em redondo. Para facilitar a modelação do material pode ser submetido ao calor do fogo, técnica idêntica à utilizada para o fabrico de cestaria em verga. Os arcos em alumínio são formatados em redondo e as pontas soldadas. Os arcos servem também para prender os arquilhos no fuste, em ambos os topos deste.
    Seguidamente são colocados os grampos, que são pequenos ganchos de zinco em forma de “S” com cerca de 5 cms., os quais são fixados nos bordos dos arcos exteriores e ao longo destes. Aplica-se então uma corda com cerca de 8 mm. de secção, que aperta os grampos correndo-os sucessivamente desde os superiores aos inferiores, com laços em forma de “Y”, que os puxa através de entrecruzamento corredio e os torna firme com duas passagens.
    O pêlo da pele é cortado com uma tesoura e, no caso das caixas, é rapado com recurso a uma lâmina. Essa operação pode ser efetuada no final da pele ser cozida no arquilho ou no final do instrumento estar montado.
    Findos estes processos, o bombo fica com a pele a secar, com a corda lassa. Depois de a pele estar seca, a corda é apertada para esticar a pele e afinar o instrumento. A pele também pode ficar a secar antes de os arcos dos instrumentos serem montados.
    A operação final consiste em colocar uma correia de suspensão no instrumento.
    Os instrumentos, depois de serem utilizados, devem ficar com a corda lassa a fim de serem preservadas e conservadas as membranas de percussão.
    A técnica e metodologia empregues para a montagem e construção dos bombos é semelhante à das caixas, apenas diferindo nas medidas do instrumento.
    Na membrana inferior das caixas são colocados bordões, em arame ou em corda fina de couro, antigamente em tripa, que são fixados no arco.
    Com os restos de pele de onde foram cortadas as membranas destinadas à percussão, são forradas as cabeças das massetas, ou mocas, dos bombos. Essas cabeças são feitas de “bolas” de cortiça que encaixam na madeira do cabo. Os artesãos executam as baquetas das caixas e as massetas dos bombos de forma manual, com exceção de Fernando Laranjo Brasinha, Fernando Geraldes Brasinha e Álvaro Gonçalves, que recorrem ao torno e de Emílio Figueira e João Faísca Barreiros, que as compram numa loja de instrumentos musicais. Essas massetas, maçanetas ou mocas para os bombos e para as caixas, são construídas manualmente em madeira de espécies escolhidas pelos construtores. António Nunes dos Santos utiliza pseudotsuga, por ser mais leve. Américo Simão utiliza preferencialmente madeira de castanheiro, embora já tenha utilizado madeira de carvalho ou de pinho. Domingos Fernandes utiliza madeira de laranjeira, macieira ou carapeteira negral para as massetas das caixas e de laranjeira para as baquetas das caixas. Natalino Alves utilizava pinho (por ser uma madeira leve e resistente) e castanho, embora tivesse preferência por uma madeira da qual não sabe o nome, que era proveniente de um terreno de um familiar. Paulo Piçarra Bernardino, Fernando Laranjo Brasinha e Fernando Geraldes Brasinha utilizam madeira de castanheiro para as massetas dos bombos e de freixo para a das caixas, por ser uma madeira mais leve e resistente. António Estêvão só utiliza madeira de castanheiro. Álvaro Gonçalves tem preferência pela madeira de freixo, por não partir tão facilmente. Para os bombos são fabricadas massetas com cerca de 30 cms. de comprimento. A extremidade que constitui a cabeça é feita com uma “bola” de cortiça que é encaixada no cabo de madeira, depois de ter sido furada. Para finalizar é forrada a pele de cabra. É esta parte da “cabeça” que irá percutir na pele do bombo. No lado oposto, ou seja, na extremidade do cabo, é furado um orifício, onde corre uma tira de couro que servirá para envolver o punho do tocador a fim de se não soltar durante o toque do instrumento.
    Para as caixas, as massetas ou baquetas são constituídas só em madeira. Com cerca de 40 cm de comprimento, a sua superfície de percussão é constituída por uma secção elíptica maior que o cabo da peça.
    Em Lavacolhos, os bombos são tangidos nas duas membranas, razão pela qual as massetas levam denominações diferentes: a maçaneta que bate a pele do lado direito é a “batedeira”, ao passo que a do lado oposto leva o nome de “berdoeira”. Esta última designação corresponde a um paralelismo com o nome da pele que nas caixas leva o referido bordão – e daí berdoeira.
    Na verdade, os tocadores de Lavacolhos apresentam a singularidade de tangerem os bombos dos dois lados da pele, atingindo assim interpretações com mais riqueza rítmica. Ao batimento da mão esquerda chamam eles o “dobrar o toque”.
    As baquetas das caixas são constituídas por madeira e têm cerca de 40 cms. de comprimento. A extremidade percussora é mais volumosa e arredondada, com a forma elíptica. Não levam qualquer forro ou cobertura. Esse topo de madeira mais volumoso bate diretamente na pele.
    Como remate da construção, poderá o artesão pintar o fuste (tambor) e os arcos exteriores, geralmente de cores garridas, ao seu gosto ou ao dos clientes.
    Pormenorizemos agora algumas circunstâncias concretas da construção de bombos e caixas, que tivemos a oportunidade de acompanhar em conversas, entrevistas semiabertas e semidireccionadas e demonstrações efetuadas pelos construtores de bombos para esta candidatura e para a obra de José Alberto Sardinha Fundão – memória, tradição e música, ed. Câmara Municipal do Fundão (no prelo):
    Segundo Américo Simão (que herdou a aprendizagem do seu avô), de Lavacolhos, os bombos devem ser feitos de pele de cabra, porquanto, segundo alguns construtores e tocadores, não pode ser de chibo. É de silva o aro em que são envolvidas e cozidas as pontas das peles. Para tanto, essas varas de silva são desbastadas dos picos e vergadas em verde. A pele é cosida a este aro de silva, cortada e ajustada nos dois topos do tambor, com o pêlo para fora. O tambor, em chapa metálica, é cortado e formatado pelo artesão. As pontas são soldadas.
    Depois, fica entalada no fuste a pele pelos arcos de madeira, que são ripas de castanho que se colocam a encimar exteriormente os topos do tambor. É nestes arcos que são por fim colocados os ganchos de metal, por onde é laçada a corda ao longo da superfície do tambor, diagonalmente, a qual acaba por fixar todo o conjunto.
    Estes arcos exteriores são de madeira de castanho. Esta madeira é comprada em ripas já cortadas. Põem-se as ripas de molho e são aquecidas para serem vergadas em redondo. A chapa que constitui o tambor leva um buraco, a que se dá o nome de ouvido, porque “serve para fazer sair o som”. O veio da pele deve ficar orientado em direção ao ouvido e à união do fuste.
    Natalino Alves Rosário Alves (nascido em 1941, recentemente falecido), que também era de Lavacolhos, tinha um processo de construção semelhante. Ele começou a construir bombos depois de se reformar de serralheiro mecânico, para oferecer um ao neto. Utiliza fustes de chapa zincada. Ele cortava, dava forma ao fuste, soldava as pontas para ficar com a forma requerida. No final fazia o “ouvido” e pintava o tambor.
    Utiliza exclusivamente pele de cabra. Para ele, quanto mais magra fosse a pele, melhor som ela produzia. O aro é em silva, ao qual são retirados os picos e formatados em redondo e as pontas presas com arame. A pele de cabra, depois de estar submersa em água, é colocada estendida com o aro de silva por cima; a pele é então cortada à medida e cozida. O pêlo da pele é cortado e a pele é deixada secar encaixada no fuste. Os arcos, em madeira de castanheiro, são comprados já com as medidas e espessura requeridas numa serração, são dobrados em círculo, com a ajuda de calor, depois de terem ficado submersos em água.
    Depois de secarem as peles, são colocados os arcos que fazem encaixar as peles e os aros no fuste com o auxílio de grampos. Posteriormente são colocados os ganchos de metal e apertados com corda de sisal.
    Em Silvares, o processo utilizado por Paulo Bernardino (nascido em 1936) é idêntico. Os aros em que são envolvidas as peles são feitos de silvas. Cortadas as silvas no campo, as mesmas são desbastadas e vergadas em redondo, a fazer um círculo, e cosidas as pontas com fio de algodão. Depois, coloca uma pele de cabra molhada em cima de uma mesa, corta-a em redondo à medida do arco de silva e coze-a a este com o mesmo fio de algodão. O tambor é de folha de zinco, que é comprada (outrora bidões). Como foi serrador de profissão, vai a uma serração escolher a madeira, compra umas fitas de madeira de castanho, mais finas ou mais grossas conforme se quiser dar mais resistência ao bombo. Com muito cuidado e com a ajuda da mulher, dobra estas ripas de madeira até fazer o redondo, unindo as pontas com pregos.
    Depois, coloca as peles (previamente cosidas aos aros de silva), nos dois topos do tambor e encaixa-lhe o arco de madeira para segurar a pele. Mete-se as dobras da pele para dentro. Por fim, coloca grampos de ferro ao longo do redondo do arco de madeira e corre-lhe uma corda para apertar. O bombo está pronto, só faltando pô-lo ao sol para a pele secar.
    Também de Silvares, Álvaro Pires Gonçalves (de 68 anos) constrói de uma forma em tudo semelhante a Paulo Bernardino. Primeiro é feito o fuste, em folha de zinco. Para os aros utiliza pernadas de silva, que são desbastadas, dobradas em círculo e as pontas unidas com pedaço de arame. As peles de cabra, depois de molhadas, são colocadas por cima do aro, cortadas e cosidas neste. Os arcos, em madeira de castanheiro, são comprados numa serração com o comprimento e espessura requeridas. As ripas desta madeira são submersas em água e, depois de maleáveis, são formatadas à medida em forma circular. Neste passo pode ser utilizado fogo para a madeira ficar mais maleável. As pontas dos arcos são presas com arame. O pêlo das peles de cabra é cortado com uma tesoura.
    Os aros com as peles são encaixados nas duas faces do tambor e presos com os arcos. Depois são colocados nos arcos os grampos e é colocada a corda para apertar o instrumento.
    Fernando Laranja Brasinha (nascido em 1941), de Silvares, utiliza um processo de construção do instrumento em tudo semelhante aos anteriores
    . Como foi serralheiro de profissão, tem facilidade em construir o fuste. Cortava e dobra a chapa com o recurso a uma fieira e a uma calandra. As pontas da chapa são soldadas para obter o formato correto e abre um pequeno furo no fuste.
    Para os aros utiliza silva que corta no campo. As pernadas são limpas, formatadas em formato circular e as suas pontas presas com fio. Depois de secas, é-lhes cosida pele de cabra molhada. A pele de cabra, já cosida no arco, é colocada a secar encaixada no fuste. Depois de seca, o pêlo da pele é cortado.
    Os arcos, em madeira de castanheiro, são adquiridos numa serração com as medidas pedidas. Eles são submersos em água e dobrados em forma redonda, com a ajuda de um molde. Se necessário, é dado calor à madeira para ela dobrar mais facilmente. Os arcos são presos a um molde com o recurso a ganchos metálicos e as suas pontas são presas com arame.
    Sobre as peles de cabra, encaixadas nos dois topos do tambor, com o pêlo para fora, são colocados os arcos. A estes, já encaixados no fuste, são ajustados os grampos, onde vão correr as cordas que prendem e afinam o instrumento.
    Fernando Geraldes Brasinha, de Aldeia Nova do Cabo com 49 anos, constrói bombos da mesma forma que o seu pai, Fernando Laranja Brasinha (falamos no presente do indicativo não obstante ele ter informado ter abandonado a construção, como adiante será referido). Adquire o fuste já feito a latoeiros, um dos quais, João Baietas, do Castelejo (falecido), também construía bombos e caixas.
    Os aros para o bombo ou para a caixa são feitos com pernadas de silva recolhidas no campo. São-lhe retirados os picos, e depois dobradas em círculo, unidas as pontas e colocadas a secar.
    A pele, de cabra, é adquirida seca e colocada em água para ficar mais maleável. A pele é então esticada e colocada numa mesa com o aro por cima. A pele é cortada à medida e cozida ao arco.
    As peles são encaixadas no fuste e deixadas a secar. Depois de secas, o pêlo é cortado com uma tesoura.
    Os fustes são pintados com a cor indicada pelo cliente.
    Os arcos, de madeira de castanheiro, são comprados numa serração de acordo com as suas indicações. Eles são submersos em água para ficarem mais maleáveis. São dobrados manualmente com o recurso a um molde, onde a madeira fica presa. As pontas dos arcos são unidas com arame.
    Os arcos são então encaixados sobre as peles e os dois topos do tambor.
    São então colocados grampos no correr dos arcos e colocada corda nos grampos, que prendem e estabilizam o instrumento.
    António Joaquim Estêvão, de Alcaria e com 66 anos, constrói bombos de forma e com técnicas semelhantes às de Américo Simão. António aprendeu a construir bombos numa oficina de construção destes instrumentos, orientada por Américo Simão em Novembro de 2019. Entretanto reformado, António Estêvão dedica-se a construir bombos para oferecer a familiar e amigos.
    Domingos Afonso Atalaia Fernandes, também conhecido por “Inverno”, é do Alcaide e nasceu em 1937.
    Os materiais que utiliza na construção de bombos e caixas são diferentes dos já retratados.
    Domingos Fernandes constrói os fustes com metal proveniente de frigoríficos e de arca de congelação avariadas. Também utilizou bidões e comprou chapa de zinco.
    A chapa para o fuste é cortada de acordo com as medidas pretendidas para o instrumento. Ela é dobrada manualmente com o recurso a um molde e soldada para ficar com a forma redonda. É feito um pequeno furo no fuste. A chapa é pintada de acordo com as indicações dos clientes, mas há quem as queira com a cor que já têm.
    Para os aros, utiliza fitas de aparelho de ar condicionado por considerar que são mais fáceis de moldar. Também já utilizou barras de alumínio, silva, que por vezes tinha dificuldade em encontrar e em madeira de castanheiro, que adquiria a António Nunes, de Alcongosta. A pele utilizada é preferencialmente de cabra, pois a do animal macho tem um cheiro muito intenso.
    A pele é submersa em água de um dia para o outro para ficar maleável. Ela é estendida, cortada à medida e cosida nas fitas. As peles, já cosidas, são colocadas no fuste e, sobre estas, um arco de alumínio. São colocados uns grampos aos quais são presos uns “baraços” e a pele fica a secar.
    Depois de seca, o pêlo da pele é cortado, e são colocados os “baraços”. É então colocada a corda corrida nos grampos, apertada e o instrumento fica pronto a ser utilizado.
    No Salgueiro, Emílio Abrantes Figueira (73 anos) e João Faísca Barreiros (71 anos) utilizam na construção de bombos e caixas materiais diferentes aos já referidos. Eles começaram a construir bombos e caixas já reformados, por divertimento. Emílio Figueira constrói o fuste com o recurso a fórmica comprada numa serração. A fórmica é colocada em água e dobrada. As pontas são coladas, presas com grampos e coladas novamente. O fuste é reforçado por dentro com madeira colada. Utiliza pele de cabra ou de chibo. A de chibo cheira pior mas é mais resistente. A pele, depois de molhada é estendida e cosida a um arco de cabos de fios de eletricidade cujas pontas são soldadas depois de formatados em círculo. Os arcos que Emílio Figueira constrói são em negrilho porque lhe deram uma árvore. Os arcos são cortados à medida numa serração. Eles ficam submersos em água para ficarem maleáveis. São formatados em forma circular e as pontas unidas com arame. Os aros são então colocados no fuste e sobre estes é entalado o arco.
    São então colocados nos arcos os ganchos e é colocada a corda que mantém o instrumento montado. As peles ficam a secar e no final o pêlo é cortado.
    João Barreiros constrói bombos de forma semelhante aos outros construtores. O fuste para os bombos e caixas são em fórmica, embora já tivesse utilizado chapa.
    A fórmica é comprada à medida numa serração. Ela é submersa em água, é conformada em forma redonda e as suas pontas são unidas com o recurso a cola e a grampos.
    João Barreiros só utiliza pele de cabra que é comprada seca. A pele fica submersa em água e é posteriormente cosida ao aro, construído por “fios grossos” de eletricidade. Também já utilizou silva, mas prefere trabalhar com aqueles fios.
    As peles são esticadas, cortadas à medida e cosidas com fio de nylon.
    Os arcos são comprados com a medida requerida para o instrumento. Utilizou madeira de castanheiro e fórmica. A madeira é submersa em água para se tornar mais maleável, é conformado em círculo e as suas pontas são unidas com recurso a cola e a grampos. Os arcos são então colocados nos dois topos do tambor e sobre eles são encaixados os arcos. São então colocados ganchos nos arcos que vão ser repuxados por uma corda que os esticam e mantêm em tensão. A pele é deixada a secar e no final o pêlo é cortado.
    Em Alcongosta entrevistámos António Nunes dos Santos, nascido em 1936, cesteiro de profissão, muito conhecido nas feiras de artesanato que frequenta regularmente como artesão do concelho fundanense e representante da célebre arte da cestaria de Alcongosta, hoje em declínio. Alcongosta era terra de cesteiros afamados que se forneciam da sua matéria-prima nos castanheiros da Serra da Gardunha, como adiante se explicará. Percorriam as feiras de uma vasta área geográfica, para venderem o produto da sua artesania. Além de cestos, António Nunes dos santos também fabrica bombos, caixas e adufes.
    A pele dos bombos deve ser de cabra velha. Nunca de chibo, que cheira mal. António Nunes mergulha a pele em água durante uma noite, deitando-lhe um produto. No dia seguinte, escorre a água e coloca a pele em cima do tambor, enrolando as bordas da pele num aro, rectius uma vara de rebento de castanheiro. Não coze. Usa uma espécie de cola. Não gosta dos aros em silva porque, segundo diz, ganham bicho com o decurso do tempo.
    O tambor é feito de tabopan. Antigamente eram feitos de bidões velhos, cortados à medida. António Nunes dos Santos não optou pelas chapas de zinco agora muito utilizadas. Prefere o tabopan porque os bombos ficam mais leves e porque naquela altura era-lhe difícil arranjar tais chapas. Fez uma forma “para fazer o redondo” e foi aperfeiçoando a sua técnica de construção.
    Depois de enrolada a pele no aro das faces, superior e inferior, ou seja, os topos do tambor, coloca-lhes um outro arco, o arco de vista, que encaixa em cima da pele já presa e que fica seguro pelos grampos, os quais são logo repuxados por uma corda que fica a exercer a sua função de retesamento ao redor de todo o tambor. Este arco de fora também é de madeira de castanheiro, cortada em ripas.
    No interior do tambor coloca-se outro arco, igual ao do exterior, também de castanho, que fica preso com cola e pregos. Na face (circular) do tambor faz-se um pequeno orifício em redondo, um “respiradouro” que servirá por um lado para as peles respirarem e por outro para o ar sair quando as peles levam as pancadas do tocador – daí que também lhe chame ouvido. De contrário, as peles duram pouco.
    As ripas de madeira de castanho que servem para os arcos dos bombos são as mesmas que os cesteiros usam na sua arte. Resultam dos rebentos daquilo a que se chama “castaceira”: corta-se um castanheiro quase rente ao solo, ficando só o cepo. Deste cepo nascem rebentos que crescem em altura de cerca de dois metros e que são cortados de quatro em quatro anos. Essas varas são enterradas e vão-se tirando do solo à medida das necessidades. Depois, têm de ser mergulhadas em água durante dez dias e então são “lavradas” (cortadas e aplainadas) em cima da “mula”, tal como faz para os cestos. No final desta operação, se a vara, agora em ripa estreita, estiver muito grossa, é aberta e rasgada ao meio de alto a baixo, ficando então pronta a ser aplicada quer nos cestos quer nos bombos.
    Também a madeira de castanho prefere António Nunes dos Santos aplicar como fuste destes instrumentos, dizendo expressamente que era esse o material dos artefactos mais antigos. Aliás, ele enfrentou dificuldades em arranjar chapas de metal – e isso foi adjuvante para ele adotar a madeira, que tem de enrolar em redondo, técnica que foi aperfeiçoando com a experimentação.
    Deverá notar-se que o aro onde a pele é enrolada e cosida é redondo (de secção redonda), resultante de rebentos mais novos (e por isso mais finos) que não chegam a ser lavrados, ao passo que o aro exterior é uma ripa (lavrada nos termos acima descritos), que é dobrada, ou melhor, vergada até atingir a forma circular que permite seja aplicada em ambos os topos do tambor.
    A construção das caixas é, para todos os construtores, em tudo idêntica à dos bombos, exceto na altura do fuste, que é notoriamente mais curto, bem como no seu diâmetro, também mais pequeno (como, obviamente, as peles que aí se colocam). Daí que o som que delas se desprende não seja tão grave, tão troante e cavo, antes mais agudo e estrídulo. No mais, o método e os materiais de construção são os mesmos: os aros de silva, as peles de cabra, os arcos de castanho, os grampos, as cordas. O material de batimento é, nos dois casos, em madeira, mas a sua forma também é diferente: as mocas ou massetas dos bombos são mais curtas e, na ponta, mais volumosas, ao passo que as baquetas das caixas são mais finas e mais longas.
    Antigamente não se construíam bombos pequenos nem médios. Só bombos grandes e caixas. Ultimamente, porém, a procura de bombos determinou mais variedade, ou seja, a construção de bombos de dimensão média e até pequena. Os pequenos têm um diâmetro igual ao das caixas de rufo. As diferenças entre a caixa e este bombo pequeno residem no seguinte: naquela, a chapa de zinco, a que se chama tambor, é mais estreita, sendo, portanto, o fuste do bombo pequeno mais alto do que o da caixa; nas caixas, a pele não tem pêlo (cortam-se os pêlos: “o pêlo abafa o som”); e as baquetas são longas e finas, ao passo que a moca dos bombos pequenos é semelhante à dos grandes, salvaguardadas as respetivas proporções.
    Por outro lado, importará salientar o estudo organológico que constitui o livro sobre os Instrumentos Musicais Populares Portugueses, empreendido por Ernesto Veiga de Oliveira, a quem se fica a dever, em 1964, a primeira alusão à construção dos bombos e caixas no concelho do Fundão.
    Refere o saudoso etnólogo que “na região do Fundão o conjunto dos “bombos” ou Zés-Pereiras beirões, composto (...) de enormes bombos e caixas, a acompanhar o instrumento melódico (a flauta travessa). Estes bombos são famosos pelo seu brio nas festas locais, onde acompanham também cantares e danças; e são tão grandes que têm de ir apoiados sobre a coxa direita do tocador quando este caminha, e é em verdadeiros saltos que ele bate com as massetas, deixando as peles ensanguentadas”.
    Depois, referindo-se genericamente a outras regiões do país, onde incluído está o Fundão, descreve minuciosamente a construção do bombo: “as peles são enroladas, em molhado, em duas varas flexíveis, arqueadas em círculo – os arquilhos – que se ajustam aos bordos de cada topo do fuste; por vezes, para melhor as fixar, elas são cosidas depois de enroladas, com um fio que envolve o arquilho a toda a volta. Os arquilhos com as peles esticadas são mantidos em posição por meio de dois arcos – os arcos – pousados sobre cada um deles, que se seguram e firmam mutuamente, prendendo-se um ao outro pela corda (...) Os fustes – ou cascos – (...) há-os também de folha metálica. Para os arcos emprega-se qualquer madeira resistente e de veio corrido, castanho ou mimosa de preferência, que vergue no sentido desse veio”.
    Concretamente sobre os bombos beirões (entenda-se, do Fundão) assinala “um sistema original de aperto da corda, sem arrochos, em que a própria corda, em lugar de passar simplesmente de grampo a grampo, vai, na mesma passagem, duas vezes a cada um deles, formando engenhosamente, a meio da largura do casco, um só entrecruzamento corredio, que aperta e firma, conforme se pretende, as duas passagens anteriores”.
    Sobre a construção das caixas, refere por fim que “pela sua estrutura geral, peças constitutivas e sistema de fixação e graduação das peles, assemelham-se aos bombos, e mostram a mesma variedade de sistemas que estes; mas distinguem-se deles e caracterizam-se em especial pelas suas menores dimensões máximas, e sobretudo pela existência de um ou mais bordões sobre a pele inferior – a berdoeira. Esses bordões são geralmente de tripa e fixam-se a um registo que gradua a sua tensão”. Ernesto Veiga de Oliveira integrou um bombo e uma caixa e respetivas baquetas, oriundos de Lavacolhos, na coleção de instrumentos musicais que reuniu entre 1960-64, no âmbito do estudo de campo e do livro suprarreferido, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian, hoje à guarda do Museu de Etnologia. Ambos os instrumentos têm fuste de lata e pele de cabra. A caixa tem a particularidade de ostentar uma pequena placa de chapa soldada, com a inscrição: “S.P.L. ano – 1910”.

  • Manifestações associadas:
    a) - Os Grupos de Bombos A principal manifestação cultural associada à construção de bombos e caixas é, sem dúvida alguma, o fenómeno dos grupos musicais populares que estes instrumentos integram em conjunto com os pífaros, grupos esses que são hoje reconhecidos como representantes da tradição musical da Beira Baixa e predominantemente do concelho do Fundão, onde existem em maior número. Estes conjuntos instrumentais, com o seu reportório musical e as funções sociais que foram assumindo, elevaram-se à categoria de tradição musical mais característica e representativa do concelho do Fundão. Essas funções sóciomusicais foram, naturalmente, evoluindo com o passar dos tempos. Durante o séc. XX, o conjunto instrumental constituído por pífaro, bombos e caixa manteve-se no concelho do Fundão como protagonista das festividades populares, desde os simples bailes (com o pífaro interpretando a melodia das modas bailadas e com a marcação do ritmo a cargo de caixa e bombo), até às arruadas do Entrudo, do S. João, das “sortes” dos mancebos (no Fundão conhecidas por “número” – alusão ao sorteio de apuramento para o serviço militar) e das festas locais, passando pelas romarias, enfim, de todas as manifestações onde o som atroador dos bombos era componente imprescindível do arraial. Era fator marcante na vida das isoladas comunidades rurais de então a presença dos bombos e do seu ribombar durante o trajeto do povo de cada aldeia desde a localidade de origem até ao santuário venerado, de que se destaca a magna romaria a Santa Luzia, nas imediações do Castelejo, grande centro religioso de peregrinação anual, a 15 de Setembro, de todos os povos de toda esta vasta região da Cova da Beira – e mesmo para além dela. Nessa época, o povo deslocava-se a pé. À saída da aldeia, ressoavam os bombos no largo principal tocando a reunir, como sinal de ajuntamento para a partida. Depois, em cada povoação que atravessam, o conjunto instrumental voltava a tocar como anúncio da presença e passagem da peregrinação coletiva da sua aldeia em direção à romaria, símbolo também do orgulho dessa comunidade em cumprimento da sua devoção. Por fim, à chegada ao arraial da romaria, o grupo musical postava-se à cabeça do povo da sua terra e irrompia por entre as gentes em toque frenético e poderoso, até alcançar o largo fronteiro à capela, onde terminava a sua atuação em delírio e apoteose, sempre perante o aplauso vibrante da assistência. Os tempos mudaram. Por volta dos anos 1960/70, assistiu-se ao declínio das práticas musicais ligadas a estes conjuntos instrumentais, as quais estiveram à beira da extinção nos anos 80 e princípios dos 90. Depois, pelos finais do séc. XX gerou-se um movimento de renovação ou ressurgimento destes conjuntos instrumentais, com especial incidência nas aldeias do concelho do Fundão. O Fundão esteve na vanguarda deste movimento e pode disso orgulhar-se. Atualmente, o povo já se não desloca a pé às romarias. Por isso, as caminhadas em direção ao orago com os bombos à frente já caíram em desuso. Mantém-se, porém, a tradição da entrada triunfal dos bombos no arraial. O povo da aldeia faz-se transportar em reboques de trator engalanados com palmas e verduras. Na proximidade do santuário (o de Santa Luzia, caso mais frisante), as pessoas apeiam-se, formam cortejo com os bombos e, ao toque destes, penetram no arraial entre os aplausos da multidão que aí se aglomera. Atualmente, além das romarias, que são o seu grande centro de exibição e visibilidade, estes conjuntos instrumentais são agora especialmente convidados para a animação de rua em novos eventos que ultimamente têm vindo a ser organizados pelas freguesias tendo em vista celebrações gastronómicas ou outras, como por exemplo o Festival da castanha na Fatela, ou a iniciativa dos chocalhos em Alpedrinha, a Festa da Cereja em Alcongosta, ou a Semana Cultural Terras do Xisto no Castelejo. Os agrupamentos de bombos mantêm-se ativos também na animação dos arraiais das pequenas festas religiosas de cada localidade. O mesmo sucede na festividade do Espírito Santo, mas já não integrando as folias, tradição que de todo se obliterou, antes e tão somente como animação de rua. Graças ao referido movimento de renovação e reativação, existem hoje grupos de pífaros/bombos em todo o concelho do Fundão: Associação dos Bombos do Souto da Casa, Bombos do Rancho Folclórico da Cova da Beira, Grupo de Bombos Zabumbas de Alpedrinha, Grupo de Bombos da União de Freguesias do Fundão, Grupo de Bombos das Donas, Grupo de Bombos de Alcongosta, Grupo de Bombos de Lavacolhos, Grupos de Bombos do Castelejo, Grupo de Bombos do Rancho Folclórico das Cantarinhas do Telhado, Grupo de Bombos do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Souto da Casa, Grupo de Bombos do Rancho Folclórico de Silvares, Grupo de Bombos do Rancho Folclórico de Valverde, Grupo de Bombos dos Três Povos, Grupo de Bombos Liga dos Amigos do Alcaide, Grupo de Bombos Os Arrelia (Fatela) e o Grupo de Bombos Os Rebenta Peles da Barroca. E o povo de cada localidade continua a rever-se no seu grupo de bombos, a orgulhar-se dele e a encará-lo como seu representante simbólico. E porque estamos a falar de uma tradição profundamente enraizada na cultura popular fundanense, quer do ponto de vista histórico quer a nível da memória coletiva, estes conjuntos instrumentais continuam a desempenhar um papel, que aliás sempre desempenharam, de reforço da coesão social, de identidade e reconhecimento próprio de cada uma das comunidades de onde emanam. Este carácter identitário não vai sem uma dose de bairrismo e rivalidade entre os agrupamentos das várias aldeias. Esta emulação fica patente sobretudo nas sucessivas entradas desses grupos no arraial de Santa Luzia e na exibição triunfal de cada um deles no adro do santuário, competindo para se excederem entre si no ritmo e na força que imprimem ao toque dos bombos, para a apreciação e maravilha do povo que os rodeia. Mas não se fica por aí a emulação, antes se estende à reivindicação de qual dos agrupamentos é o mais antigo, ou qual a aldeia que tem bombos há mais tempo, entendendo-se aqui a antiguidade como sinónimo de supremacia, originalidade, importância e estatuto. Como adiante será referido, é impossível situar cronologicamente o surgimento desta tradição instrumental popular numa aldeia ou noutra. A despeito da inutilidade do exercício, a aldeia de Lavacolhos tem-se distinguido como detentora do título de precursora, de mais antiga praticante da tradição musical dos bombos. A obtenção de tal estatuto parece ficar a dever-se ao facto de ao bombos desta aldeia terem sido os escolhidos para representarem a música popular do Fundão em vários eventos de projeção nacional no princípio do séc. XX, pela mão dos dois mais importantes etnógrafos do concelho e da região, José Alves Monteiro e Jaime Lopes Dias. Também Ernesto Veiga de Oliveira, mais tarde, na primeira metade dos anos 1960, fez incidir o seu estudo organológico sobre o conjunto instrumental de Lavacolhos e foi daqui, como dito acima, que recolheu os exemplares de bombo e caixa que integraram a coleção nacional reunida no âmbito do trabalho de campo que esteve na base do seu livro Instrumentos Musicais Populares Portugueses. Também para tal veio a contribuir a tese em etnomusicologia Os bombos de Lavacolhos – aspetos rituais, da autoria de um filho da terra, Carlos Gravito, editado em 1997 pela Câmara Municipal do Fundão. E assim foi que, sob a égide e iniciativa desta Câmara Municipal, foi criada e instalada, na antiga escola primária, a chamada “Casa do Bombo”, idealizada como um espaço museológico dedicado a esse instrumento musical, à sua memória, à sua construção e à sua prática performativa. Reproduzimos as palavras da etnomusicóloga Karla Regina Bach de Andrade no seu artigo Processos de museologia e patrimonialização dos bombos de Lavacolhos - a Casa do Bombo de Lavacolhos: “A prática dos bombos de Lavacolhos tem sido alvo de políticas de preservação, musealização e reativação por parte do poder autárquico local. Tais políticas conduziram à criação da Casa do Bombo em 2009, um espaço museológico que possui em suas instalações painéis fotográficos com imagens dos tocadores e artesãos, etnógrafos e folcloristas que documentaram práticas em Lavacolhos, um pequeno acervo de instrumentos musicais construídos pelos artesãos da localidade, um local para demonstração do processo de construção dos bombos e caixas, além de uma sala multimédia onde o visitante tem a oportunidade de aprender a tocar a moda do bombo”. b) – Reportório Antes da generalização das bandas filarmónicas, ocorrida a partir de meados do séc. XIX, a animação de rua era assegurada pelo conjunto instrumental pífaros/bombos/caixa/pratos e/ou ferrinhos. Eram, verdadeiramente, a “música” (no sentido, corrente entre o povo, de grupo de instrumentos musicais) das comunidades mais pobres, que não tinham possibilidades para constituir, pagar e manter grupos musicais numerosos e dispendiosos, como eram notoriamente, em outros tempos, as bandas filarmónicas. Mas aqueles recebiam destas, rectius copiavam destas, grande parte do seu reportório, assim apresentando como núcleo central das suas exibições as marchas, passacalhes, passos-dobrados, contradanças, polcas e seus sucedâneos. Todo este reportório provinha da tradição oitocentista das tunas, das bandas militares e filarmónicas. Mas aqueles grupos de pífaros/bombos adotavam também temas musicais que, em geral, se encontravam momentaneamente em moda nos meios populares e que assim iam alimentando a corrente da tradicionalização. Entre estes, verificou-se a adoção do tema musical que veio, por circunstâncias provavelmente fortuitas, a ser erigido como o “hino” destes grupos, sob o título pomposo de “Moda dos bombos”. Esta não é, pois, senão uma das modas populares que corriam na tradição oral do povo do Fundão e que estes agrupamentos adotaram e celebrizaram. Genericamente, pois, o reportório é constituído por toadas alegres, por vezes oriundas de músicas coreográficas, a que o toque dos bombos confere vibração adicional, tudo consentâneo com as circunstâncias que estes agrupamentos costumam frequentar e animar. c) – Principais investigadores que divulgaram os grupos de bombos do Fundão O conjunto instrumental mais característico do povo da Beira Baixa e hoje preponderante no aro concelhio do Fundão é composto por pífaro, caixas e bombos – e, pela sua importância regional e singularidade, foi desde muito cedo referido e descrito por vários autores, e também objeto de estudo da etnomusicologia portuguesa. Para o conhecimento desta manifestação cultural foram determinantes os trabalhos de registo, recolha e divulgação de António José Salvado Mota, José Alves Monteiro, Jaime Lopes Dias, Armando Leça, Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando Lopes Graça e Michel Giacometti, José Alberto Sardinha e Carlos Gravito. A primeira notícia documentada sobre estes agrupamentos musicais do concelho do Fundão é-nos oferecida por António José Salvado Mota, na sua excelente Monografia d’Alpedrinha, ed. 1933, que referencia a sua presença nos princípios do séc. XX em várias circunstâncias: na festa religiosa local do Anjo da Guarda, no Entrudo e na celebração do acabamento da azeitona pelas ruas daquela vila. Em 1935 dá-se a primeira apresentação em palco de um grupo de bombos e pífaro do Fundão, o que ocorreu em Castelo Branco no II Espetáculo Regional da Beira Baixa. Foi o grupo de Lavacolhos o escolhido para este efeito por Jaime Lopes Dias, organizador do certame, que o celebrizou no livro A Beira Baixa ao microfone da Emissora nacional de Radiodifusão. Jurista de formação, Jaime Lopes Dias deixou vasta obra de pesquisa etnográfica sobre as tradições populares da Beira Baixa. Referindo-se à mencionada atuação em palco dos bombos de Lavacolhos, são dele as seguintes palavras: “O grupo, absolutamente regional, é composto por dois bombos, dois tambores ou caixas, ferrinhos e pífaros. É conhecido, apesar da sua constituição múltipla, pelo Bombo. É, por assim dizer, a “banda” local que vai a todos os arraiais e romarias à frente do seu povo, que o segue empunhando grandes varapaus para as possíveis, e quase certas, escaramuças entre povos vizinhos, saltando e tocando”. Lopes Dias presidiu também à comissão organizadora do Cortejo Folclórico de Lisboa, em 1937, importante acontecimento, à época, para a divulgação do reportório musical tradicional da Beira Baixa, onde estiveram presentes os Bombos de Lavacolhos e de Silvares. No dia seguinte a esse cortejo, estes mesmos grupos de bombos atuaram no Coliseu dos Recreios no Espetáculo Regional das Beiras. A participação dos bombos do Fundão foi assegurada sob a orientação do Dr. José Alves Monteiro, à altura o mais reputado etnógrafo do concelho do Fundão, profundo conhecedor das suas tradições populares. Advogado de profissão, fundador do Museu Arqueológico do Fundão, autor dos mais relevantes estudos e investigações sobre a etnografia fundanense, deixou nas suas notas pessoais referência a essa participação, com a descrição pormenorizada daqueles dois grupos de bombos, assim constituídos: “O Bombo de Silvares por três bombos, três caixas, dois pífaros e ferrinhos. O Bombo de Lavacolhos por cinco bombos, quatro caixas, quatro pífaros e ferrinhos”. Estas notas vieram a ser reunidas em livro em 1999 – Etnografia do Fundão – Costumes, Cantares e Tradições. Tanto José Monteiro como Jaime Lopes Dias colaboraram com Armando Leça no primeiro levantamento músico-popular realizado em Portugal no que respeita ao território da Beira Baixa. Armando Leça, compositor nacionalista, grande divulgador do cancioneiro tradicional português e figura pioneira da etnomusicologia em Portugal, foi encarregado pela Comissão Executiva dos Centenários de realizar um levantamento da nossa música popular, tarefa que veio a cumprir em 1939/40, donde resultaram registos sonoros importantíssimos, que se conservam na RDP, antiga Emissora Nacional, inéditos (na primeira metade da década de 1980, foram integralmente transmitidos no programa da RDP-2 Cancioneiro Popular, da autoria de José Alberto Sardinha). Tratou-se da primeira gravação nacional das manifestações musicais do povo português, obra da mais alta importância para a pesquisa etnomusicológica em Portugal. Dessa histórica compilação consta um registo sonoro dos bombos de Lavacolhos, que constitui a primeira gravação deste tipo de conjunto instrumental do concelho do Fundão. Fernando Lopes-Graça, considerado o maior compositor português do séc. XX, foi também um estudioso e conhecedor da nossa música tradicional, que muito influenciou a sua obra erudita. Realizou nas décadas de 1940 e 50 algumas prospeções de terreno no aro concelhio fundanense, em especial na aldeia de Silvares, sobre cujo folk-lore musical emitiu em 1947 a seguinte opinião: “Em Silvares predominam as tonalidades alegres e os ritmos de dança. A linha melódica é simples, nua, salvo numa que outra canção de romaria, como essa preciosa Santa Luzia, de um estranho melodismo oriental, sublinhado pelo troar dos enormes bombos, percutidos com uma verdadeira fúria, a ponto de as mãos dos tocadores ficarem dervichicamente sangrando, e tendo por complementos obrigatórios os tambores e o pífaro”. – Apontamento sobre a canção popular da Beira Baixa, in Obras Literárias, vol. 8, p. 193. Na primeira metade da década de 1960, Ernesto Veiga de Oliveira e Benjamim Pereira realizaram um levantamento nacional dos instrumentos musicais populares através de um notável trabalho de campo, de que veio a resultar um livro de referência sobre essa matéria, editado em 1966 pela Fundação Calouste Gulbenkian, que aliás patrocinou toda a investigação. Nesse livro, Instrumentos Musicais Populares Portugueses, os conjuntos instrumentais de bombos e pífaros do concelho do Fundão mereceram lugar de destaque e a sua construção foi pormenorizadamente descrita pela primeira vez, como já fizemos alusão acima. Michel Giacometti, coletor de música tradicional que seguiu as pistas já anteriormente trilhadas no terreno por Armando Leça, deu a público em 1970, na coleção intitulada Antologia da Música Regional Portuguesa, um registo sonoro dos Bombos do Souto da Casa gravado uma ano antes; e na série televisiva “O povo que canta”, realizada para a RTP no princípio da década de 1970, divulgou os bombos de Lavacolhos e do Souto da Casa em despique de toques. Em 1996, José Alberto Sardinha gravou o grupo de bombos e pífaro do Souto da Casa, de que veio a publicar apenas um registo sonoro, um ano depois, na coletânea nacional intitulada Portugal – raízes musicais. Em 1997 a Câmara Municipal do Fundão editou a tese de etnomusicologia “Os bombos de Lavacolhos – aspectos rituais”, da autoria de Carlos Gravito, natural dessa aldeia, que veio dar um contributo importante para a divulgação desta manifestação popular junto das gerações mais novas e assim contribuir para a sua reativação.
  • Contexto transmissão:
    Estado de transmissão activo
    Descrição: Aprendizagem não formal. Aprendizagem oral e mediante observação do aprendiz. A transmissão das técnicas e metodologias associadas à construção de bombos e caixas tem sido exclusivamente masculina. Frequentemente, a arte de construção é transmitida de pais para filhos, numa linha própria destas pequenas empresas de dimensão artesanal e familiar, fenómeno que vem rareando em virtude de as novas gerações não se mostrarem inclinadas a abraçar esta atividade artesanal.
    Sem embargo, é livre o acesso à aprendizagem, ou seja, qualquer pessoa pode aprender a construir bombos e caixas. Os conhecimentos associados à construção de caixas e bombos são detidos por homens e são transmitidos de geração em geração, por autoaprendizagem. Frequentemente são praticados por alguns dos tocadores que integram os grupos de bombos.
    Por exemplo:
    Paulo Piçarra Bernardino e Álvaro Pires Gonçalves, ambos de Silvares, aprenderam com Manuel Barroca, sogro do primeiro.
    A aprendizagem da construção e do toque de bombos por parte de Álvaro Pires Gonçalves ocorreu no contexto da principal festa religiosa de Silvares, a Santa Luzia, onde a presença dos bombos é marcante. Nesta romaria, o Grupo de Bombos do Rancho Foclórico de Silvares costuma ser o primeiro a entrar no arraial. Conta que aprendeu a construir os instrumentos em meados da década de 70 do século passado, porque “queria fazer parte da mordomia desta festa e o senhor que os fazia (...) também era mordomo. E como era frequente os bombos rebentarem as peles com a fúria dos toques, “tínhamos que preparar os bombos para a festa e um dia antes tínhamos que os ir preparar”.
    Teve, por isso, uma aprendizagem experiencial, não formal e ativa: “comecei a ver como se fazia, mais o filho dele, e comecei-me a dedicar àquilo, porque aquilo não é coisa de ciência”.
    Depois, Álvaro Pires Gonçalves ensinou o seu filho mais velho a construir bombos através de ensino não formal e experiencial, já que ele o ajudava a construir os instrumentos. Conta que Paulo Jorge “já lhe sabe dar um jeito” mas este mostrou que não tinha qualquer interesse em exercer os ensinamentos recebidos de seu pai, referentes à construção de membranofones. Assim se demonstra a indiferença das novas gerações pela construção artesanal dos bombos e caixas – e daí a salvaguarda deste património tradicional.
    Paulo Piçarra Bernardino, de Silvares, conta que o seu sogro tinha à sua guarda os bombos porque “era amigo da igreja”. Refere que faz bombos há cerca de cinquenta anos e que aprendeu sozinho vendo o seu sogro a fabricá-los, provavelmente por não considerar o ensino não formal e informal como um tipo de educação. Conta que também o seu sogro havia aprendido sozinho. Relata que este seu sogro construía bombos para a festa de Santa Luzia, da qual era mordomo. “Lá via como se fazia” e depressa melhorou quanto à qualidade dos instrumentos manufaturados, que começou “a ajeitar e comecei a fazer bombos para todo o lado. Já fiz para a América, para a Suíça, para a França, já fiz bombos para Lisboa, para todo o lado tenho feito...”
    Para ele, os bombos, as caixas e as massetas têm que ser “à mão”, pois “a tradição em todo o Portugal não é feita com caixas lindas com cabedais e meter baraços, isso não, que isso não pertence ao folclore”. Segundo ele, as caixas e bombos têm de ser provenientes dos artesãos, “têm de ser feitas assim à mão, não é como esses gajos que tocam os bombos com umas mocas de pau que vão ao torno. Isso não presta...”.
    Este artesão transmitiu a um dos seus filhos os conhecimentos necessários para construir instrumentos com alguma qualidade e que o ajuda esporadicamente a construir os instrumentos: “Já começa a fazer... Agarra-se àquilo…”, mas não pratica nem desenvolve os seus conhecimentos. ...”. Paulo Bernardino constrói bombos e caixas por encomenda.
    Fernando Laranjo Brasinha, de Silvares, aprendeu a construir por si próprio. Tinha facilidade em trabalhar a chapa. Começou a construir bombos “com trinta e tal anos ou 40. Já era serralheiro profissional nas oficinas”. Os primeiros bombos que construiu foram para o seu filho e para o filho de um amigo. Daí para cá, construiu “Só para o rancho, ou o rancho do Ourondo”. “Só por amizades”. Para ele, “o bombo típico da cova da beira é isto: com os arcos em madeira, com as cordas em estria como deve ser. (…) porque os bombos da Cova da Beira só existiam para isto: para o toque a caminho das romarias. O resto é adaptar”.
    Fernando Geraldes Brasinha, de Aldeia Nova do Cabo, informa que aprendeu a construir sozinho, embora com “com algumas instruções da parte do meu pai” (Fernando Laranja Brasinha). “Com ferramentas...com técnicas que desenvolvemos para que o profissionalismo fosse melhor. Qualquer pessoa fazia e tinha. Substituição de arcos de tambores o mesmo. Também substituí alguns. O que não tinha encomendava ao latoeiro. Não tenho fieira para fazer isto. Não tenho calandra para os enrolar.” Carteiro de profissão, a construção de bombos era um complemento à economia familiar mas deixou de construir “porque o artesanato requer um certo trabalho. (…) É um trabalho feito em vão e depois deixei de me dedicar mesmo porque mesmo os grupos deixaram de ter reparações, deixaram de entregar para reparações (...) optei mesmo por deixar”.
    Domingos Afonso Atalaia Fernandes, de Alcaide, aprendeu a construir bombos sozinho. Começou a construir para o grupo de bombos do Alcaide (ao qual pertencia como pifareiro) “por causa das crianças”. Recorda ainda que “há uns 30 anos mais ou menos. Havia um rapaz que era de Nisa (…) E depois queriam bombos (…). Daí é que fiz logo uns 10 ou coisa assim.” Ao início era ajudado por um amigo: “Só ao princípio só quando era cá no Alcaide (…) Mais ninguém me ajudou”. Há cerca de 20 anos, foi assaltado “e levaram-me as ferramentas todas. Fiquei sem ferramenta nenhuma. (...). Mas já não fazia nenhuns, era só para pôr as peles”. Não ensinou os seus saberes a ninguém, “Nem os meus filhos gostavam disto”. Devido à idade, Domingos Fernandes já não constrói bombos e caixas.
    João Faísca e Emílio Figueira, ambos do Salgueiro, começaram a construir juntos, depois de reformados, por brincadeira. João aprendeu “a ver, e aprendi assim a fazer, e vi o Ti Zé dos Santos a desmontar e a montar (…). Vi a desmontar e a arranjar e aprendi e comecei a fazer”. Não ensinou ninguém a construir porque “ninguém quer aprender”.
    Por motivos de saúde já não constrói bombos.
    Emílio Figueira aprendeu por ele próprio e com esclarecimentos de Américo Simão, de Lavacolhos. Não chegou a vender tudo o que construiu. Se tivesse encomendas, continuaria a construir. Não ensinou ninguém porque “nunca ninguém quis saber, nunca ninguém procurou, apenas vêm ver por curiosidade”.
    António Nunes dos Santos, de Alcongosta, aprendeu a construir bombos e caixas por necessidade. Construtor de cestaria e cabazes para fruta, teve de dar outro rumo ao seu ofício quando estas peças foram substituídas por peças em madeira e em plástico. Começou, por isso, a orientar a sua atividade artesanal preponderantemente para a construção de caixas e bombos, o que ocorreu há mais de cinquenta anos.
    Aprendeu a construir bombos sozinho e foi aperfeiçoando a forma de os construir. A sua primeira aproximação à construção de bombos e de caixas foi quando “um dia veio aí um grupo e rebentaram a pele de um bombo...” Procuraram-no para consertar o instrumento e esse foi o passo inicial para se tornar um construtor desses instrumentos.
    A sua técnica de construção de bombos e caixas tem diversos segredos, nomeadamente na preparação das peles e na construção do fuste. Apenas aceitará revelar esses segredos ao seu filho, se ele prosseguir os seus saberes na manufatura desses instrumentos: “(...) a não ser que o meu filho... mas não... ele não liga nada a isto...”. Devido à idade e a ter instrumentos em armazém, este artesão só construirá por encomenda.
    Américo Simão, de Lavacolhos, é o mais novo dos artesãos construtores de bombos e caixas do concelho do Fundão. Integra o grupo de bombos local, de que é um dos principais entusiastas. Aprendeu com o seu avô, lembrando-se que teve a noção de que a tradição de se fabricarem bombos e caixas em Lavacolhos se poderia perder: “Comecei a entrar juntamente com o meu avô e via que o meu avô estava-se a abaixar ... Estava cada vez pior (...) Porque então a tradição perde-se (..) Tenho que agarrar-lhe e com um mestre ao meu lado...”
    Desde os ensinamentos de seu avô aperfeiçoou a sua técnica de construção, pois “muitas coisas já tirei eu...” Por exemplo, o seu avô utilizava qualquer tipo de corda para apertar os bombos e as peles, nomeadamente de nylon. Quanto ao fuste: “...o meu avô não sabia fazer a parte da chapa(...) e agora a parte da chapa já sou eu que a faço”. A sua aprendizagem foi não-formal e foi incentivada pelo seu avô, o conhecido Tio Pedro. “Quando eu ia casa dele, ele dizia-me: olha, vens cá hoje, vens cá amanhã?”, já que necessitava da sua ajuda para construir bombos, caixas e macetas. “Já tinha tudo selecionado para eu, quando chegava... porque ele estava a ficar com menos... fraqueza...”
    Inquirido sobre a falta de jovens na construção de bombos e caixas, refere que “deve ser por ser um trabalho manual”, que apenas serve para complementar a economia familiar e pelo facto de se ter de trabalhar com peles molhadas: “(...) a gente a trabalhar com ela (...) muitas vezes não há ninguém que queira aprender porque a pele quando está molhada... Há muitas pessoas que têm nojo de pegar na pele...”.Américo Simão é o construtores de bombos do concelho com mais atividade.
    António Joaquim Estevão, de Alcaria, é o mais recente construtor de bombos. Aprendeu a construção de bombos e caixas numa oficina de formação, ministrada por Américo Simão, na Casa do Bombo, em Novembro de 2019. Entretanto reformado, António Estevão constrói bombos sem intuito comercial, mas para oferecer a familiares e amigos.
    Natalino Alves, de Lavacolhos, falecido em Março de 2021, começou a construir bombos já reformado por causa do neto, ao qual queria oferecer um bombo. Aprendeu por ele próprio e por observação de Joaquim Brito Simão. Foi este Joaquim, aliás, que lhe arranjou os primeiros arcos de madeira e lhe deu indicações para a formatação do arco: “Os aros dispensou-me a madeira o homem. E eu pensava que partisse algum. Aquilo parte. É preciso saber trabalhar. Ele até me disse assim... Ele explicou-me.”.
    Os primeiros fustes comprou-os a João Baietas, do Castelejo, antigo latoeiro e também construtor de bombos e caixas. Como tinha sido serralheiro, Natalino Alves não demorou até começar também a fazer os fustes. A construção de bombos torna-se um complemento à economia familiar e perdeu o conto ao número de instrumentos que construiu. Não ensinou a construir bombos a ninguém: “Quem é que quer? Ninguém quer…”

    Data: 2021/01/31
    Modo de transmissão oral
    Idioma(s): Português
    Agente(s) de transmissão: Artesãos detentores do conhecimento das técnicas de construção de bombos e caixas.
  • Origem / Historial:
    Não é possível fixar datação ou cronologia da prática de construção de bombos e caixas no concelho do Fundão.
    Tratam-se de instrumentos primitivos, construídos com os materiais que a Natureza põe ao dispor do Homem: peles, madeiras, cordas. É longínqua no tempo a aptidão e o gosto da Humanidade para tanger peles e assim produzir som e, consequentemente, de construir instrumentos para esse efeito. Nas sociedades primitivas, o som do batimento de peles retesadas potenciado por caixas de ressonância era muito utilizado em cerimoniais religiosos, em preparativos para a guerra e nas danças rituais em geral. As recolhas musicais entre povos primitivos em vários continentes são demonstrativas a este respeito.
    Em todos os tempos e em todas as civilizações a componente percutiva dos conjuntos musicais desempenhou sempre papel de relevo, sobretudo nas paradas e desfiles militares. No que à Europa concerne, as práticas conhecidas do Império Romano são também ilustrativas.
    Depois, na Idade Média, por toda a Europa é conhecida a presença de conjuntos musicais associando instrumentos percutivos (tambores, caixas de rufo) com outros de natureza melódica, como charamelas, soadas de trombetas, sacabuxas, flautas, gaitas-de-foles. Tocavam em ocasiões solenes, desde a divulgação das ordens do rei e da Justiça anunciando o arauto na praça pública, até aos bailes populares, passando por cerimónias e festas oficiais, ou simples cortejos públicos de variada natureza. Serviam também para realçar a pompa das festas e cerimónias da alta sociedade: casamentos da nobreza, entradas solenes dos grandes senhores e ocasiões públicas, como justas e torneios de cavaleiros. Eram verdadeiros prestadores de serviços musicais.
    O aparecimento do conjunto instrumental fifre/tambour (pífaro e tambor, este certamente de média ou grande dimensão) está documentado em França desde o séc. XV.
    No séc. XVIII, o conjunto evoluiu para pífaro, caixa e bombo, e o seu reportório era constituído por música militar e danças populares, as quais foram evoluindo consoante as épocas e as modas.
    Este tipo de conjunto instrumental, além de servir nas cerimónias oficiais, também participava em muitas outras circunstâncias e funções: missas solenes, como a do Espírito Santo, de S. Luís, procissões, Festa do Corpo de Deus, S. João, festas populares, bailes. A nível de festas e manifestações populares manteve-se até cerca de 1950, como animador de bailes, festas e cortejos, como os das sortes dos mancebos (no Fundão conhecido por “número”, alusão ao sorteio de apuramento para o serviço militar – e, por isso, conhecido como as “sortes” noutras regiões do país), arruadas do entrudo e das romarias, ou no final dos trabalhos para agradecer ao patrão, ou uma manifestação de parabéns a alguém importante na terra.
    Quando o conjunto instrumental pífaro, caixa e bombo se dirigia às romarias, era naturalmente reforçada a componente percutiva, para fazer mais alarido e anunciar a chegada ao arraial do rancho de cada terra.
    A associação do pífaro aos bombos e caixas, a sua difusão e importância sóciomusical constituíram um fenómeno de grande força e expressão em toda a Beira Interior e hoje sobretudo no concelho do Fundão. As recolhas e informações de campo revelam a sua pretérita presença em aldeias dos concelhos de Penamacor, Covilhã (Barco, Paúl), Castelo Branco (Paradanta, Almaceda, Cafede e Casal da Fraga, S. Vicente), Trancoso (Venda do Cepo), para além de inúmeras povoações do aro concelhio fundanense.
    Depois do declínio desta tradição musical, verificado nos anos 1970 e 80, o seu ressurgimento, pelo final do século, teve como núcleo central o concelho do Fundão. É no seu aro concelhio que têm sede e se movimentam os continuadores destes conjuntos instrumentais populares.
    Daí a importância da inventariação e salvaguarda deste património, por iniciativa da autarquia fundanense.
    A prática musical destes conjuntos instrumentais foi necessariamente acompanhada pela construção de bombos e caixas ao longo dos séculos, da qual não recebemos porém notícia histórica. Ela é, contudo, inquestionável, pois a construção é uma prática indispensável para a existência dos próprios instrumentos.
    E naqueles tempos de difícil mobilidade, evidente se torna que os construtores estavam sedeados nas mesmas localidades, ou vizinhas, dos grupos de bombos, como aliás resulta dos depoimentos orais recolhidos, cuja memória remonta aos princípios do séc. XX. Note-se por um lado que o nosso contacto com a realidade destes grupos instrumentais começa nos anos 1970/80; e, por outro, cite-se o caso do avô do atual construtor de Lavacolhos, Américo Simão, de seu nome Joaquim Brito Simão, cuja atividade construtiva se reporta, pelo testemunho do neto, a meados e final do séc. XX.
    De Lavacolhos, anterior a Joaquim Brito Simão, havia o construtor Joaquim Pedro. Este construtor é referido por Américo Simão (“em primeiro ainda eu não era nascido era o Ti Pedro, depois do Ti Pedro foi o meu avô.”), por António Nunes (“Ti Pedro de Lavacolhos”) e por Fernando Laranja Brasinha (“Ti Pedro em Lavacolhos”). Ainda em Lavacolhos, Joaquim Brito Simão e Américo Simão são nomes sobejamente conhecidos pelos outros construtores. A título de exemplo, António Nunes, de Alcongosta, refere que construtores de bombos (…) "era o Ti Pedro e eu" (…) e Paulo Bernardino, de Silvares, afirma que (…)“quem fazia o melhor bombo ali em Lavacolhos era o avô do Américo, o Joaquim Simões” (…).
    Ainda em Lavacolhos, o nome do construtor de bombos Natalino Alves, recentemente falecido (Março de 2021) é referido por Américo Simão, por António Nunes e por Paulo Bernardino.
    Em Silvares, o nome do construtor de bombos mais antigo referido é Manuel Barroca, recordado pelo seu genro Paulo Bernardino e por Álvaro Gonçalves, ambos de Silvares.
    Paulo Bernardino afirma que, nos anos 70 do século XX, para a Festa de Santa Luzia de Silvares (…) “o meu sogro é que começava a fazer os bombos para a festa. Era mordomo” (…). Já Álvaro Gonçalves (…) “queria fazer parte da mordomia desta festa e era ele que os fazia (…) também era mordomo e sabe que às vezes as peles dos bombos rebentavam… e tínhamos que preparar os bombos para a festa e um dia antes tínhamos que os ir preparar” (…). Na atualidade, Paulo Bernardino é um nome muito conhecido pelos outros construtores de bombos. Fernando Laranjo Brasinha é referido por Álvaro Gonçalves, por Américo Simão, e pelo seu filho Fernando Geraldes Brasinha. Álvaro Gonçalves não é referido por nenhum. António Nunes, de Alcongosta, também é um nome bastante conhecido pelos outros construtores de bombos, tanto pela sua faceta de construtor e de cesteiro. Domingos Fernandes Inverno, do Alcaide, por exemplo, chegou a comprar-lhe arcos em madeira de castanheiro.
    Por outro lado, o nome deste Domingos Fernandes não é referido por ninguém.
    No Salgueiro, Emílio Figueira e João Barreiros recordam José dos Santos, conhecido por Ti Zé dos Bombos, entrevistado em 2006 por José Alberto Sardinha – v. fotografias. Em entrevista ao Jornal do Fundão, em Agosto de 2007, José dos Santos, pastor e artesão, refere que “Gostaria que alguém da minha família continuasse com esta arte. Mas ninguém quer saber disso. Já ensinei uma rapaziada cá no Salgueiro e um deles acabou por aprender e até os faz.” Em 2008, o município edita catálogo de uma exposição decorrida no Núcleo Museológico do Salgueiro “O pastor e artesão José dos Santos | matérias sonoras”, onde está patente a relevância deste artesão e construtor de bombos na sua comunidade: “A partir de determinado momento da sua vida, estas produções começaram a preencher os tempos não no campo, mas os passados numa pequena oficina que construiu nas traseiras da sua casa. (...) Aí também preparava as peles dos grandes membranofones que também fazia. Durante anos, no Salgueiro, foi conhecido pelo Ti Zé dos Bombos e a qualidade e a fama sonora dos instrumentos por si construídos, ultrapassara a casa e deram fama â terra.
    Um dos nomes mais frequentemente referido foi o de João Baietas (falecido) do Castelejo, a quem, como já foi referido, alguns dos construtores recorriam para comprarem fustes, como Paulo Bernardino, de Silvares (“quem me começou a fazer as armações foi o Joaquim Baietas”), Natalino Alves, de Lavacolhos, Joaquim Simão (o referido avô de Américo Simão, de Lavacolhos) ou Fernando Geraldes Brasinha.
    Outros nomes foram sendo recolhidos nas entrevistas e por informação oral como Joaquim Lobato (falecido) e Vergílio Manaia (não o conseguimos identificar) do Souto da Casa; da Barroca José Mota (falecido) e o “Charlot” (que, segundo Paulo Bernardino, mudou-se para o “Norte”).
    Mas, para Fernando Laranjo Brasinha, de Silvares, os bombos “eram feitos por alguém…era por quem se ajeitasse”. Porque, como afirmou o seu filho, “(…) construir um bombo não é difícil. Basta ter um bocadito de arte e manha." Ao esboçarmos a resenha histórica dos conjuntos instrumentais pífaros/bombos estamos também, necessariamente, a dar notícia de que, paralelamente, existia uma atividade de fabrico, naturalmente artesanal, desses instrumentos. Não nos é, porém, possível datar as primeiras manifestações dessa prática construtiva no concelho do Fundão, naturalmente porque a atividade artesanal de construção dos instrumentos é mais modesta, tem menos visibilidade do que a exibição pública do toque dos bombos e nunca beneficiou, por isso, de referências passadas da parte daqueles que escreveram sobre estes agrupamentos musicais.
    O que podemos e devemos fazer nesta seara é situar cronologicamente as primeiras notícias históricas da presença dos ditos agrupamentos musicais no aro concelhio do Fundão, as quais se reportam a Alpedrinha do início do séc. XX, sabendo que essa presença corresponde necessariamente, como referido, à presença simultânea de construtores dos respectivos instrumentos, os bombos e as caixas.
    Essas primeiras notícias são-nos oferecidas por António José Salvado Mota, nas sua excelente Monografia d’Alpedrinha, ed. 1933, onde constam referências importantes, a saber:
    - a presença de “Zés Pereiras” (sic) no arraial da festa do Anjo da Guarda, no terceiro domingo de Julho, ao longo da tarde;
    - a referência ao fecho ou acabamento da azeitona: “É costume no último dia da colheita dar as filhozes à camarada; consistem estas numa jantarada, que acaba quase sempre em grande bebedeira que dura toda a noite, percorrendo a camarada as ruas da vila, às vezes com toques de pífaros, tambor, bombo e pratos, fazendo uma algazarra infernal e dando vivas ao patrão” – p. 443.
    - a lamentação de que, no Entrudo, “já nem o grupo do Farinha percorre as ruas tocando bombo, pratos, caixa e pífaro e explorando os transeuntes com as suas pedinchas” – p. 458.
    Depois...
    Foi o citado etnógrafo beirão Jaime Lopes Dias quem pela primeira vez trouxe junto de um público mais vasto o fenómeno dos bombos, apresentando aos microfones da Emissora Nacional um grupo de bombos oriundo de... Lavacolhos.
    Tratou-se de um espectáculo em palco, realizado em Castelo Branco a 21 de Novembro de 1935, com transmissão directa para os ouvintes da Emissora Nacional de Radiodifusão, integrado numa série que se convencionou chamar “espectáculos regionais” organizados pelos Governos Civis nas capitais de distrito por iniciativa dessa emissora radiofónica.
    Aquele espectáculo regional da Beira Baixa juntou vários agrupamentos da província cantando e tocando as modas das suas terras, entre os quais o assim designado “Bombo do Fundão (Lavacolhos)” - sic.
    Nesta actuação pública, o grupo de Lavacolhos era constituído por um pífaro, dois bombos, dois “tambores” (caixas) e dois ferrinhos. Exibiu em palco três modas regionais: “Santo Amaro”, “Dá-me um sorriso dos teus” e “Moda do Bombo”. Das pautas musicais reproduzidas no livro de Jaime Lopes Dias A Beira Baixa ao microfone da Emissora Nacional de Radiodifusão, ed. 1936, fica patente que qualquer dos três trechos musicais possui parte cantada, sendo que os dois primeiros não têm parte de pífaro nem de bombos, ou seja, eram apenas cantados. Não obstante, o grupo apresentou-se com a denominação genérica de “Bombo de Lavacolhos”, assim sendo tratado pelo locutor do espectáculo – ex.: Depois de “Santo Amaro” pelo Bombo de Lavacolhos – assim se chama este – ouvirão a canção regional “Dá-me um sorriso dos teus” (sic).
    A terceira peça é a que nos interessa nesta seara. Tem partes para pífaro, para bombo e para voz, que canta: “Ao alto, ao alto, quanto mais acima maior é o salto”, ainda hoje parte integrante da entretanto consagrada “Moda do Bombo”.
    Em 30 de Maio de 1937 ocorreu em Lisboa, como se disse, um cortejo folclórico, também organizado pela Emissora Nacional, em que o Fundão esteve representado por uma delegação de que faziam parte dois grupos de bombos: o de Silvares, composto por três bombos, três caixas, dois pífaros e ferrinhos, e outro de Lavacolhos, composto por cinco bombos, quatro caixas, quatro pífaros e ferrinhos. Esta representação foi orientada pelo Dr. José Monteiro, à altura o mais renomado estudioso da etnografia fundanense.
    A 30 de maio de 1937, o jornal “A Gardunha” dava nota da presença desses dois agrupamentos naquele cortejo de afirmação dos valores portugueses, da seguinte forma: “Decorrem neste momento em Lisboa, com pompa e vibração patriótica, as festas comemorativas da Revolução Nacional que há onze anos, agora cumpridos, reintegrou Portugal na dignidade da sua vocação histórica e restituiu a quinze milhões de portugueses a fé, a isenção e o espírito de disciplina há muito perdidos nas lutas mesquinhas das facções (...) Panorama soberbo de cores e de legendas – alegria e graça, tipicamente portuguesas, de trajos, canções, usanças e alegorias. A este espetáculo de maravilha leva também o nosso concelho um pouco da magnificente riqueza do nosso folclore: o par regional da Atalaia do Campo, de vistosa indumentária; o rancho domingueiro de camponeses do Fundão; o claro florido dos romeiros de Santa Luzia; os bombos famosos de Lavacolhos e de Silvares”.
    Lavacolhos foi ainda representar o concelho do Fundão nas festas centenárias de 1940 que tiveram lugar na sede do distrito: Lá foi o Fundão. Lá ensaiaram a pequenina riqueza das nossas indústrias locais os artífices da olaria do Telhado e da verga de Alcongosta. Lá cantaram as nossas raparigas as modas nostálgicas da sacha e da Paixão, lá foi o bárbaro alarido do bombo de Lavacolhos – palavras de Celestino Tavares Monteiro, então presidente da Câmara, in “Fundão no meu tempo”.
    Esta são as notícias mais recuadas sobre a presença do grupo instrumental pífaro/bombos no concelho do Fundão.
    Quanto aos registos sonoros gravados e publicados durante o séc. XX, são os seguintes:
    - 1939: grupo de Lavacolhos, gravado por Armando Leça;
    - 1969/70: grupo do Souto da Casa, gravado por Michel Giacometti
    - 1996: grupo do Souto da Casa, gravado por José Alberto Sardinha.
    A prática construtiva dos bombos e caixas acompanhou necessariamente a existência dos conjuntos instrumentais desta natureza, acima referidos.
    A qualidade e a evolução das técnicas construtivas são elementos impossíveis de determinar, visto estarmos a tratar de práticas artesanais, transmitidas por gerações por via oral, sem qualquer suporte escrito ou documental. Pelo que podemos observar ainda hoje, a qualidade de construção foi sempre muito irregular, dependendo do talento de cada construtor e do empenho por eles colocado na sua arte.
    Os grandes apreciadores e críticos dessa qualidade foram sempre os tocadores destes instrumentos de percussão, naturalmente os maiores conhecedores da resistência (porque de resistência se trata no que concerne aos bombos, tangidos por vezes de forma brutal) e da sonoridade que deles conseguem extrair.
  • Direitos associados :
  • TipoCircunstânciaDetentor
    Não existem direitos individuais, visto tratar-se de um património coletivo de carácter tradicional e consuetudinário.Cada construtor possui direitos próprios sobre cada peça, bombo ou caixa, que fabrica. Com a respetiva venda, os direitos são cedidos. Não há conhecimento de qualquer especificidade construtiva introduzido por algum construtor, eventualmente suscetível de conferir direitos próprios, que aliás nenhum construtor refere nem reivindica. Nomes dos construtores vivos, embora nem todos ativos, como referido: Álvaro Pires Gonçalves, Américo José Barroca Simão, António Joaquim Estêvão, António Nunes dos Santos, Domingos Afonso Atalaia Fernandes, Emílio Abrantes Figueira, Fernando Geraldes Brasinha, Fernando Laranjo Brasinha, João Faísca Barreiros e Paulo Piçarra Bernardino. Artesãos de bombos e caixas
  • Responsável pela documentação :
    Nome: Jorge André Jerónimo Carvalho Mota Veiga
    Função: Investigador na área de Património Cultural do Museu Arqueológico Municipal José Monteiro - Fundão
    Data: 2021/06/21
  • Fundamentação do Processo : ver fundamentação do processo
Direção-Geral do Património Cultural Secretário de Estado da Cultura
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